quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dois dias para esquecer, por Carlos Antunes

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Título original:
Deux jours à tuer
Realização: Jean Becker
Argumento: François d'Épenoux e Eric Assous
Elenco: Albert Dupontel, Marie-Josée Croze, Pierre Vaneck, Alessandra Martines e Cristiana Réali

Antoine (Albert Dupontel) mostra-se como um perfeito sacana, daqueles que diz apenas a verdade, mas fá-lo da forma mais indelicada possível, sendo mesmo indevidamente cruel com quem não merece.
Mas é um sacana libertador de quem sentimos imediata inveja e que, por momentos, nos deixa com um riso de pura diversão ao pensarmos no que faríamos com a mesma desabrigada e maldosa coragem.

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Mas depois, pelo meio dessa imagem cruel há pequenas rendições de Antoine a uma outra personalidade, a uma bondosa e generosa personalidade.
Antoine parece querer criar uma personagem arrogante e desinteressada das consequências do que faz apenas mas parece também falhar, criando a dúvida sobre quem é realmente.

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O filme é um jogo de domínio do espectador, de controlo de expectativas.
E a verdade é que funciona, mesmo sabendo-se – é o título que o revela logo e depois é fácil de confirmá-lo no filme – aquilo que justifica esta volúvel personalidade.
Aquilo que Antoine personifica é uma forma de encarar a realidade prestes a acontecer e a acção mais inusitada para poupar os que o rodeiam a tal evento.

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Antoine é brusco mas quando percebemos exactamente a dimensão daquilo que ele está disposto a fazer em nome daqueles que ama temos dúvidas sobre a imagem que deixou.
Dúvidas da sua eficácia e dúvidas da correcção das suas opções.
Mas depois essa brusquidão dilui-se e redime-se numa inusitada placidez que o penitencia igualmente.
Só que mais do que o penitenciar, esse seu último acto – que para ele representa a reencontrada placidez enquanto para os que ele deixou para trás representa a confirmação da sua crueldade – representa a sua própria salvaguarda à pena que ele não estava disposto a ver nos olhos dos restantes.

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Deux jous à tuer fala-nos, tão mansa mas também aguerridamente, das nossas opções para uma vida que é sempre mais curta do que estamos dispostos a aceitar.
Como bem diz o poema que acompanha o genérico – caso para aconselhar que não se levantem da cadeira até este acabar – “…o meu país é a vida” e, portanto, há que saber ser patriota.
Sobretudo para não termos receio e questões por resolver quando esta se aproximar do seu final.



http://klrob.files.wordpress.com/2008/05/2-jours-a-tuer-1.jpg

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