segunda-feira, 2 de março de 2009
O estranho caso de Benjamin Button, por Carlos Antunes
Título original: The Curious Case of Benjamin Button (2008)
Realização: David Fincher
Argumento: Eric Roth e Robin Swicord
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Julia Ormond, Taraji P. Henson, Tilda Swinton, Jason Flemyng, Elias Koteas, Mahershalalhashbaz Ali e Josh Stewart
O estranho caso de Benjamin Button tem os actores escolhidos a dedo, tem uma realização de excepção, tem os melhores valores de produção.
E daí?, apetece perguntar.
A história do homem cujo corpo rejuvenesce no sentido contrário da sua mente parece não ter nada a dizer.
Que Benjamin venha rejuvenescendo enquanto cresce quase nunca parece influenciar a sua vida.
As suas aventuras poderiam pertencer a um homem cuja vida evoluisse na mais pura banalidade biológica.
Ao contrário de Forrest Gump (cujas constantes comparações aproveito para ilustrar a minha ideia), em O estranho caso de Benjamin Button a vida da personagem não ganha a complexidade que a sua condição lhe exige.
Em Forrest Gump (independentemente de outros juízos de valor) a história da personagem intersectava e afectava a História. A vida de Forrest alcançava - ou pelo menos tentava - a complexidade dos grandes romances
Apenas a história de amor que Benjamin vive com Daisy parece viver a sua intensidade no drama latente da vida de Benjamin.
A complexidade do drama amoroso vem do permanente desencontro, mesmo quando ele parece existir apenas nas mentes e não nos corpos que não se encontram na idade.
Mas por isso mesmo é ainda mais desolador que se veja que as aventuras de Benjamin existam apenas para intercalar o tempo entre os encontros dos dois amantes.
Seria mais interessante explorar as dificuldades de entendimento que o mundo e ele próprio têm da sua condição, ora tomando-o como um pedófilo quando é apenas uma criança, ora tomando-se como incapaz de tentar criar um filho quando ainda está no vigor da idade.
Eram esses os momentos desta vida que interessavam seguir.
Mesmo com a qualidade dos actores, particularmente notável quando as personagens de Brad Pitt e Cate Blanchett finalmente se "encontram" nas suas respectivas idades...
Mesmo com o detalhe cuidado do trabalho de David Fincher....
Mesmo com a qualidade inegável da reprodução das épocas e dos efeitos de envelhecimento...
Mesmo com tudo isto, O estranho caso de Benjamin Button passa por nós deixando-nos incólumes.
O vazio de um filme é o seu pior defeito, sobretudo quando este se propõe a muito mais.
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Excelente exposição de ideias a respeito do filme, que coincide com aquilo que pretendia do filme e que ele não deu. Foi pena Fincher ter descurado o potencial de Button...
ResponderEliminarhttp://armpauloferreira.blogspot.com/2008/12/filme-curious-case-of-benjamin-button.html
Obrigado pelo comentário!
ResponderEliminarO feedback ajuda sempre à motivação de quem vai escrevendo!
Um abraço e até sempre!
Adorei ver o filme, e acho indecente criticarem um trabalho de grande prestigio... querem melhor? Porque não o fazem... Sinceramente o trabalho dos outros para alguns nunca é perfeito...
ResponderEliminarAnônimo, assumo então que nunca tenha criticado nada na vida sem que pudesse provar imediatamente que consegue fazer melhor?
ResponderEliminarElogia todos os filmes que vê?