segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Distrito 9, por Carlos Antunes

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Título original:
District 9
Realização: Neill Blomkamp
Argumento: Neill Blomkamp e Terri Tatchell
Elenco: Sharlto Copley, Jason Cope, Nathalie Boltt, Sylvaine Strike, Elizabeth Mkandawie, William Allen Young e John Sumner

O que de melhor tem District 9 é a sua abordagem do tratamento que os seres humanos concedem a outra raça. A segregração e a animosidade, a degradação de uma outra raça que seria, até, mais avançada do que a nossa.
O que, tendo em conta que o filme decorre na África do Sul, ganha especial pertinência e ironia.
Mas também, claro, o aproveitamento, o nicho criminoso que lá se forma, de como os humanos eles próprios se sujeitam a condições e comportamentos, seja por ilusões de poder ou ganância.

http://screencrave.com/wp-content/uploads/2009/08/district-9-20090803103050129_640w1.jpg

O contexto dá particular relevância ao discurso sócio-político, que se revela particularmente inteligente e abrangente quando toca nas grandes corporações, nos lobbies bélicos, nos aproveitamentos políticos e nas manipulações informativa.
Que se revela particularmente inteligível por ser feito através da reconstituição de uma reportagem carregada de depoimentos sobre os eventos que rodeiam o contacto entre as duas espécies.

http://fandangogroovers.files.wordpress.com/2009/09/district-9.jpg

O problema surge, então, por o filme manter um dispositivo de falso documentário que se desfaz rapidamente.
A reportagem que estamos a seguir deixa rapidamente a sua forma mal se avista a impossibilidade de seguir os eventos - espectaculares e plenos de acção - por esse meio.
Nessa altura o dispositivo passa a ser o do mero filme de acção, bem jogado, claro, mas injustificadamente desconexo com o mecanismo anterior, recuperado de forma esporádica a meio de várias cenas com fugazes momentos captados por câmaras de segurança, só para dar um exemplo.
Teria sido melhor se a falsa reportagem estivesse totalmente ausente, não criando uma ilusão de realismo que se vê, a meio, desfeita e recuperada artificialmente quando o filme se afirma já de outra forma.

http://mikeely.files.wordpress.com/2009/08/district_9_prawn_commander.jpg

Não que isto impeça District 9 de ser um dos mais interessantes filmes do ano, tanto ao nível de Ficção Científica (se assim lhe quisermos chamar) com que acutilantemente fala do presente; como ao nível do filme de acção, pleno de inventividade e emoção.
Até pela descoberta de um actor (Sharlto Copley) muito interessante que compõe um perfeito anti-herói sujeito às mais bizarras situações.
Ele parte como uma tosca e fraca figura para se afirmar como indivíduo capaz e capaz de aproveitar as suas capacidades inerentes, sejam elas o egoísmo ou a surpreendente força guerreira.

http://screenrant.com/wp-content/uploads/district-9-wikus-alien.jpg

Entre o discurso inicial mais arrojado e distinto, sustentado por um modelo narrativo incapaz de suportar hora e meia de filme, e a banalidade narrativa de filme acção, sustentado por um actor de grande qualidade e algumas ideias inovadoras, há uma dicotomia que impede District 9 de atingir um estado mais pleno filme.
Não impede, no entanto, que seja um dos mais arrojados e distintos blockbusters de tempos recentes, nascido bem longe das restrições Hollywoodescas.



http://www.sarahfobes.com/wp-content/uploads/2009/08/district-9-trailer.jpg

2 comentários:

  1. Excelente crítica,excelente filme.Melhor do ano até agora.Ab!
    Adriano.

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  2. Excelente crítica,excelente filme.Melhor do ano até agora.Ab!
    Adriano.

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