Título Original: Arte de Roubar
Realização: Leonel Vieira
Argumento: João Quadros e Roberto Santiago
Elenco: Enrique Arce, Ivo Canelas, Soraia Chaves, Flora Martínez e Nicolau Breyner
Há uma cena em Arte de Roubar em que Fuentes (Enrique Arce) entra numa daquelas típicas tasca-café da lezíria ribatejana em busca de um saco de gelo para conservar a orelha recém-cortada de Chico Silva (Ivo Canelas).
Perante a falta de gelo, ele opta por usar dois gelados para conservar a orelha.
Nitidamente, é a cena do filme onde mais se sente uma identidade portuguesa, ou melhor dizendo, é mesmo a única.
Perante a falta de gelo, ele opta por usar dois gelados para conservar a orelha.
Nitidamente, é a cena do filme onde mais se sente uma identidade portuguesa, ou melhor dizendo, é mesmo a única.
Este forma tosca do engenho português é o que de mais interessante sobressai do filme e é prometedor o suficiente para gerar um enorme desapontamento à medida que o resto do filme se desenrola.
Depois, do carro (um Buick) que o par de ladrões conduz até à língua inglesa usada numa multiplicidade incoerente de sotaques, nada mais parece ter uma identidade - nacional, sobretudo, mas de qualquer género no final de contas.
Depois, do carro (um Buick) que o par de ladrões conduz até à língua inglesa usada numa multiplicidade incoerente de sotaques, nada mais parece ter uma identidade - nacional, sobretudo, mas de qualquer género no final de contas.
Aquilo que aqui se mistura é a revisão paródica dos muitos géneros e que já perpassaram por Hollywood, dos zombies às muitas versões mais disparatadas (ou menores) de Tarantino, com anões irritados ou intricados planos de roubos - à sua escala, claro está.
Faltaram os aliens, provavelmente.
Por outro lado, é curioso como pelo meio do muito trash, se vê uma forma de evocação de outro cinema, de que o a velha senhora e o seu mordo dão conta por via da lembrança de Sunset Blvd., só como um exemplo.
Faltaram os aliens, provavelmente.
Por outro lado, é curioso como pelo meio do muito trash, se vê uma forma de evocação de outro cinema, de que o a velha senhora e o seu mordo dão conta por via da lembrança de Sunset Blvd., só como um exemplo.
Mas o resultado é instável - se quiserem ver um trabalho com muito melhores resultados, procuram a banda desenhada portuguesa Fato de Macaco - muito mais ridículo do que risível e muito mais pobre do simulado.
Sobretudo, muito mais simplista do que as suas muitas voltas querem fazer crer.
Essa é a pecha, que este cinema, que se quer versátil, simultaneamente actual e referencial, acabe por ser tão pobre no que faz com tudo aquilo que pilha do cinema que o precede.
Sobretudo, muito mais simplista do que as suas muitas voltas querem fazer crer.
Essa é a pecha, que este cinema, que se quer versátil, simultaneamente actual e referencial, acabe por ser tão pobre no que faz com tudo aquilo que pilha do cinema que o precede.
É caso para perguntar a que serve esta língua inglesa, que pretende ser veículo de mais fácil assimilação global, se não há uma identidade singular e apetecível por detrás dela.
Um cinema global e geralmente aceite - ou, pelo menos, visto - não se pode permitir ser anónimo ou reduzir-se ao efeito de uma Língua universal. Isso é confundir exportabilidade com facilitismo.
Um cinema global e geralmente aceite - ou, pelo menos, visto - não se pode permitir ser anónimo ou reduzir-se ao efeito de uma Língua universal. Isso é confundir exportabilidade com facilitismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário