sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Morrer Como Um Homem, por Carlos Antunes

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Título original:
Morrer Como Um Homem
Realização: João Pedro Rodrigues
Argumento: João Pedro Rodrigues e Rui Catalão
Elenco: Fernando Santos, Alexander David, Gonçalo Ferreira De Almeida, Fernando Gomes e Jenni La Rue

Toina é uma estrela ainda aclamada mas um pouco difusa dos espectáculos de travestis.
Por isso mesmo ele procura uma identidade entre a vontade de dar o passo seguinte para se tornar numa mulher e o receio de destruir o corpo que lhe foi concedido.
Entre a sua vontade e a vontade divina, entre o espectáculo e o amor, entre a vida e o palco.

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Toina é uma composição extraordinária de Fernando Santos, numa verdadeira revelação como actor.
A sua Toina é tanto o homem como a mulher dos melodramas dos anos 1950, a braços com a sua tragédia que só parece poder aumentar entre aparições de um filho assassino e fugitivo e os comportamentos erráticos do amante drogado e irado.
Nenhuma destas personagens consegue aceitar ou definir aquilo que verdadeiramente é, dificultando assim a tarefa de Toina que tem de ser mãe e mulher para um e pai e exemplo para o outro - mas que parece incapaz de ser bem sucedida pela sua própria divisão.

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Toina acabará por enfrentar a morte tal como foi dada à vida, tendo pelo meio tido toda outra essência.
Um homem morre sozinho e calando a dor, enquanto uma mulher vive acompanhada e expressando a dor dos que vivem em torno dela.
Toina encarnou ambos estes actos de coragem e solidão, no que chega a parecer uma estranha forma de religiosidade que, às vezes, alguma personagem vislumbra.

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João Pedro Rodrigues filma com um realismo seco, às vezes cruel, que não perdoa a estas personagens a sua exposição.
A psicologia tenebrosa exposta sem consideração, tormentos para uma Toina que está exposta fisicamente.
Ela endura-se contra a exposição dos outros por ser o último abrigo existente para todos aqueles seres.
Para ela, no entanto, haverá um abrigo próprio, um local protegido que poderá representar o seu escape.

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O escape que se lhe proporciona é como um cabaret escondido do mundo onde Judy Garland se encontra com a Natureza.
Um cabaret afinal tão vazio como tudo o resto, que de sonho passa a desconexão com o mundo real e, por isso, a maldição.
No espao desse escape surgem alguns dos momentos mais intrigantes e inesquecíveis do filme , mas que parecem nascer de uma distracção deslumbrada.
A sua ligação ao que vínhamos vendo parece ténue e duvidosa, passageira como um sonho esquecido e inconsequente.

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João Pedro Rodrigues continua a assinar uma das mais interessantes e originais obras cinematográficas nacionais, mas desta vez parece ter-se perdido entre referências, numa linha narrativa que diverge no seu próprio interior.
Que ele continue, com as suas personagens, à procura das identidades remanescentes continua a ser, por isso mesmo, essencial.



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