domingo, 6 de setembro de 2009

Má Educação, por Carlos Antunes

http://www.paperstreet.it/immagini/korova/06-educacion.jpg

Título original: La mala educación
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar
Elenco: Gael García Bernal, Fele Martínez, Daniel Giménez Cacho, Lluís Homar e Alberto Ferreiro

Ainda que Almodóvar o negue, Má Educação é um filme com uma agenda.
Um ajuste de contas de Almodóvar com o seu passado, com a igreja, com o desenvolvimento das suas paixões e com a forma como a sociedade tratou

http://unknownpoets.blogs.sapo.pt/arquivo/mala%20educacion.jpg

A Má Educação faltam as mulheres.
Almodóvar não parece à vontade com os seus homens - o que num filme autobiográfico é quase como dizer que não se sente à vontade consigo mesmo ou pelo menos com esta parte da sua história.
Almodóvar precisa de uma dose de humor para gerir os seus filmes e esse humor, negro quase sempre, vem da maneira como lida com as mulheres, tão simples quanto isso, mesmo quando esse humor falha.
Ainda que Gael García Bernal se dê por completo mais uma vez, não escapa à claustrofobia que se sente à sua volta.

http://comunicacionaudiovisual2.files.wordpress.com/2008/07/la-mala-educacion.jpg

Almodóvar descarta o seu humor para procurar um tom profundamente negro, um tom que lhe permita fazer o seu confronto acusador com o passado.
Um confronto com a memória do drama que os dois miúdos viveram, um confronto que se joga numa falsa tensão feita de uma incerteza de papéis, uma incerteza do que é verdade e ficção.
Um jogo que é o de Almodóvar a deixar a sua própria condição de realizador como impressão das possibilidades do cinema. Afinal, em adultos, tratam-se de um actor e de um realizador a disputarem um xadrez Hitchcockiano.

http://www.enjoymyjacket.com/images/foto2.jpeg

Mas esse jogo entre realidade e ficção vai-se tornando um pouco menos importante a cada passo, entregue a uma denúncia anti-clerical, uma denúncia pouco mais que simplista, provavelmente justíssima ou, pelo menos, exacta, mas redundante perante o que conhecemos de fora do filme e perante o que acontece dentro dele.

http://www.cinemaparadiso.nl/malaeducacion1.jpg

Ainda que Almodóvar tenha neste filme escapado a fazer mais do mesmo, ainda que tenha procurado novas soluções, perdeu-se demais dos seus caminhos habituais, perdeu o contacto com a sua identidade.
Perdeu esse contacto porque se lançou com determinação a vingar-se do seu passado, uma vingança artificiosa.

[2.png]

http://www.minadeletras.us/archives/imagens/lluisgael.jpg


5 comentários:

  1. Não concordo com o que disseste. Creio que tu é que te perdeste numa análise superficial da obra e falaste tão pouco sobre ela.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD - A Estrada do Cinema

    ResponderEliminar
  2. Olá Roberto.

    Acho que se não concordas é porque conseguiste engajar-te melhor no filme do que eu.
    Eu não consegui passar daquele jogo mental, muito noir mas instável demais.
    Não é o género de Almodóvar, ele costuma atirar-se mais ao coração e este é demasiado cerebral.
    O filme propiciou-me esta crítica, a outros propiciará outra.

    ResponderEliminar
  3. Por acaso, não concordo mesmo nada... acho que o filme, não só é muito "Almodóvar", como é mesmo um muito bom filme! Como outros... que nem estão votados...

    ResponderEliminar
  4. Certamente que sim.
    É instável de mais porque a narrativa é quem manda. Não é defeito, é herança da literatura moderna e pós-moderna - um questão de escola, pois bem.
    Não é o género - usual - de Almodóvar, mas fica-lhe tão bem. Pessoalmente prefiro este cinema do que aqueloutro, submerso em sentimentalismo exacerbado e folhetinesco.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

    ResponderEliminar
  5. Apesar de dar uma nota bastante superior ao filme, percebo plenamente aquilo que o Carlos diz. Até porque se nota bastante que se sente menos confortável perante a figura masculina e perde-se o estilo "Almodóvar" neste filme. Não que seja necessariamente mau, mas é ao lado do habitual.

    ResponderEliminar