quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Gerry, por Tiago Ramos



Título original: Gerry (2002)
Realização: Gus Van Sant
Argumento: Matt Damon e Casey Affleck
Elenco: Casey Affleck e Matt Damon

Poucas vezes no mundo do Cinema, alguém se dignou a trabalhar num ensaio sobre o aborrecimento, o tédio e o silêncio. Talvez assim de repente recordo-me do recente documentário O Grande Silêncio (2005), de Philip Gröning, sobre o silêncio estrondoso no interior da Grande Chartreuse, a casa-mãe da Ordem dos Cartuxos em França.



Provavelmente este Gerry, de Gus Van Sant, esteja perto dessa noção experimental onde se explora o tédio. Não o digo isto de forma negativa, pelo que considero este um estrondoso exercício de estilo por parte do realizador. Existe, é claro, algum pretensiosismo artístico em cada recanto da película. Assistimos, com certeza, a um olhar frio, clínico e distante sobre uma situação limite onde se explora a morte, a amizade e a sobrevivência. Poucos planos em Gerry são close-ups ou próximos das personagens. Existe um grande distanciamento emocional, a não ser na parte final, onde nos sentimos mais próximos da agonia vivenciada pelos Gerry.


Harris Savides que trabalhou com Gus Van Sant em Finding Forrester (2000), Elephant (2003), Last Days (2005) e Milk (2008), tem aqui um dos seus trabalhos mais memoráveis no que diz respeito à fotografia. Todo o filme vive desse sentido estático, repleto de paisagens fulgurantes e de tirar o fôlego. Os tons ocres e azuis contrastam a dureza da vivência das personagens, quase se sentindo a dor e sofrimento por que ambos passam. É um estilo poético, cru para muitos, fatal para outros, mas que no fim de contas demonstra que o Cinema pode ser simplesmente Arte.

Também Arvo Pärt compõe a banda sonora que complementa todo o trabalho artístico do filme. "Spiegel im Spiegel" e "Für Alina", temas que já foram utilizadas em outras produções fazem de Gerry um deleite de filme, uma experiência dos sentidos que culmina com o sentido de odisseia transmitido pelo filme.



Gerry é o trabalho mais arriscado de Gus Van Sant, mas também o que revela mais a capacidade do cineasta de se ultrapassar a si próprio.

Classificação:



5 comentários:

  1. A par de Milk, é a minha obra predilecta do cineasta. Gostei bastante da crítica.

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  2. Jackson,
    Obrigado. Está longe de ser o meu preferido, mas é um ensaio bastante interessante. :)

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  3. Ainda que não possa concordar completamente com a tua classificação, revejo-me em todas as tuas palavras.

    Grande filme 5*

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  4. É um filme a merecer uma segunda - e, às vezes, até uma terceira - oportunidade. Quando vi pela primeira vez não fiquei muito convencido, mas a rever tive uma surpreendente experiência estética e espiritual. Bom texto!
    Abraço!

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  5. Roberto F. A. Simões,
    Eu não lhe consigo dar classificação completa, mas gostei bastante.

    Flávio Gonçalves,
    Confesso que de início fiquei um pouco desiludido, mas rapidamente entre no espírito. Obrigado.

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