sábado, 5 de setembro de 2009

A Lei do Desejo, por Tiago Ramos



Título original: La ley del deseo (1987)
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Eusebio Poncela, Carmen Maura, Antonio Banderas, Miguel Molina e Fernando Guillén

Para quem quer conhecer a obra de Pedro Almodóvar além dos filmes recentes e reconhecidos, este A Lei do Desejo é um filme essencial. Aqui, o cineasta cria um ensaio sobre o Amor e a Obsessão, onde actos irreflectidos (criminosos até) podem ser justificáveis perante a motivação de quem os comete.



Temos um Almodóvar ainda em estado bruto e por isso, absolutamente livre de todos artifícios que o celebrizaram. Porém todas as características que tornam as suas obras singulares estão exageradamente (no bom sentido) presentes ao longo de toda a trama, que assume contornos de thriller. Chocante para a altura em que foi exibido (não esqueçamos que o filme data de 1987), Pedro Almodóvar assume de imediato a sua capacidade e intenção propositada de chocar e causar polémica.

Em A Lei do Desejo existe o universo kitsch, as cores garridas, as personagens bizarras e movidas pela paixão, um argumento com grandes reviravoltas e uma banda sonora rica e com canções marcantes (veja-se a versão de Ne Me Quite Pas, da cantora Maysa). Mais uma vez, o filme é recheado de referências biográficas do realizador, como a própria utilização da figura de um cineasta ou a referência à homossexualidade.



Carmen Maura brilha em todo o filme, no papel de um transexual, que longe de ser afectado e estereotipado, revela grande subtileza, sensibilidade e feminilidade, sem parecer demasiado frágil. Mas também um Antonio Banderas, no início da sua carreira, amoroso, psicótico e obsessivo que revela uma outra faceta do seu trabalho de actor que, sinceramente, já havíamos esquecido.



Este é um dos trabalhos mais interessantes do realizador que transporta o espectador para um universo promíscuo, obsessivo e ciumento, como apenas Pedro Almodóvar sabe fazer.

Classificação:



6 comentários:

  1. espero poder ver um dia esse. não o acho em DVD por aqui

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  2. Estou de acordo. É um bom filme: a sempre imprevisível narrativa avança no melodrama e no retrato de um mundo de drogas e de liberdade sexual e Almodóvar mostra-se então talentoso e artisticamente seguro nas mais variadas técnicas a que recorre. Grande Carmen Maura.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  3. 1º Aniversário do CINEROAD!
    Este blogue recebeu um agradecimento especial!
    Obrigado!

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

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  4. Jeniss Walker,
    Aqui em Portugal também foi há muito pouco tempo que este filme (e outros mais antigos de Pedro Almodóvar) foram editados em DVD. Mas vale a pena.

    Roberto F. A. Simões,
    Carmen Maura é uma excelente actriz que dá muito de si em cada filme do cineasta. E este filme marca o início do estilo que Almodóvar acabou por seguir até ao momento.
    E já agora obrigado pelo agradecimento!

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  5. Não era chocante para a época; engraçado perceber, nos dias que correm, que são mais chocantes (ou noticiam-se como tal) filmes como "Homme au Bain" ou outros do que este na altura. Os tempos, em determinadas coisas, retrocederam. E de que forma.
    Excelente texto Tiago!

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  6. Curioso falares nisso... De facto, pensava que era visto como chocante, mas tens razão. Mais facilmente hoje se consideram chocantes algumas temáticas, que antigamente. Acho até que, de certo modo, as mentalidades eram mais abertas.

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