terça-feira, 18 de agosto de 2009

Nunca é tarde demais para amar, por Carlos Antunes

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Título original: Wolke Neun
Realização: Andreas Dresen
Argumento: Andreas Dresen e Jörg Hauschild
Elenco: Ursula Werner, Horst Rehberg e Horst Westphal

Quando primeiro assistimos à vida sexual um pouco desajeitada, destas personagens idosas, dá-nos quase vontade de rir.
Mas logo depois envergonhamo-nos ao ver a honestidade, a despreocupação e o bom humor que eles imprimem ao sexo.
É um choque repentino, não pelo despudor frontal com que assistimos a esta vida sexual, mas pela evidência com que nos chega a força e o conforto dela.
Mas aquilo que nos começa por parecer uma história de desejo sexual intenso, ganha uma outra dimensão à medida que nos apercebemos da seriedade dos sentimentos que regem esta história de amor.

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Esta história de amor que se torna, precisamente, mais urgente pela idade dos protagonistas, por saberem perfeitamente que já não têm tempo para se sujeitarem a não viver a felicidade que ainda encontram.
E que se revela de enorme coragem quando o envolvimento é com a incerteza de um homem mais velho e, necessariamente, com menos esperança de vida.

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Só que nenhuma história de amor está livre da dor.
A dor da escolha de Inge, dividida entre a escolha entre a vida estável e rica que viveu até aí e a paixão reencontrada depois de muito tempo.
E a dor daquilo que resultará invariavelmente trágico na sua escolha.

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Tal história de amor é contada com uma beleza terrena, sedeada no quotidiano mas querendo escapar dele.
Basta atentar no coro em que a protagonista está inserida e que vai cantando temas que parecem o anúncio de um Coro Grego durante uma tragédia.
Há uma paz incrível naquilo que vemos, uma paz interrompida pelo drama próprio de uma história assim, mas uma paz que vem da própria forma como estas personagens vivem o que sentem.

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Personagens magnificamente interpretadas – vividas seria mais apropriado – pelos três actores que se entregaram com notável sinceridade e determinação a tal história.
Eles contribuem para a destemida e determinada experiência que é este filme, um bom choque para os tempos actuais que querem reduzir os idosos a uma púdica e modesta sexualidade.


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