Traidor, por Carlos Antunes

Título original: Traitor
Realização: Jeffrey Nachmanoff
Argumento: Jeffrey Nachmanoff e Steve Martin

Elenco: Don Cheadle, Guy Pearce, Saïd Taghmaoui e Neal McDonough

O que mais surpreende em Traitor é a sua calma, a forma como mesmo nos momentos de maior tensão não cede a nenhum fervor desmedido mas antes continua a demonstrar placidamente que a vida real está mais perto daquele desenrolar anti-climático do que de uma acção intensa.

Para um thriller é um efeito curioso, tão curioso quanto eficaz para o distinguir da maioria dos filmes do mesmo género que têm vindo a explorar a luta contra o terrorismo.
Este thriller, aliás, acaba por ser um dos que melhor retrata ambos os lados do conflito e o debate – moral, humano e pessoal – que vivem aqueles que estão emparedados entre as duas facções, seja por escolha pessoal ou por obrigação profissional.

Traitor não se rende, não descola da sua personagem central, não deixa que os acontecimentos levem a melhor sobre o interesse pessoal dos acontecimentos.
O homem que aqui centra em si todo o conflito, que tem de tentar apaziguar e satisfazer ambas as facções enquanto tenta vencer o conflito para o lado que parece menos comprometido e, por isso, mais justo.

Pois lá está, a luta não deixa espaço para uns concretos “bons” e “maus”, por mais que isso mesmo pareça.
Aqui os conceitos estão misturados como as próprias personalidades individuais que cruzam o caminho de Don Cheadle.

Don Cheadle que é, aliás, a grande mais valia deste filme, em mais um sólido mas discreto papel de protagonista que o manterá entre as caras reconhecidas mas um pouco anónimas.
Uma verdadeira injustiça, pois é um dos grandes actores de totais versatilidade e transversalidade à Indústria.

Isto leva a que Traitor se torne num daqueles filmes que consegue tornar-se singular no seio de uma tão explorada temática e isso é a sua grande façanha.