Realização: Jason Reitman
Argumento: Jason Reitman e Sheldon Turner
Há filmes que só fazem sentido em determinadas épocas. É o problema de ver filmes muito aclamados, anos depois da sua estreia: muitas vezes perdem a actualidade. Up in the Air goza desse benefício. Surge na hora certa, no momento mais adequado, quando precisamente a conjectura sócio-económica está propícia a ele, quando beneficia de um hype precisamente gerado pelo facto de ser actual. Se não estivéssemos numa das piores fases da economia mundial onde o lay-off se tornou um vocabulário de uso corrente e onde desemprego aumenta a passos largos, Up in the Air não faria tanto sentido. Se vivêssemos em tempos áureos, talvez o filme não tocasse tanto assim o grande público.
Terceira longa-metragem de Jason Reitman, após o sucesso de Thank You for Smoking (2005) – sobre a indústria tabaqueira – e Juno (2007) – a respeito da gravidez na adolescência – Up in the Air apresenta um ar mais maduro e consistente que os seus antecessores. Jason Reitman revela que como actor tem experiência na construção de personagens e por isso constrói um excelente retrato da vida actual, uma espécie de wake up call, um drama com nuances cómicas, comovente mas severamente real. É um road movie, onde a estrada é o céu – nas nuvens – sobre um homem bem sucedido, que na realidade é um nómada, sem bagagem às costas, desprendido cuja única ambição é acumular mais milhas de voo.
O argumento da autoria de Jason Reitman e Sheldon Turner é simples, mas honesto. E beneficiando do facto de abordar o tema do desemprego e dos despedimentos colectivos - usando até para o efeito desempregados reais - acaba por conseguir denotar uma veracidade invulgar, tocando ainda mais o espectador. Isto porque a narrativa não esconde nada, nem coloca panos quentes no politicamente incorrecto. Não, o argumento trabalha tal temática da forma mais natural possível - sem falsos moralismos - permitindo-lhe fazer uma excelente análise ao vulnerável sistema económico mundial, com excelentes e únicas histórias de vida, respirando uma determinada aura indie bastante agradável.
Por seu lado, este retrato actual da vida adulta não deixa de ficar completo com o excelente elenco e personagens. George Clooney mantém-se num registo carismático, numa excelente construção de personagem que permite, ao espectador, identificar-se com o mesmo, de uma forma bastante cativante. Até que ponto carregamos com um fardo maior do que poderíamos carregar? Já Vera Farmiga revela, mais uma vez, o seu elevado nível de qualidade e não raras vezes subestimado. A sua personagem de tons bastante adultos e desprendidos acaba por surpreender o espectador, especialmente na conclusão do seu arco. Mais uma vez sem panos quentes. Por outro lado, a grande surpresa é Anna Kendrick - vinda do elenco secundário da saga juvenil Twilight - com uma das melhores prestações do ano, até ao momento. A sua personagem tem tanto de caricato como dramático. É ela que despoleta uma série de acontecimentos que fazem avançar a história, mas é sobretudo a sua personagem que mais garante ao espectador momentos de reflexão, sobre o trato com as pessoas e sobre humanidade. O espectador aprende com as personagens. As personagens aprendem connosco. Porque o filme é real, tão real como a actualidade.
Tecnicamente, a realização de Jason Reitman revela uma competência mais madura que os seus trabalhos anteriores, intensa, contemplativa e cheia de truques divertidos. Destaque para a sua câmara que garante belíssimos planos - que têm tanto de calmo como de ritmo - e para a sequência inicial de imagens e sons. A fotografia de Eric Steelberg (Juno e 500 Days of Summer) de tons azulados é de óptima qualidade, assim como a montagem de Dana E. Glauberman (Factory Girl e Juno).
Nas Nuvens é um bom filme - sensível e humano - que não deixa de ser extremamente sobrevalorizado à face de todos os prémios e nomeações que tem conseguido, mas que se torna perfeitamente compreensível. A situação actual - ainda mais a norte-americana - é a mesma de Up in the Air. Chegou na altura certa e com isso Jason Reitman soube ser inteligente. É dramático, comovente e veraz, mas não deixa de ser um feel good movie, mesmo nos desfechos mais tristes.
Terceira longa-metragem de Jason Reitman, após o sucesso de Thank You for Smoking (2005) – sobre a indústria tabaqueira – e Juno (2007) – a respeito da gravidez na adolescência – Up in the Air apresenta um ar mais maduro e consistente que os seus antecessores. Jason Reitman revela que como actor tem experiência na construção de personagens e por isso constrói um excelente retrato da vida actual, uma espécie de wake up call, um drama com nuances cómicas, comovente mas severamente real. É um road movie, onde a estrada é o céu – nas nuvens – sobre um homem bem sucedido, que na realidade é um nómada, sem bagagem às costas, desprendido cuja única ambição é acumular mais milhas de voo.
