Realização: Sam Mendes
Argumento: Alan Ball
Elenco: Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley, Mena Suvari e Chris Cooper
Da sua ironia trágica e cómica nasce precisamente o ponto alto de Beleza Americana. Primeira obra de Sam Mendes, consagrou-lhe o estatuto de cineasta de culto, apenas porque revelou uma verdade que todos conheciam e nunca ninguém tinha tido coragem de retratá-la de forma tão crua no Cinema: vivemos num mundo cínico. Estamos num mundo onde não existe inocência, onde nenhum de nós está imune a tal efeito, onde participamos e assistimos a escândalos programados.
Tudo vive de padrões, de estatutos, de fachada, de estrutura. Mas por detrás dessas paredes impecáveis vive o cinismo. Sam Mendes não poderia encontrar melhor lugar que os subúrbios norte-americanos para ironizar e satirizar de forma simbólica toda a estrutura da sociedade em que vivemos. Da sua beleza externa, da sua simetria impecável, do seu padrão geométrico não se vislumbra o seu interior corrompido, as suas famílias desfeitas, os seus escândalos pessoais. O cineasta britânico, de câmara em riste, invade essa privacidade de uma forma tão subtil como encantadora, mas simultaneamente reveladora de uma sociedade pervertida e corrompida. O que aconteceria se dentro dessa sociedade americana, ditadora de costumes e influência mundial, se todos começassem a dizer a verdade e como se sentiam?
Beleza Americana é paradoxal nesse sentido. Da sua estética arrumada e limpa, dos seus planos igualmente belos, descobre também no seu argumento a corrupção da mente humana. É um olhar mais profundo e desprovido de filtros que revela a hipocrisia dos subúrbios. Usando a estética americana, o filme acaba por utilizar os métodos que pretende denunciar no seu todo. É uma pretensão intelectual e anárquica, perfeitamente simulada por Jimi Hendrix e o seu All along the watchtower. É a forma pretensamente rebelde de Sam Mendes denunciar a sociedade politicamente incorrecta, mas simultaneamente acaba usar os padrões que denuncia de uma forma, precisamente ela, cliché e padronizada. Um modo industrial de criticar.
Muito dessa culpa resulta do argumento de Alan Ball, figura incontornável da dramaturgia norte-americana e escritor de uma das obras mais críticas e irónicas da sociedade actual: a série Six Feet Under (2001-2005). O seu argumento resulta numa estética pop americana e consequentemente mundial. Uma crítica sarcástica e cómica de quem vive sob aparências e uma capa de estatutos.
Cada um dos actores é precisamente a personificação desses vícios de personalidade, dessa estética suburbana, dessa corrupção da mente. Kevin Spacey e Annette Bening, num dos melhores desempenhos da década: o marido infeliz e a esposa insatisfeita. Ambos vítimas de uma sociedade politizada, vítimas das rotinas diárias e do politicamente correcto. Thora Birch é a adolescente impopular, enquanto que Mena Suvari é a adolescente popular, mas profundamente calculista e fraudulenta. Chris Cooper como o vizinho estranho e moralista. E Wes Bentley como o marginal, o rebelde anarquista, que procura a estética no bizarro e pouco usual. Actores que fazem o filme, filme feito para estes actores. Personagens clichés e padronizadas, como aquilo que denunciam. O eterno paradoxo de Beleza Americana.
O filme é esteticamente impecável, dotado de um rigor académico na sua realização e direcção artística, na fotografia de Conrad L. Hall (Road to Perdition) ou na banda sonora de Thomas Newman (Revolutionary Road). Coerência estética e verdadeira beleza artística.
Beleza Americana é o retrato do que denuncia. É uma forma de de crítica que, repito, usa os métodos que critica de forma a que a própria sociedade que a produziu possa sentir que se auto-analisou. É uma crítica sarcástica e irónica, original e marcante na década, mas que não é ela mesma isenta de erros e imperfeições. É contudo dessas falhas que o filme atinge o estatuto que tem e não deixa de ser uma boa obra cinematográfica.
Tudo vive de padrões, de estatutos, de fachada, de estrutura. Mas por detrás dessas paredes impecáveis vive o cinismo. Sam Mendes não poderia encontrar melhor lugar que os subúrbios norte-americanos para ironizar e satirizar de forma simbólica toda a estrutura da sociedade em que vivemos. Da sua beleza externa, da sua simetria impecável, do seu padrão geométrico não se vislumbra o seu interior corrompido, as suas famílias desfeitas, os seus escândalos pessoais. O cineasta britânico, de câmara em riste, invade essa privacidade de uma forma tão subtil como encantadora, mas simultaneamente reveladora de uma sociedade pervertida e corrompida. O que aconteceria se dentro dessa sociedade americana, ditadora de costumes e influência mundial, se todos começassem a dizer a verdade e como se sentiam?
