sábado, 14 de novembro de 2009

O Dia da Saia, por Carlos Antunes

http://scarletpoetions.files.wordpress.com/2009/06/01899894-photo-affiche-la-journee-de-la-jupe.jpg

Título original:
La Journée de la jupe
Realização: Jean-Paul Lilienfeld
Argumento: Jean-Paul Lilienfeld

Elenco: Isabelle Adjani, Denis Podalydès e Yann Collette

O tema de La Journée de la jupe é o da fractura do tecido social e educacional francês. Tal como em A Turma, mas inversamente, apaga o realismo para originar a discussão pela extrapolação da situação-limite. Assim encontramo-nos repentinamente perante um thriller tenso onde a causa única é social. Uma professora que um dia vê a sua bolha de medo e anti-depressivos estoirar quando tem uma arma na mão. Ela não é uma ameaça, ela é o ponto de escape das ameças que representam os alunos que tenta ensinar. Essa noção será, aliás, fonte de boa parte da tensão vivida para com o lado de fora da sala. Há humor a temperar o intenso drama, há uma sensação de cativante de imersão nos eventos.

Quem quiser deixar-se levar pela trama, sem se atirar à reflexão, poderá fazê-lo. Mas quem quiser analisar os pormenores que vão surgindo compreenderá o poder do comentário social. De como o isolamento de uma comunidade a levará a assumir uma atitude de domínio e manipulação para com aqueles que com quem ela têm de interagir. De como a subjugação daqueles interagem com essa comunidade para evitar serem mal tratados é fonte de menorização e não de aceitação. De como, finalmente, se desculpabiliza essa comunidade

http://www.lexpress.fr/medias/242/la-journee-de-la-jupe_487.jpg

Não é uma questão de atribuição de culpas, mas da constatação de que há demasiadas ideias erradas a servirem de engrenagens à relação social. Por isso mesmo há alunos a mudarem a sua percepção e a sua "lealdade" ao longo do sequestro. Por isso mesmo esta professora cala aquilo que lhe poderia ter valido de salvação perante os seus alunos, defendendo a escola laica e a elevação do professor à condição, apenas, de professor.

http://a10.idata.over-blog.com/500x333/1/44/08/71/IMAGES-WEB-3/journee-de-la-jupe-isabelle-adjani.jpg

O filme é todo ele uma soberba interpretação de Adjani, uma actriz fabulosa que faz do sequestro o retrato do sequestro pessoal que vivera até aí. O que ali sucede é a resposta aparentemente possível - embora muitos possam falar de exagero - ao que sucedeu antes. Mas Adjani dá-lhe plausibilidade e emoção, dá-lhe um recheio, dá-lhe fascínio, dá-lhe plenitude. Ela é a súmula das divergências de poder.


La Journée de la jupe é um falso entretenimento, uma reflexão disfarçada. O peso daquilo que contem debaixo da sua capa não é disfarçável, mas fica retido na nossa mente insinuando-se debaixo da sua capa mais americanizada. Um poder que o Cinema deve ter mais vezes.



http://www.linternaute.com/cinema/image_diaporama/540/la-journee-de-la-jupe-41884.jpg

4 comentários:

  1. Um filme inesquecível, não só pela interpretação da Adjani. Uma crítica inspiradíssima e inesquecível, não só pela sua acutilante análise.

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  2. Queria comentar o post de "Deus Não Quis", mas não consegui... Eu vi a curta num festival "Galaicoportugês" de curtas e gostei imenso. Gostava de poder ver de novo, aquela versão da Laurindinha do filme anda-me na cabeça desde então. Boa semana para vocês :)

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  3. Queria comentar o post de "Deus Não Quis", mas não consegui... Eu vi a curta num festival "Galaicoportugês" de curtas e gostei imenso. Gostava de poder ver de novo, aquela versão da Laurindinha do filme anda-me na cabeça desde então. Boa semana para vocês :)

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  4. Ah, puxa vida! Li vários comentários sobre o filme e este sintetiza com perfeição a minha opinião sobre ele.
    Interessante isso de que Sonia pode ser vista como culpada, mas tb como vítima.
    Filme obrigatório (não só) para professores.

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