segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Teta Assustada, por Carlos Antunes


Título original: La Teta Asustada
Realização: Claudia Llosa
Argumento: Claudia Llosa
Elenco:
Magaly Solier, Susi Sánchez e Efraín Solís

A doença da Teta Assustada é um extraordinário mito para assinalar as pessoas que nascem para viver eternamente em receio.
Medo ao ponto de viver com uma batata enfiada na vagina para evitar ser violada como as mulheres das histórias que a sua avó lhe contava.
O medo é impalpável, injustificado, irreal. No entanto as suas consequências não o são. Fausta vive psicologica e fisicamente manietada por histórias da mulher que tomava conta dela.


Só quando ela canta é que o seu mundo parece serenar. Inventa os seus próprios mitos, estranhos, irrepetíveis. Histórias de embalar para si própria.
Nem elas a salvam do medo, claro. Um medo que lhe foi dado, não pelo leite materno, mas pelas palavras da avó de quem ela não admite livrar-se, nem depois de morta.
Não importa que seja a avó que lhe tenha originado o medo, é também a avó a única constante que ela tem num mundo desconhecido.


Um mundo que não a deixará fugir mais quando ela começa a trabalhar. E é essa necessidade de partir para o mundo que toma Fausta de assalto, que a faz guardar o que é impossível de permanecer com ela.
Estamos perante um filme sobre a passagem à idade adulta ou, no mínimo, a passagem à idade da independência.
Neste mundo as sobras da sua meninice farão com que ela enfrente, finalmente, um receio verdadeiro.
As suas histórias de embalar são compradas mas ela própria e traída e desertada. Quando ela se julgava segura, tendo achado um jardim fechado neste mundo do qual ainda nada tinha vivido, aprendeu logo que não há mais esconderijos como o colo da sua avó.
E assim Fausta aprende que não há batatas nem cantos que impeçam o mundo de chegar.


A sensibilidade de Claudia Llosa é impressionante. Os traços delicados da sua composição, o seu onirismo discreto, o seu realismo mágico, são todos sentidos e, por isso, transmissíveis na sua peculiariedade.
Claudia Llosa escreve uma série de versos que, no entanto, ainda buscam uma ligação mais serena e mais flúida.
Este é o seu esboço de um futuro poema. Sendo apenas o seu segundo filme é a promessa de um futuro que não deverá passar ao lado do público.



5 comentários:

  1. Gostei da crítica mas tenho 2 aspectos a assinalar: se não me engano, a senhora do início do filme é a mãe e não a avó e, além de tudo o que foi referido (e bem), falta dar destaque à belíssima interpretação de Magaly Solier...

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  2. Vou fazer a emenda, obrigado.
    Baralhei a relação, nem sei bem porquê.

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  3. Re-correcção:
    http://www.imdb.com/name/nm3829555/

    No IMDB a actriz que aparece no início a cantar é apresentada como Abuela, portanto deve ser mesmo avó... Sendo assim os meios de divulgação portuguesa é que passaram mal a mensagem...

    Afinal parece que estava correcto... Peço desculpa pelo erro mas em quase todos as sinopses aparece como sendo a sua mãe e durante o filme (penso que) não existe nenhuma referência concreta a isso...

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  4. Olha realmente nunca tinha pensado nisso... mas quase que podia jurar que ouvi referências a ela como mãe.

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