quinta-feira, 23 de maio de 2019

Aladdin, por Eduardo Antunes


Título originalAladdin (2019)
RealizaçãoGuy Ritchie
ArgumentoJohn August, Guy Ritchie

As reimaginações da Disney dos seus próprios filmes clássicos de animação em imagem real sempre pareceram uma tarefa ingrata, principalmente no que toca aos mais amados pelo público e/ou fantasiosos, por não serem transpostos da melhor forma para um meio mais realista. Este Aladdin não prova o contrário, mas é bem vindo em muitos dos aspectos em que faz por diferir do original.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

John Wick 3 - Implacável, por Eduardo Antunes

https://splitscreen-blog.blogspot.com/2019/05/john-wick-3-implacavel-por-eduardo.html

Título originalJohn Wick: Chapter 3 - Parabellum (2019)
RealizaçãoChad Stahelski

Se John Wick acompanhava o desespero de um homem sem nada a perder, e o segundo capítulo expandia o universo subjacente sem perder o foco que queria dar às cenas de acção e às motivações do seu protagonista, este terceiro filme perde a novidade que nos surpreendeu da primeira vez, esforçando-se demasiado por nos entreter com movimentos demasiado repetidos e uma história que promete mais do que oferece.

domingo, 5 de maio de 2019

Glass, por Eduardo Antunes

https://splitscreen-blog.blogspot.com/2019/04/glass-por-eduardo-antunes.html

Título original: Glass (2019)
RealizaçãoM. Night Shyamalan
Argumento: M. Night Shyamalan

Shyamalan sempre foi um realizador potencialmente desafiante nas suas narrativas, mas cuja concretização das suas ideias nem sempre igualou as expectativas subjacentes. Com Glass, volta a suceder o mesmo, de uma forma um pouco mais desapontante, dado querer ser a ligação entre possivelmente dois dos seus melhores filmes sem conseguir igualar a mestria de ambos.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Lost Holiday, por Carlos Antunes



Título original: Lost Holiday
Realização: Michael Kerry Matthews, Thomas Matthews
Argumento: Michael Kerry MatthewsThomas Matthews
Elenco: Kate Lyn Sheil, Thomas Matthews, Keith Poulson



O mumblecore terá tido (algum) interesse há muito tempo atrás, antes de ser uma etiqueta que facilita o trabalho de quem vê os filmes.
Facilita, também, o de quem os faz, que se pode permitir colocar o correr do improviso no lugar da precisão da escrita.
Essa é a razão pela qual Lost Holiday perde os primeiros 20 minutos numa derivação que só quer montar a situação detectivesca que se seguirá.
Trata-se de uma investigação amadora de um rapto que envolverá estados alterados de consciência, perseguições de carros e confrontos violentos.
O que, envolvendo um duo de trintões por amadurecer e com falta de noção própria, numa forma económica  de fazer cinema significa um misto de incompetência e absurdo.
Durante a dinâmica de buddy movie, está-se mais próximo de cenas que resultam bem, sobretudo porque há liderança de Kate Lyn Sheil com Thomas Matthews como sidekick numa inesperada dupla de comédia.
Ela tem o dom de, quase sem parecer investida no filme, proporcionar uma interpretação que capta a atenção com discreto carisma. O que fica do filme é a forma como passeia a recusa de amadurecer e a incosciência de quem vive protegida do seu personagem.
Kate Lyn Sheil, magnífica em Kate Plays Christine, um dos melhores filmes de anos recentes no IndieLisboa, tem o talento para alicerçar no seu carisma a posição de estrela.
A televisão poderá ajudar a isso (haverá quem se lembre dela de House of Cards ou Outcast) mas, entretanto, tem de desistir de carregar filmes nas margens de uma visão de Cinema.
Reconhecendo que este nem é o caso pior desta situação, para tal há que ver a (suposta) Ficção Científica mumblecore que dá pelo nome de Radio Mary.
Neste caso dos irmãos Matthews essa falta de visão começa logo na escolha dos 16mm, por certo nostálgica como os acessórios (discman, VHS de aeróbica, telemóvel com tampa ou um abatido Volkswagen descapotável) de Margaret.
Com tantas cenas nocturnas, a película nunca os serve bem, mesmo se vão tentando usá-la para criar alguns efeitos visuais que fiquem na retina e que se revelam desconexos com o resto da pragmática produção.
A componente visual ressente-se menos do que a formal, por não quererem os autores que ele seja aquilo que é melhor.
A comédia é um meio distinto para a mesma crise de aceitação da idade adulta que já se viu antes, por isso o filme está sempre a regressar ao reacendimento de uma velha relação de Margaret com Mark que vive com outra mulher e está prestes a ser pai.
Esta relação nunca chega a ganhar força que torne credível que possa colocar algo em perigo ou, pelo contrário, resgatar a falta de comprometimento de Margaret.
Trata-se apenas de uma forma de ir ligando as peripécias da investigação, por via de flashbacks a darem algum passado à protagonista antes de terminar por demonstrar que, mesmo os que estabelecem uma vida para si para além do aborrecimento de meninos ricos, não reconhecem em si essa idade adulta em que entraram.
Michael Kerry e Thomas Matthews acabaram por unir as ideias soltas como conseguiram, até mesmo usando ideias formais que não pertencem ao universo desta história, como a narração poética que baliza o filme sem nada acrescentar.
Têm potencial para, guardando o realismo e desmarcando-se do amadorismo auto-imposto, brincarem com este e outros géneros com sucesso.




