quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Abraços Desfeitos, por Tiago Ramos

http://nosolocurro.files.wordpress.com/2009/03/los-abrazos-rotos-poster.jpg

Título original:
Los abrazos rotos (2009)
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo e José Luis Gómez

Na derradeira cena de Los Abrazos Rotos, Harry Caine diz que um realizador deve terminar os seus filmes, mesmo que seja às cegas. De certa forma temos aqui traçado o perfil biográfico de Pedro Almodóvar que surge no filme pelas mãos de um cineasta cego e que dá a entender a dificuldade que foi colocar este filme a público.



Em face do arraso da crítica generalizada, tenho a dizer em sua defesa: Abraços Desfeitos não é o desastre que por aí se fala. Pedro Almodóvar cria um filme muito difícil de definir, num registo já habitual de melodrama exacerbado, com uma visão irónica e cínica da sociedade, mas sobretudo uma, muito bonita, homenagem ao Cinema e inclusive ao seu Cinema. Consciente da sua personalidade enquanto ícone do cinema espanhol, Pedro Almodóvar cria um autêntico, divertido e consciente jogo de auto-citações e referências (veja-se o filme dentro do filme que dá mote ao projecto, que não é mais que uma reconstituição de Mujeres al borde de um ataque de nervios).

Abraços Desfeitos não desmerece o nome do cineasta associado ao projecto. De estilo bastante clássico, o argumento assenta num triângulo amoroso, com uma narrativa a dois tempos (1994 e 2008). É um argumento arrebatador que peca apenas por, em alguns instantes, ter dificuldade em segurar a narrativa de forma consistente nos seus flashbacks. Mas tirando isso, é um melodrama sentido e emocionado, uma história de amor nos seus trâmites mais clássicos e trágicos.



Almodóvar tem aqui um filme emocionante, romântico e intenso sobre o Cinema, a Escrita e o Amor. É um reencontro com a redenção e com a paz interior: uma longa viagem. Mas o maior primor de toda a obra é a sua composição fotográfica. Pedro Almodóvar e Rodrigo Prieto fizeram um trabalho maravilhoso juntos, garantido o melhor trabalho fotográfico de um filme do realizador. Rodrigo Prieto, responsável pela fotografia dos filmes de Iñarritu, Brokeback Mountain (2005) ou Alexander (2004), estuda planos maravilhosos que apelam ao sentimentalismo do espectador. Um enorme rigor estético, onde pop art (muito bem retratada no poster) e um estilo impressionista imperam juntos, dando origem a cenas repletas de cor e sentimentos.

Penélope Cruz está mais madura, mais humilde na forma como aceita ser dirigida, completamente cameleónica e fascinante em cada frame e momento da história. Lluís Homar é mais comedido no seu desempenho, mas de forma competente entra na personagem que tenta exorcizar os fantasmas do passado, reavivado pela morte da personagem de José Luis Gómez.



Em Abraços Desfeitos vivemos uma suave amargura, um frescor visual, um melodrama intenso que faz deste filme uma obra bastante interessante e fascinante.

Classificação:





Sem comentários:

Enviar um comentário