terça-feira, 1 de maio de 2012

A Casa, por Tiago Ramos


Título original: A Casa (2012)
Realização: Júlio Alves

Temos entre mãos um documentário tão construtivo quanto geométrico, no sentido figurado, mas também literal. Isto porque na sua primeira longa-metragem, Júlio Alves ensaia entre planos contemplativos e geométricos a poesia do mais banal mas decisivo acontecimento. Enquanto a câmara, estática, contempla, a construção de uma casa acontece e os habitantes temporários, os mesmos que a fazem crescer, não param, por oposição. Enquanto a câmara de Júlio Alves se fixa, o mundo à volta acontece, a construção dá-se, a casa faz-se. E com ela aqueles homens que constroem a casa para os outros, que constroem a futura vida dos outros, vêem a sua vida, suspensa mas sempre esperançosa.

Aquilo que Júlio Alves poderia ter feito - entrado no terreno do documentário social e crítico mais convencional - é subvertido em A Casa de uma forma bem mais interessante e subliminar. Prefere refugiar-se na componente visual, nos seus belíssimos enquadramentos e trazer uma poesia inesperada à construção de uma casa, do que trazer o julgamento para debate. O julgamento, a crítica social a temas como a (i)emigração, as diferenças sociais, podem (ou não) lá estar todas, mas cabe ao espectador querer captá-las ou admitir a sua existência (ou não). No limite é apenas o retrato experimental e visual das vidas que habitam uma casa, sem esta ser a sua, que vivem temporariamente a vida dos outros ao mesmo tempo que a constroem. Os primeiros habitantes de uma casa são quem a constrói.

Em parceria com a excelente fotografia e o magnífico trabalho de montagem, trabalha-se bem o som e a banda sonora, sempre tão corriqueira como bela, tão tradicional como original. A Casa pode muito bem não ser o mais inventivo objecto da competição nacional do IndieLisboa, mas será com certeza um dos mais delicados e poéticos objectos do certame.


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