quinta-feira, 2 de maio de 2019

Present.Perfect., por Carlos Antunes



Título original: Present.Perfect.
Realização: Shengze Zhu
Argumento: -
Elenco: -


O filme de Shengze Zhu tem poucos que se lhe possam comparar enquanto processos de respigação por entre o infinito de registos não filtrados do quotidiano.
O que mais perto dele estará é Doroga, documentário feito a partir daquilo que os Russos filmam na rua a partir do painel do carro.
Ambos caracterizam o país dos seus autores a partir destes registos cujo ponto de vista é a antítese do cinema.
A China caracterizada pela monotonia de existências solitárias ao contrário de uma Rússia caracterizada pelo caos de todos os absurdos que lá parecem muito prováveis.
Começam por ser semelhantes, filmes que na sua montagem de pequenos focos de eventos distintos demonstram os extremos dos registos sobre que se debruçam.
Para Shengze Zhu esse registo é o live streaming que na China funciona como um negócio que permite ganhos significativos de dinheiro pela troca dos reconhecimentos virtuais enviados pelos seguidores.
A transformação em curiosidade que uma rapariga de classe média faz do seu regresso a casa do pai, criador de porcos está significativamente distante da transformação deste meio num ganha-pão por parte de quem nasceu com dificuldades motoras e passa o tempo a pintar a giz o passeio.
Está o primeiro mais perto do sentido de circo de aberrações, com o segundo a trazer dignidade acrescida.
Entre estes há, sobretudo, figuras à procura de contacto humano: um homem que se auto-mutila e precisa de defender a realidade do que faz, outro severamente queimado que quer mostrar a força da sua sobrevivência ou aquele que terá para sempre corpo de criança e com as transmissões se força a sair de casa.
São pessoas que precisam de preencher as suas vidas e que encontram ressonância em todo aquele público que prefere ver alguém a manobrar uma grua ou a trabalhar numa fábrica do que viver por alguns minutos com os seus próprios pensamentos.
Present.Perfect. vai-se focando nas existências de alguns dos seus sujeitos, deixando trás os pequenos apontamentos isolados para deixar correr as transmissões no seu estado puro.
Essas transmissões longas são entediantes. As vidas são um pouco menos vazias por conta da franqueza com que quem as faz fala dos seus problemas, mas para o público cinematográfico tal não chega.
Não há tempo para conhecer aquelas pessoas e investir nelas mais do que as considerações intelectuais sobre a exposição.
O filme vai-se alongando em demasia até às duas horas sem mostrar um ponto de argumentação sobre aquilo que vai mostrando.
Da mesma maneira que há uma longa tirada sobre baratas perante a imagem de um formigueiro, fica pelo caminho o facto de haver quem use aquele meio para fazer um negócio que se aproxima do das cam girls sem ultrapassar os limites estabelecidos pelo estado Chinês.
Essa intervenção do estado Chinês, enunciada no início como parte de um controlo da populção, capaz de convencer mesmo os elementos nas margens a entregarem informação sua e do espaço em redor.
Falta ao filme os dois elementos que Doroga (com os seus próprios problemas) soube reconhecer desde o início.
O verdadeiro personagem aqui era a China e não qualquer das individualidades que se movem num mecanismo cinematográfico que depressa se esgota  (o filme de Dmitrii Kalashnikov dura metade deste).
Olhando para o conjunto das aparições de um dançarino de rua, prova-se a possibilidade de caracterizar a China como a origem de vidas vazias e sem certeza das suas liberdades.
Os seus dois encontros com funcionários públicos terminam de contrária. Um diz-lhe que é esperto em fazer dinheiro daquela forma, o outro ameaça chamar a polícia para lhe confiscar os bens.
Durante os créditos finais, enquanto ele dança ao som de Gangnam Style, duas dezenas de pessoas permanecem paradas a olhar a câmara.
São vidas anónimas em busca de sentido, em busca de uma conecção humana ou de uma justificação para o tempo que passa. O filme haveria de ter sido, apenas, a contemplação dessa tentativa.