sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Entre os Dedos, por Carlos Antunes


Título original: Entre os Dedos
Realização: Tiago Guedes e Frederico Serra
Argumento: Rodrigo Guedes de Carvalho
Elenco: Isabel Abreu, Filipe Duarte, Fernanda Lapa e Ivo Alexandre
Editora: Clap Filmes

Entre os Dedos não é um filho puro do realismo mas é uma construção interessante em torno de algumas características desse formalismo.
O seu preto e branco é sufocante e agreste, mas apaga a artificialidade colorida da realidade publicitária e diz-nos que estas histórias são histórias de 10 milhões de pessoas.
O preto e branco coloca todas as personagens no mesmo patamar de realidade e, por acréscimo, no mesmo patamar de possibilidade que os espectadores.
O retrato é lato, mas o mosaico ainda deixa buracos a descoberto.
Há segmentos que crescem mas não desembocam em lado nenhum. E outros que estão enredados em si mesmos e que não se unem aos restantes.
Mas quase todas as histórias têm algo a dizer de brutal e preciso, persistência no meio das ruínas, esperança no meio dos erros.


O que de verdadeiramente soberbo há em Entre os Dedos são os seus actores e a precisão com que são dirigidos.
Eles são a substância do que, a nós como a eles, parece escapar para fora de alcance.
As intenções de muitos segmentos não são alcançáveis senão por olhar para o que os actores dizem na sua forma de ocupar o cenário.
A finalidade de muitos segmentos ficam a pairar sem que as consigamos agarrar e sentimos perder uma parte do que o filme tinha para dizer.


A ideia dos realizadores é a de não demonstrar, não tirar conclusões.
Mas mesmo sem conclusões é preciso fazer as histórias tombar num ponto sólido a partir de onde o rumo fique ainda em aberto.
A liberdade não foi a bênção que parecia ser para o filme, mas sim para os actores que ganharam espaços vazios para preencher.
Ainda assim, Entre os Dedos é a (continuada) demonstração de um cinema português a correr um duplo risco, de ter uma personalidade muito forte e de atrair o público.




EXTRAS

Making Of – 25 minutos bem pensados e bem montados, um trabalho de bom nível a acompanhar o filme e a complementá-lo positivamente.

Um Filme de Actores – Espaço para os actores falarem do seu trabalho e da sua percepção do filme. Um entendimento muito importante das exigências a que o argumento os submeteu e das exigências que o seu trabalho nos faz a nós.

Entrevista com os realizadores, a actriz Isabel Abreu e o crítico João Lopes – Útil como debate de ideias a partir de vários pontos de relação com o filme. Ideias que surgem a cada um dos intervenientes por influência da visão dos restantes e que dão novas possibilidades ao espectador.
Entrevista com Jorge Coelho – Interessante visão sobre como se produz a música para um filme, como a inspiração para cada filme faz variar a música criada e como é preciso entender como melhor servir o filme através da música.



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