Beleza Americana é paradoxal nesse sentido. Da sua estética arrumada e limpa, dos seus planos igualmente belos, descobre também no seu argumento a corrupção da mente humana. É um olhar mais profundo e desprovido de filtros que revela a hipocrisia dos subúrbios. Usando a estética americana, o filme acaba por utilizar os métodos que pretende denunciar no seu todo. É uma pretensão intelectual e anárquica, perfeitamente simulada por Jimi Hendrix e o seu All along the watchtower. É a forma pretensamente rebelde de Sam Mendes denunciar a sociedade politicamente incorrecta, mas simultaneamente acaba usar os padrões que denuncia de uma forma, precisamente ela, cliché e padronizada. Um modo industrial de criticar.
Muito dessa culpa resulta do argumento de Alan Ball, figura incontornável da dramaturgia norte-americana e escritor de uma das obras mais críticas e irónicas da sociedade actual: a série Six Feet Under (2001-2005). O seu argumento resulta numa estética pop americana e consequentemente mundial. Uma crítica sarcástica e cómica de quem vive sob aparências e uma capa de estatutos.
Cada um dos actores é precisamente a personificação desses vícios de personalidade, dessa estética suburbana, dessa corrupção da mente. Kevin Spacey e Annette Bening, num dos melhores desempenhos da década: o marido infeliz e a esposa insatisfeita. Ambos vítimas de uma sociedade politizada, vítimas das rotinas diárias e do politicamente correcto. Thora Birch é a adolescente impopular, enquanto que Mena Suvari é a adolescente popular, mas profundamente calculista e fraudulenta. Chris Cooper como o vizinho estranho e moralista. E Wes Bentley como o marginal, o rebelde anarquista, que procura a estética no bizarro e pouco usual. Actores que fazem o filme, filme feito para estes actores. Personagens clichés e padronizadas, como aquilo que denunciam. O eterno paradoxo de Beleza Americana.
O filme é esteticamente impecável, dotado de um rigor académico na sua realização e direcção artística, na fotografia de Conrad L. Hall (Road to Perdition) ou na banda sonora de Thomas Newman (Revolutionary Road). Coerência estética e verdadeira beleza artística.
Beleza Americana é o retrato do que denuncia. É uma forma de de crítica que, repito, usa os métodos que critica de forma a que a própria sociedade que a produziu possa sentir que se auto-analisou. É uma crítica sarcástica e irónica, original e marcante na década, mas que não é ela mesma isenta de erros e imperfeições. É contudo dessas falhas que o filme atinge o estatuto que tem e não deixa de ser uma boa obra cinematográfica.
Sensacional. Satírica e despudorada crítica de costumes e valores das relações humanas, num argumento tão inteligente quanto ousado e, acima de tudo, muito bem escrito.
ResponderEliminar5*
Pelo menos as 4*, ó Tiago ;D
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Roberto F. A. Simões,
ResponderEliminarEu tentei, eu juro que tentei! :P Mas não consegui... É um filme muito paradoxal!
Essa não percebi!
ResponderEliminar3,5????
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Nekas,
ResponderEliminarTem sempre que ver com um gosto pessoal. Mas conforme expliquei, a crítica sarcástica de American Beauty, mesmo sendo bem feita, é pretensiosa. Critica o padrão, mas critica-o de forma padronizada. Ou seja é demasiado conflituoso a nível interno.
Também não concordo nada...
ResponderEliminarNão irei revelar ainda a minha pontuação, mas no meu humilde ponto de vitsa, acho que deves rever Beleza Americana de uma forma menos racional e mais emocional.
Decerto te deixarás levar pelo espírito do filme :)
Ou não:P
Abraço
Jackie Brown,
ResponderEliminarEu bem que tentei, eu juro. Era para lhe dar 4* apenas por uma questão ainda mais racional, mas depois achei que era mais justo para mim próprio atribuir-lhe 3,5*.
Um dos meus filmes favoritos. Pintava-lhe mais 1,5 estrelas sem problemas :)
ResponderEliminarUm dos meus filmes favoritos. Pintava-lhe mais 1,5 estrelas sem problemas :)
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