sexta-feira, 4 de março de 2011

Fantasporto 2011: Dia 5 e 6 (Secção Competitiva)

Na quarta-feira, a noite de cinema no Fantasporto foi bastante apreciada pelo público. Da nossa parte, a selecção do Grande Auditório para esse dia já a tínhamos visto: Carancho e Bedevilled, cujos comentários podem ser lidos na cobertura do dia 4 e dia 3 do pré-Fantas, respectivamente. Esta quinta-feira foi um dos dias que mais encheu o Grande Auditório do Rivoli: um filme francês e um espanhol foram o motivo.

Micmacs à tire-larigot (2009), de Jean-Pierre Jeunet

É complicado Jean-Pierre Jeunet desiludir muito quando tem liberdade criativa para fazer aquilo que melhor sabe. O seu mais recente filme após Un long dimanche de fiançailles (2004) é inconsequente e divertido. Entretenimento puro, com uma história simples e de quase justiça poética. Não há muito a dizer sobre um filme que sabe aquilo que é e não exige mais. É provavelmente o seu filme mais simples, mas ao mesmo tempo fácil na gargalhada e no sorriso. com uma sucessão de personagens caricaturais num show de bizarrices. Além de uma fotografia excelente de Tetsuo Nagata, temos um elenco de luxo, muito expressivo e competente, com especial destaque para Dany Boon (Bienvenue chez les Ch'tis) e Julie Ferrier (Paris). No final tende um bocadinho para o moralismo fácil, mas mesmo assim é um filme que vale a pena.

Camino (2008), de Javier Fesser

Camino chega tarde a Portugal. Em 2008, o filme ganhou seis prémios Goya, os mais importantes do cinema espanhol, entre os quais Melhor Filme e Melhor Realizador. É um filme intenso, comovente e bastante crítico da Igreja Católica, mas especialmente da Opus Dei. A facilitar sempre o sentimentalismo e o melodrama, consegue cativar o espectador e comovê-lo, ora pela sua força, ora pela sua sensibilidade, ora pelo seu ambiente depressivo, ora pelo ambiente alegre e bem disposto, ora pela genialidade com que faz algumas analogias e simbolismos. Com uma bela fotografia, efeitos especiais e visuais fantásticos e uma banda sonora cativante, Camino é a prova de como a indústria cinematográfica espanhola tem muito para dar em vários campos. Especial destaque para a revelação da jovem actriz Nerea Camacho. Obviamente que não é uma obra perfeita: a música às vezes é demasiado alta para determinadas cenas e sofre de uma tendência para a lágrima fácil, mas especialmente para a manipulação do espectador, tanto no bom sentido, mas também no mau. É um filme que vai pela crítica directa a uma entidade, sem dar oportunidade ao espectador de julgar por si mesmo. Contudo e também por razões de carácter pessoal, este é um dos filmes que mais me impressionou durante o Fantasporto.

2 comentários:

  1. Concordo quase inteiramente com a tua avaliação, Tiago. A espaços, "Camino" confunde-se com um melodrama demasiado preocupado em puxar a lágrima do espectador. Mas é, sem dúvida alguma, uma grande obra do cinema espanhol (mais uma). Os elementos de fantasia são assombrosos e é extraordinária a forma como tudo se encaixa perfeitamente no final. Só me custa a acreditar que o filme seja de 2008. Cada vez me convenço mais que as distribuidoras portuguesas andam a dormir à sombra da bananeira...

    Rui Madureira
    Portal Cinema

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  2. Sim, concordo. É um filme fantástico mesmo, em todos os sentidos. E é muito triste que tenha demorado tanto tempo a chegar. Espero que não aconteça o mesmo com "Pan Negro".

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