quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Livro de Eli, por Carlos Antunes


Título original: The Book of Eli
Realização: Albert Hughes e Allen Hughes
Argumento: Gary Whitta
Elenco: Denzel Washington, Gary Oldman e Mila Kunis

O Livro de Eli é um filme a exigir descrição, a capacidade de sugerir sem confirmar.
Mas nem cinco minutos passados do filme - e com um encontrão contra uma mesa - o protagonista revela a sua condição, deixando tudo o que se segue à mercê de um público atento e disposto a enfrentar o filme com um espírito interrogativo. Para esse público, o filme é previsível e desinteressante.
Mas admite-se, obviamente, que haja público que é apanhado de surpresa até ao fim do filme, embora esse caso pareça muito mais raro que o anterior.


Eis um filme pós-apocalíptico baseado na ideia interessante mas já sem nada de novo - por isso mesmo, sem nada de radical - de que só a Bíblia pode servir como arma derradeira de agitação da violência de um grupo de pessoas, bem como de controlo delas.
A perseguição que é feita ao livro não tem, no entanto, consciência da importância que o homem assume perante esse mesmo livro.
O livro não tem valor por si mesmo, afinal, é preciso saber utilizá-lo.


Com uma fotografia e algumas cenas de acção estilizadas, associadas à conquista fácil do carisma de Denzel Washington, o filme não aborrece em demasiada o espectador.
Mas tendo deixado de o desafiar logo no início, tornando evidente o destino do protagonista e do livro que tenta proteger, o filme também não conquista o espectador.
O caminhar para o derradeiro elemento de que não é a Obra mas o Homem que sobrevivem, que não é Deus mas o Homem que ainda é relevante num mundo assim, resultaria se tudo o que aqui é supérfulo desaparecesse.
Numa curta-metragem apontada directamente à conclusão da essência da história teria resultado bem. Assim, tudo se arrasta um pouco.


Os irmão Hughes parecem saber escolher o material de origem - veja-se a graphic novel From Hell - e têm certamente ideias de estilo que aplicam com desenvoltura.
Mas os seus filmes teimam em não resultar no conjunto, empobrecidos por uma manipulação errada da narrativa - do ritmo e da estrutura.
Espera-se que, mais filme menos filme, acertem, sobretudo porque parecem estar a desenvolver a próxima versão de Akira.



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