sábado, 21 de novembro de 2020

Star Wars: The Clone Wars - Temporada 7, por Eduardo Antunes


São desde logo óbvias as tribulações que o cancelamento e tardio reactivamento da série teve sobre  a sua formalização, que não esconde a esquizofrenia que a mesma sempre revelou e que, dada a sua finalização assumida, deveria aqui ter feito por combater, longe já da original ideia de uma série para crianças.

Não será isso mais óbvio que nos dois primeiros terços da temporada que, dada a escassez generalizada de episódios, ainda se faz mais sentir no ritmo e interesse da narrativa. Ao assumir novamente a sua estrutura originária de arcos narrativos menores estendidos por diversos episódios, a temporada perde o potencial de se focar inteiramente nos eventos antecedentes e simultâneos ao terceiro filme da saga com mais afinco.
É capaz mesmo de perder demasiado tempo com uma narrativa que, revelando alguns detalhes para a percepção das crescentes dúvidas de Ashoka em relação à sua antiga ordem, faz por repartir esses detalhes por entre uma aventura e personagens que acabam por ser desinteressantes e inconsequentes no restante panorama (aparte talvez uma posterior aparição num qualquer material adicional que a Disney se decida a publicar).

O maior problema desta perda de tempo sentir-se-á no arco de conclusão da série que, independentemente da existência de materiais adicionais explicativos – em que já sabemos que a Disney se apoia (em demasia) e que aqui escondem, por exemplo, o contexto do retorno de Maul após a sua captura pelo antigo mestre –, peca pela perda de alguns pormenores que fariam falta para uma transição mais suave entre os eventos da série e os do filme.
É desde logo interessante explorar eventos que sabemos que correriam em paralelo aos retratados em Revenge of the Sith, focando-se particularmente nas personagens de Maul e Ashoka no confronto maior existente no planeta de Mandalore. Mas esse mesmo confronto, com um vasto e interessantíssimo historial na série e após as expectativas criadas para o remate do mesmo (inclusivamente após a revelação das consequências na recente The Mandalorian), acaba por não revelar inteiramente as consequências no planeta e sua população, como o já conseguira fazer anteriormente na série com grande destaque.



Ao mesmo tempo, são esquecidos quase por inteiro os restantes protagonistas na base da série e da segunda trilogia de filmes, nomeadamente Anakin e Obi-Wan, que recebem tempo de ecrã quase nulo na dúzia de episódios que compõe a temporada. Se o destaque iria sempre para as histórias das personagens ausentes dos filmes, a ausência de Ashoka dos filmes não negava o acompanhamento dos dois restantes protagonistas da série, mesmo que em meno tempo. Sendo assim, funciona a temporada como final da história de Ashoka (até ao seu revisitar, cronologicamente, em Rebels), mas enquanto finalizar da série como um todo falha precisamente na sua dependência do filme em paralelo. 
Percebendo o público as dúvidas de Anakin levantadas sobre o tratamento de Ashoka pelo Concelho Jedi, não passa isso de uma fala quase descartável, que falha numa transição satisfatória dos elementos que a série apresentou para o filme adjacente, que seria sempre difícil mas não impossível de concretizar.

Se Ashoka (face o seu entendimento do descontentamento da população para com os Jedi) tivesse tido uma última discussão com o seu mentor sobre a posição do Concelho Jedi em todo a guerra, todo o posterior questionamento de Anakin seria ainda mais reforçado entre a posição conservadora mas ingénua de Obi-Wan e a mais sábia da aprendiz que necessitou desligar-se daquele mundo para aprofundar a sua visão sobre o mesmo. Para além disso, serviria essa possível discussão entre ambos como uma explicação plausível para a não referência no filme da Jedi abandonada e contribuiria ainda mais para o fatídico entendimento de Anakin do que parece, de facto, ser a traição dos valores dos Jedi (justificando até a trágica última cena da série).
Em vez disso, a última vez que vemos Anakin antes do que será a sua tentação por Sidious é num agradável diálogo com a sua aprendiz que, apesar das dúvidas para com a sua expulsão, deixa-nos na expectativa de ter recebido material adicional para colmatar mais a transição algo repentina de Anakin em Revenge of the Sith. Fossem mais momentos de questionamento, ou mais actos inprudentes da parte do suposto Escolhido, teria sido necessário mais tempo com a personagem nesta temporada.



Nada disto seria particularmente relevante na nossa apreciação da temporada, se a mesma não limitasse o arco "final" (nesta série, ao menos) de Maul às suas premonições relativamente a Anakin. Apesar do foco na batalha em Mandalore, estamos constantemente a ser lembrados do que sabemos estar a ocorrer (como seria esperado), ainda que só entendamos a cronologia conjunta por um ou outro holograma expositivo, ou uma qualquer sensação através da Força.
Ainda assim, é precisamente aí que o acompanhamento de Maul se torna particularmente interessante, já que, mais do que um aprendiz em busca de se vingar do mestre que o traiu, é no preciso conhecimento do plano de Sidious para o futuro da galáxia que também inicia a compreensão – em paralelo com Ashoka no espectro oposto – de qual deve a sua posição ser perante o estado em que a galáxia permanecerá.

A verdade é que, toda a disjunção e falta de coerência entre os diversos arcos da série deve-se à esquizofrenia na base da mesma que, originalmente criada com um público juvenil em mente (patente no próprio estilo de animação empregado), foi-se adaptando para o público de maior idade que buscavam alguns dos temas, ideias e/ou personagens surgidas dos filmes que serviram de prequelas à trilogia original de Lucas. Assim, nota-se mesmo que, se no início mantém o tom mais juvenil iniciado no filme de 2008, o final apresenta já uma maturidade surpreendente, desde logo patente nos créditos iniciais num sinistro vermelho e continuada com a brilhante música de Kevin Kiner, que em certos momentos nos relembra mais Blade Runner que Star Wars (oiça-se o exemplo mais abaixo).



Percebe-se assim que houve uma total dedicação renovada na elaboração desta última temporada, que se denota logo pelo estilo de animação que, das restantes temporadas, recebeu uma melhoria clara, seja na camada extra de textura que as personagens recebem, assim como um redesenho mais caracterizado e vívido. Note-se até na existência de um redesenho mais ameaçador da personagem de Grievous para esta temporada, visível por apenas um segundo, que deixa no ar o potencial de ver representado o rapto de Palpatine que nunca vemos no filme, e que tinha já sido retratado na anterior mini-série de animação.
Não ganha esse esforço maior destaque que no duelo final entre Ashoka e Maul, prometido logo no trailer como um dos momentos de destaque da temporada, em que não hesitaram em capturar o desempenho do actor que interpretou originalmente Darth Maul em The Phantom Menace para lhe oferecer uma maior fluidez e veracidade. Ajuda isto a enaltecer a semelhante posição em que se encontram ambas as partes, deixados de lado pelas suas respectivas crenças e ídolos, nem pondo Ashoka imediatamente de parte a oferta do antigo Sith.

É por tudo isso pena que, após tantos anos de espera por esta temporada, não tenha sido possibilitada uma revisão maior de como esta se formalizaria. Se o intuito seria sempre terminar num arco contínuo mais acentuado, dada a ligação mais clara com o terceiro filme das prequelas, a mesma deveria ter sido pensada como um todo e não uma amálgama de restícios de ideias anteriores. Fica a satisfação de um final bem feito, mas o tédio de, após tantos anos, ainda termos tido que esperar vários episódios antes de recebermos o merecido.



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