sexta-feira, 3 de maio de 2019

Lost Holiday, por Carlos Antunes



Título original: Lost Holiday
Realização: Michael Kerry Matthews, Thomas Matthews
Argumento: Michael Kerry MatthewsThomas Matthews
Elenco: Kate Lyn Sheil, Thomas Matthews, Keith Poulson



O mumblecore terá tido (algum) interesse há muito tempo atrás, antes de ser uma etiqueta que facilita o trabalho de quem vê os filmes.
Facilita, também, o de quem os faz, que se pode permitir colocar o correr do improviso no lugar da precisão da escrita.
Essa é a razão pela qual Lost Holiday perde os primeiros 20 minutos numa derivação que só quer montar a situação detectivesca que se seguirá.
Trata-se de uma investigação amadora de um rapto que envolverá estados alterados de consciência, perseguições de carros e confrontos violentos.
O que, envolvendo um duo de trintões por amadurecer e com falta de noção própria, numa forma económica  de fazer cinema significa um misto de incompetência e absurdo.
Durante a dinâmica de buddy movie, está-se mais próximo de cenas que resultam bem, sobretudo porque há liderança de Kate Lyn Sheil com Thomas Matthews como sidekick numa inesperada dupla de comédia.
Ela tem o dom de, quase sem parecer investida no filme, proporcionar uma interpretação que capta a atenção com discreto carisma. O que fica do filme é a forma como passeia a recusa de amadurecer e a incosciência de quem vive protegida do seu personagem.
Kate Lyn Sheil, magnífica em Kate Plays Christine, um dos melhores filmes de anos recentes no IndieLisboa, tem o talento para alicerçar no seu carisma a posição de estrela.
A televisão poderá ajudar a isso (haverá quem se lembre dela de House of Cards ou Outcast) mas, entretanto, tem de desistir de carregar filmes nas margens de uma visão de Cinema.
Reconhecendo que este nem é o caso pior desta situação, para tal há que ver a (suposta) Ficção Científica mumblecore que dá pelo nome de Radio Mary.
Neste caso dos irmãos Matthews essa falta de visão começa logo na escolha dos 16mm, por certo nostálgica como os acessórios (discman, VHS de aeróbica, telemóvel com tampa ou um abatido Volkswagen descapotável) de Margaret.
Com tantas cenas nocturnas, a película nunca os serve bem, mesmo se vão tentando usá-la para criar alguns efeitos visuais que fiquem na retina e que se revelam desconexos com o resto da pragmática produção.
A componente visual ressente-se menos do que a formal, por não quererem os autores que ele seja aquilo que é melhor.
A comédia é um meio distinto para a mesma crise de aceitação da idade adulta que já se viu antes, por isso o filme está sempre a regressar ao reacendimento de uma velha relação de Margaret com Mark que vive com outra mulher e está prestes a ser pai.
Esta relação nunca chega a ganhar força que torne credível que possa colocar algo em perigo ou, pelo contrário, resgatar a falta de comprometimento de Margaret.
Trata-se apenas de uma forma de ir ligando as peripécias da investigação, por via de flashbacks a darem algum passado à protagonista antes de terminar por demonstrar que, mesmo os que estabelecem uma vida para si para além do aborrecimento de meninos ricos, não reconhecem em si essa idade adulta em que entraram.
Michael Kerry e Thomas Matthews acabaram por unir as ideias soltas como conseguiram, até mesmo usando ideias formais que não pertencem ao universo desta história, como a narração poética que baliza o filme sem nada acrescentar.
Têm potencial para, guardando o realismo e desmarcando-se do amadorismo auto-imposto, brincarem com este e outros géneros com sucesso.




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