quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ondine, por Carlos Antunes


Título original: Ondine
Realização: Neil Jordan
Argumento: Neil Jordan

A verdadeira fantasia será assim, a possibilidade de confundir a realidade com a imaginação.
Crer em algo impossível num cenário que poderíamos explicar se quiséssemos realmente reflectir.
Escolher, então, não reflectir sobre ele é o poder que a fantasia deve ter sobre nós.


Ondine é essa maravilha de filme, com as suas imperfeições a adicionarem-lhe charme e carácter.
Um filme de fantasia com muitos géneros dentro que cultiva a personagem da Irlanda mergulhada em nevoeiro, espaço de pequenas ilhas encantadas para inspirarem poemas.


O pescador vivendo dificuldades, como todos os pescadores no presente, pesca uma mulher.
Uma sereia, tudo leva a crer. Impossível, claro, mas sucessivamente plausível, sobretudo da forma como nos conduz Neil Jordan.
A mulher que pode ter sido salva involuntariamente associa-se, por razões inexplicáveis, à boa sorte de Syracuse e da sua filha de 10 anos.
Se ele começa a abrir a mente à hipótese desta mulher que pescou ter, pelo seu canto, algo mágico, a sua filha investiga já as lendas que explicam todos os acasos de Ondine, incluindo o homem que a busca na aldeia.


A crença dura, como se Neil Jordan quisesse provar que podemos viver com fantasias e, ainda assim, ser funcionais num mundo avesso a tais coisas.
Quando o filme, inevitavelmente, nos faz retornar à realidade, é-nos indiferente que Ondine não seja Ondine, pois nós já a marcámos com a ideia da sereia que ela é num contexto racionalizado.
O filme conseguiu fundir a realidade e a possibilidade. O filme conseguiu criar o Fantástico.

Os seus actores, Colin Farrell e Alicja Bachleda são personagens de corpo inteiro com espíritos fugidios.
São esquivos porque o mundo os fechou dentro de si mesmos, mas sendo esquivos guardam o mistério que torna memórias em lendas.
O filme é uma prenda à sorumbática realidade moderna, uma prenda do que poderá sempre ser, se assim o deixarmos progredir.


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