domingo, 10 de abril de 2011

Rango, por Carlos Antunes


Título original: Rango
Realização: Gore Verbinski
Argumento:
John Logan
Elenco (vozes): Johnny Depp, Isla Fisher e Timothy Olyphant

Os trailers de Rango prometiam um filme de animação existencialista própria para um público adulto.
Comédia tresloucada e despudorada, absurda e inconsequente talvez, mas definitivamente inigualável entre a produção actual.
O filme não é bem como os trailers, traindo as expectativas que gerou de forma consciente, e por isso os seus criadores têm de ser responsabilizados por tal desvio.


Não é que o filme esqueça totalmente o que está nos trailers, algo que seria impossível.
A primeira metade do filme é, de facto, toda ela um fascinante delírio, onde se persegue a viagem de um camaleão através do deserto - real e da sua existência - que vai da estranheza da sua redoma solitária e cheia de ilusões até ao papel ficcional de herói com um propósito numa aldeia desesperada para aclamar alguém, mesmo assim inapto.
Com passagens pelo jogo de confluências e significados que é o cruzamento de Johnny Depp com Johnny Depp, mais precisamente, de Rango com Raoul Duke.
E aquela primeira metade de filme podia ser uma brincadeira própria para famílias traçada por Hunter S. Thompson.


Depois vem o western. Não tem o mesmo interesse do que veio antes, ou até terá mais se pensarmos que estamos no campo de união do público adulto e jovem.
Mas, por vir em segundo lugar, causa uma cisão com o plano de entendimento em que se colocou o filme até aí que nem mesmo aquele encontro com o "Espírito do Oeste" - uma outra citação de que não se pode falar para não comprometer a surpresa - consegue unir devidamente.
A segunda metade é mais pacífica e abrangente. Continua a ter a citação de outro cinema no seu estilo, mas a sua história é simples (e já vista) demais para o público mais adulto.


Com isto vale a pena não esquecer que é na segunda parte da história que estão os melhores elementos visuais, aqueles que melhor fazem jus à utilidade da animação.
As personagens, mesmo as que têm aparições brevíssimas, são magnificamente criadas. O seu visual é fantástico e fascinante.
É um dos filmes que faz valer as suas cores e os seus detalhes. Um filme que ainda enche a tela.
E acompanha isso com uma banda sonora que é igualmente divertida e repleta de detalhes a merecerem atenção redobrada.
É tudo um jogo de criação e imaginação, apenas um pouco manietado por uma necessidade de percorrer, ainda, campos bem classificáveis.
Na estranha avaliação da soma das parte, Rango fica como bom entretenimento, um filme de alguma coragem e inconvencionalidade, que se distingue do restante que está nas salas. Mas, mesmo assim, um filme que não satisfaz por completo.
Possa, pelo menos, incentivar os estúdios a darem mais hipóteses à diferença entre a produção animada. O público - todo o público - agradece.



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