quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nove, por Tiago Ramos



Título original: Nine (2009)
Realização: Rob Marshall
Argumento: Michael Tolkin e Anthony Minghella
Elenco: Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Judi Dench, Kate Hudson, Sophia Loren e Stacy Ferguson

O musical está de volta desde que o audacioso Baz Luhrmann decidiu colocar na ribalta o género adormecido com Moulin Rouge! (2001). Contudo e apesar de ser um sucesso de crítica, das 8 nomeações para os Óscares, apenas levou para casa dois Óscares técnicos: Melhor Direcção Artística e Melhor Guarda-Roupa. É sobretudo Rob Marshall que, em 2003, recolhe os créditos dessa coragem. Chicago (embora curiosamente dividindo a crítica) conseguiu vencer 6 dos 12 Óscares, inclusive Melhor Filme.



Nine é a nova incursão de Rob Marshall no género musical. De produção e elenco portentoso, o filme é adaptado de uma produção musical da Broadway, essa sim inspirada em , de Federico Fellini. Aqui entramos no universo do Cinema. Não o lado glamouroso, não a pós-montagem, não a obra. O que vemos aqui é a pré-produção, o processo criativo daquela que se pretendia a confirmação do cineasta Guido Contini como grande artista, após dois flops (termo usado pelo próprio) de crítica. Onde estamos é precisamente na mente do cineasta num conturbado processo criativo, uma crise de inspiração, um sofrimento por ideias que não fluem, mediante a pressão extrema dos produtores, da imprensa, dos actores e dos fãs. Todos esperam uma obra-prima, esperam uma obra que revolucione o mundo do Cinema. Mediante isso, Guido Contini vive num frenesim contínuo, enquanto enfrenta uma crise inspiracional e de idade (fisicamente velho, mas com uma mente infantil).

Rob Marshall efectivamente sabe o que faz, especialmente no que diz respeito à introdução das sequências musicais no meio do filme, muito bem coreografadas e estilizadas, que respira um certo classicismo e uma noção de espectáculo por vezes avassaladora. Contudo, os erros cometidos em Chicago pelo realizador ocorrem igualmente em Nine. A narrativa linear, embora simples de acompanhar e por isso serve objectivamente à função de entretenimento, acaba por fazer perder a carga espectacular (tanto dramática como mais cómica) como poderíamos esperar. A velocidade da própria história diminui a importância ao argumento e às personagens, fazendo com que percam carga emocional. Um subaproveitamento do elenco de luxo.



Nine é um filme de actores como se pode ver pelo elenco de luxo. Mas é sobretudo Daniel Day-Lewis quem o carrega às costas, num desempenho excelente, neurótico e desconcertante. Uma personagem complexa e madura emocionalmente e narrativamente com uma interessante atracção pela figura da mulher, que denota um Complexo de Édipo mal resolvido na infância. O actor respira o musical como poucos e revela-se uma das melhores escolhas de casting do filme. Na vertente feminina, o maior destaque vai para a brilhante prestação de Marion Cotillard, uma mulher destroçada, mas doce, cheia de momentos emocionais principalmente o seu desempenho musical em My Husband Makes Movies. Sequencialmente, as personagens de Kate Hudson e Fergie (surpreendentes escolhas de qualidade) têm a seu cargo as melhores canções do filme: Cinema Italiano e Be Italian. Por seu lado, Penélope Cruz confirma a sua versatilidade numa divertida personagem, Nicole Kidman mantém a sua pose aristocrática de musa, Sophia Loren basta-lhe a mística e Judi Dench, enquanto confidente, mantém o seu habitual talento. Lamentável, contudo, o subaproveitamento destas actrizes, cuja importância e aparecimento na tela é tão diminuta.


Tecnicamente a montagem de Claire Simpson (O Leitor) e Wyatt Smith é dos pontos mais fracos do filme. O ritmo acelerado e a montagem demasiado abrupta contribuem para não mais que um sentimento de tolerância em relação a um filme que poderia ser muito melhor. Musicalmente, as canções de Nine são fracas. Não existe dramatismo nem espectacularidade suficientemente, à excepção de Cinema Italiano e Be Italian. Por vezes o ritmo arrasta até ao cansaço e isso prejudica notavelmente aquilo que se espera de um filme musical. Esse potencial poderia ter sido muito melhor explorado.

Contudo, Nine não deixa de ser um filme agradável, com um grande sentido de entretenimento. É divertido e razoável, um excelente caso de amor ou ódio e uma fotografia primorosa da autoria de Dion Beebe (Chicago) Não deixa contudo de ser uma respeitosa homenagem aos filmes italianos de 60 e 70 e especialmente a de Federico Fellini na sequência de créditos final. Contudo, não deixamos de sentir um ligeiro desagrado e a certeza que Rob Marshall podia ter feito melhor.



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