quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Preço da Traição, por Carlos Antunes


Título original: Chloe
Realização: Atom Egoyan
Argumento: Erin Cressida Wilson e Anne Fontaine
Elenco: Julianne Moore, Amanda Seyfried e Liam Neeson

Uma complexa relação a três com o dinheiro e a atração a confundirem-se, deixando a nú as dificuldades de viver em conjunto.
Uma complexa relação dominada pela criação e a interpretação de palavras. Palavras lidas e palavras escutadas, palavras apontadas à reverberação nos cinco sentidos.
Palavras que engodam os envolvidos e os impedem de ver a verdade. A verdade sobre o que cada um dos outros retira e coloca na relação.
Não logo a verdade sobre como se manobram os factos, não logo a verdade sobre o que levará ao desfecho do filme. Tal é bem menos importante do que a análise às relações por via do seu traço mais evidente mas também mais calado, o sexo.


As relações deste filme são um ardiloso enredo de inseguranças e de perdições, de solidão e de carências.
Vivendo por intermédio de pequenas farsas o que já não se consegue conquistar. Vivendo por intermédio dos outros o que se tem medo de conhecer.
A insegurança no cônjuge deflectindo a falta de relação com a sua própria existência afectiva e sexual.
A atração ilícita reflectindo o desejo de entrega incondicional de quem sempre escondeu a alma na venda do corpo.
Logros que lançam a si próprios sem saberem como atraiem também os outros a caminhos indesejados.


Dois momentos essenciais do argumento prejudicam o efeito do filme, revelando - ainda mais do que o título português muito mal escolhido - a essência do desenlace da história.
A cena inicial, um monólogo evidente que denuncia a construção da personagem que dá nome ao filme.
A cena do primeiro contacto entre as duas mulheres, artificial e, por isso mesmo, suspeitosa.
As revelações do filme não são aquele pequeno desvio de sabor a thriller, são as das relações humanas. Mas estas cenas forçam o olhar para esse sentido mais catalogável de Chloe.


Atom Egoyan teria deixado a sua marca com mais um filme muito conseguido sobre a conflituosa relação humana com o sexo não fossem esses percalços.
O realizador é exímio em manipular o olhar, a expectativa de uma cena para lá do óbvio.
Sobretudo tendo ao seu serviço duas verdadeiras actrizes e um actor obrigado a ser discreto mas nem por isso menos marcante.
Mas a história ao seu serviço é bem menos adulta e bem menos ousada (sobretudo nos múltiplos significados) do que aquela que a inspirou - falo de Nathalie de Anne Fontaine - e prejudica a visão global do seu trabalho.


Assim ficou a expectativa do que teria sido. Usando a metáfora sexual, ficou a provocação sem que se concretizasse o acto.
Um filme a caminho de ser memorável - como Exotica, o filme a que toda a restante obra de Egoyan estará submetida - mas nunca lá chegando.



1 comentário:

  1. Achei beeem fraco. Eu daria duas estrelas, mas... Continuo achando que esses remakes atuais são mais do que desnecessários.

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