O argumento da autoria de Jason Reitman e Sheldon Turner é simples, mas honesto. E beneficiando do facto de abordar o tema do desemprego e dos despedimentos colectivos - usando até para o efeito desempregados reais - acaba por conseguir denotar uma veracidade invulgar, tocando ainda mais o espectador. Isto porque a narrativa não esconde nada, nem coloca panos quentes no politicamente incorrecto. Não, o argumento trabalha tal temática da forma mais natural possível - sem falsos moralismos - permitindo-lhe fazer uma excelente análise ao vulnerável sistema económico mundial, com excelentes e únicas histórias de vida, respirando uma determinada aura indie bastante agradável.
Por seu lado, este retrato actual da vida adulta não deixa de ficar completo com o excelente elenco e personagens. George Clooney mantém-se num registo carismático, numa excelente construção de personagem que permite, ao espectador, identificar-se com o mesmo, de uma forma bastante cativante. Até que ponto carregamos com um fardo maior do que poderíamos carregar? Já Vera Farmiga revela, mais uma vez, o seu elevado nível de qualidade e não raras vezes subestimado. A sua personagem de tons bastante adultos e desprendidos acaba por surpreender o espectador, especialmente na conclusão do seu arco. Mais uma vez sem panos quentes. Por outro lado, a grande surpresa é Anna Kendrick - vinda do elenco secundário da saga juvenil Twilight - com uma das melhores prestações do ano, até ao momento. A sua personagem tem tanto de caricato como dramático. É ela que despoleta uma série de acontecimentos que fazem avançar a história, mas é sobretudo a sua personagem que mais garante ao espectador momentos de reflexão, sobre o trato com as pessoas e sobre humanidade. O espectador aprende com as personagens. As personagens aprendem connosco. Porque o filme é real, tão real como a actualidade.
Tecnicamente, a realização de Jason Reitman revela uma competência mais madura que os seus trabalhos anteriores, intensa, contemplativa e cheia de truques divertidos. Destaque para a sua câmara que garante belíssimos planos - que têm tanto de calmo como de ritmo - e para a sequência inicial de imagens e sons. A fotografia de Eric Steelberg (Juno e 500 Days of Summer) de tons azulados é de óptima qualidade, assim como a montagem de Dana E. Glauberman (Factory Girl e Juno).
Nas Nuvens é um bom filme - sensível e humano - que não deixa de ser extremamente sobrevalorizado à face de todos os prémios e nomeações que tem conseguido, mas que se torna perfeitamente compreensível. A situação actual - ainda mais a norte-americana - é a mesma de Up in the Air. Chegou na altura certa e com isso Jason Reitman soube ser inteligente. É dramático, comovente e veraz, mas não deixa de ser um feel good movie, mesmo nos desfechos mais tristes.
Classificação:
Excelente crítica Tiago. Estou de acordo com praticamente tudo que falaste. E numa coisa tens razão, Jason Reitman traz este filme na altura certa e soube ser inteligente na sua realização.
ResponderEliminarÉ um óptimo filme, mas que com certeza não passará de uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme.
Obrigado Fernando. Mas apostava mais numa nomeação para o Óscar de Melhor Argumento Original. Talvez o ganhe à luz do que tem acontecido nos últimos anos com filmes indie como Juno ou Little Miss Sunshine, embora o de Inglourious Basterds fosse merecido (mas a Academia não gosta muito de Tarantino).
ResponderEliminarVou ser sincero, não li a tua crítica, o porquê? Quero tanto ver este filme que não quero ser influenciado por nada a fim de contemplar a obra tal como ela é, apenas vi um trailer.
ResponderEliminarAbraço
http://nekascw.blogspot.com/
Fazes bem! Quando vires o filme, deixa a tua opinião. :)
ResponderEliminarEu disse-te que quando visse o filme deixava aqui a opinião.
ResponderEliminarEu gostei imenso do filme embora inferior aos Sacanas, Nas Nuvens revela-se um feel good movie misturado com uma drama/comédia sério e leve.
De certeza que figura nos melhores do ano!
Abraço
http://nekascw.blogspot.com
São filmes incomparáveis. Bons, mas sem força suficiente para singrar junto da Academia na categoria de Melhor Filme, que deverá ser para The Hurt Locker. Up in the Air vencerá na categoria de Melhor Argumento Adaptado e Inglourious Basterds na de Melhor Argumento Original. :D
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