domingo, 12 de julho de 2009

Brüno, por Carlos Antunes


Título original: Brüno
Realização: Larry Charles
Argumento: Sacha Baron Cohen e Anthony Hines
Elenco: Sacha Baron Cohen, Gustaf Hammarsten e Clifford Bañagale

Brüno é, provavelmente, a forma moderna de se fazer comédia de forma a evidenciar um espírito crítico perante a sociedade.
Uma forma que é uma constante agressão ao espectador - às suas expectativas e ao seu conforto.

http://cache.boston.com/bonzai-fba/Third_Party_Photo/2009/07/09/Film-Review-Bruno__1247170672_4968.jpg

É uma pena que se tenha de recorrer a tais métodos para conseguir passar a mais leve mensagem quando o protagonista demonstra toda a sua qualidade, descendente de Jerry Lewis, Andy Kaufman e Peter Sellers.
Porque Sacha Baron Cohen é um comediante de corpo inteiro, versátil e dedicado, que não compõe uma personagem, mas antes vive uma vida particular através da sua encarnação - para lá da película, como se tem visto nas entrevistas e sessões fotográficas que tem feito.

http://images.nymag.com/fashion/look/2009/spring/sashabaroncohen_560x375.jpg

O trabalho de Cohen é provocador ao máximo e o seu investimento na comédia vai ao ponto do risco físico.
A sua escolha de temas é um ataque cerrado e indispensável à irracionalidade e à hipocrisia do mundo moderno. A vacuidade da moda, o ridículo culto da fama e a paranóica homofobia.

http://img.thesun.co.uk/multimedia/archive/00825/SNF16BRU2-380_825601a.jpg

Fá-lo, maioritariamente, através de uma versão despudorada do Apanhado, levando as pessoas a ridicularizarem-se a si mesmas pela revelação das suas faltas.
Da sua falta de escrepúsculos, da sua falta de sentido crítico, da sua falta de abertura.
Fá-lo com o universo heterossexual e com as suas crenças sobre a homossexualidade, revelando o receio da sexualidade mal resolvida. Fá-lo com a inescrupulosa procura da fama nem que seja por via dos seus filhos.

http://finissimo.com.br/cinema/wp-content/uploads/2009/04/bruno-sacha-1.jpg

O problema vem na forma como tenta agregá-los numa forma cinematográfica, numa ficcionalização ténue que nunca esconde a sua essência televisiva e a sua montagem das situações que levarão aos Apanhados.
É difícil escapar a esse defeito formal quando a ficção por entre os apanhados é capaz de provocar um riso directo e fácil, mas incapaz de constituir uma coerente sequência narrativa cinematográfica.

http://finissimo.com.br/cinema/wp-content/uploads/2009/04/bruno-sacha.jpg

Seria infinitamente mais interessante que Cohen usasse de subtileza ao invés deste exagero desmedido que chega a ser bocejante por não obrigar o espectador a nenhum esforço de reflexão.
Talvez não seja possível que a maioria dos espectadores captem a mensagem de Brüno de outra forma e isso demonstra o falhanço da própria capacidade do espectador de ser movido por menos do que esta forma impúdica de humor.

http://www.mannythemovieguy.com/images/brunoarnold2.jpg

É então preciso chocar, perturbar, incomodar e revoltar o espectador, retirá-lo da sua zona de conforto para que ele não possa escapar ao que se apresenta, à sua própria reverberação nas atitudes que os indivíduos apresentam.
É preciso mas não é o mais acertado, porque isso custa muitas vezes ao filme a sua eficácia, tornando-o aborrecido por ser apenas exagerado e não exageradamente cómico.
Sacha Baron Cohen precisa de um veículo diferente para explanar as suas melhores capacidades e precisa de alguém que o ajude a tornar o seu humor televisivo numa forma cinematográfica eficaz.
De resto, o talento e o arrojo já os tem, inegavelmente!



http://www.marcosabino.com/blog/wp-content/uploads/2009/06/Bruno-GQ-2009.jpg

2 comentários:

  1. ja com grande expectativa de conferir "Brüno".
    Tiago, tem um selo pra ti la no meu blog. abraço :)

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  2. ja com grande expectativa de conferir "Brüno".
    Tiago, tem um selo pra ti la no meu blog. abraço :)

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