domingo, 28 de agosto de 2011

Rumo à Liberdade, por Carlos Antunes


Título original: The Way Back

O filme abre com o anúncio de que, em 1941, diversos homens caminharam em direcção à Índia ealguns deles conseguiram lá chegar.
Não entendo o sentido dessa abertura quando o que vamos ver é a história do caminho que esses homens percorreram. Seria de esperar que a incerteza do resultado da sua partida preenchesse o filme e deixasse o espectador temeroso perante cada uma das vidas que estão perante si.
Com esta revelação, a chegada tem de ser quase insignificante perante as ocorrências que preenchem o próprio caminho.
Não é assim, pois o filme satisfaz-se em mostrar a sucessão de episódios - uma sucessão de fronteiras e cenários variados (da estepe ao deserto) atravessados - e não em aprofundar as verdadeiras dificuldades que cada um desses cenários fez recair sobre o grupo.
Não estamos a ver os sacrifícios que cada dificuldade exige, estamos apenas a ver a passagem pelos cenários, como postais tirados de um ponto de vista mais sofrido mas nem por isso menos ilustrativos.
O grupo, como o cenário em volta, percorre as etapas que fazem do grupo uma unidade viva - mas apenas em teoria superior à soma das suas partes.
Uns morrem, outros assumem a liderança, mas a maioria das partes humanas do grupo são anónimas e, quando desaparecem, percebemos que nunca lá estiveram.
Os personagens são, na sua maioria, indistinguíveis reproduções uns dos outros. Ed Harris e Colin Farrell, com personagens de identidades mais interessantes e finais menos previsíveis, evitam entrar nessa uniformização do grupo, mas a escolha de Jim Sturgess para a figura do líder possível torna ainda mais pálida o que deveria ser a personalidade interna e variada do grupo.
Nem a estranha aparição de uma rapariga polaca, que segue o grupo até que este a aceite, contribui com algo mais do que um elemento extra a encorpar o grupo.
A sua história, diferente das restantes visto que ela não escapou da prisão siberiana, não provoca alterações na dinâmica das relações. Tal como a sua juventude ou o seu género não as provocam.
Este é um grupo de seres humanos de enorme dignidade, ainda que alguns sejam criminosos assumidos e ainda que vivam meses a fio em condições insustentáveis.
Mas esse tema só se nota porque o outro lado da humanidade dos personagens é inexistente, porque são todos eles anódinos.
O filme deveria transmitir aos espectadores as muitas emoções - dignas ou censuráveis - vividas ao longo de um acto extraordinário de resistência como este. Mas a única emoção possível é o tédio de uma viagem longa demais para um filme.


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