LOST: What Kate Does (6.03)

Depois do brilhante regresso da série com "LA X", o episódio desta semana deixou os fãs divididos. Se alguns se emocionaram e deliciaram com as ironias que nos foram mostradas, outros não apreciaram o abrandamento do ritmo da narrativa. Juntando a estes últimos o conjunto de fãs "anti-Kate" e, pior ainda, aqueles que não acompanharam a série mas querem ver como acaba, temos a receita para uma onda de contestação, na minha opinião, bastante infundada. Como qualquer início de temporada, o episódio teve como objectivo preparar vários arcos de história dos personagens. Ainda assim, esteve carregado com uma forte componente emocional, referências a episódios anteriores e ainda uma grande revelação...

Mundo Paralelo

A história parte do ponto em que vimos Kate pela última vez. Ao fugir do Marshal, entra num táxi, onde se encontrava a Claire, e obriga com uma arma o motorista a arrancar. Mas há um contratempo: Arzt aparece pelo caminho. Kate está desesperada, mas algo faz o seu mundo parar.

Pela janela, vê um homem no exterior que lhe causa uma sensação estranha, uma espécie de dejá-vu... Esse homem é Jack, mas Kate só se cruzou com ele no avião. É aqui reforçada a ideia de que os mundos estão ligados e, possivelmente, estará presente em muitas situações futuras dentro desta realidade. Pelo caminho da sua fuga, Kate deixa para trás o taxista e a própria Claire, ficando-lhe com a bagagem. É aqui que temos a confirmação de que o passado da Claire se manteve, pois está grávida e veio a Los Angeles para dar a criança.

O que Kate procurava na bagagem era apenas um disfarce, mas o que encontra abala a sua consciência: um conjunto de produtos para bebé, incluindo um peluche em forma de orca. Curiosamente, na realidade original, é Kate quem dá ao Aaron um peluche exactamente igual. A sua expressão é a de quem se apercebe que fez uma grande estupidez. Arrependida, procura Claire para lhe devolver a bagagem, mas acaba por ajudá-la em procurar o casal responsável pela adopção.

O psíquico dizia a Claire que tinha de ser ela própria a criar a criança, mais ninguém. Nesta realidade, isso parece manter-se: afinal, o casal separou-se e a mãe adoptiva desistiu, sem sequer avisar.

Claire sente contracções e é levada pela Kate ao hospital mais próximo, onde é recebida por uma enfermeira que, na outra realidade, trabalhou como ama do Aaron [créditos]. No interior do hospital, encontram Ethan, que agora se dá pelo nome do pai. A cena em que Ethan cuida da Claire no hospital consegue ser das mais desconcertantes de toda a série.

Para Claire e Kate, não há qualquer motivo para desconfiar do médico. Para o espectador, no entanto, é impossível esquecer toda a história entre Ethan e Claire. Fica-se na expectativa de que algo estranho aconteça... mas tudo corre bem. É também aqui que o nome "Aaron" surge na mente de Claire e, tal como na realidade original, não sabe porquê.

Uma série de eventos inesperados acabou por juntar nesta realidade duas mulheres que, na Ilha, desenvolveram uma boa amizade. Duas desconhecidas que, aos poucos, criam uma relação de confiança. O destino da Kate está profundamente ligado ao do Aaron: é ela que o traz à vida na realidade original, e é ela quem o vai criar durante três anos.

Mundo Original

James é um homem destruído. Não tem qualquer ligação ao grupo, nem está minimamente preocupado com os problemas dos Others, por isso força a sua própria saída do Templo. O seu erro foi pedir à Kate para não o seguir.

Há duas coisas que Kate não suporta: a ideia de estar confinada a um local e que alguém lhe diga para ficar parada. Kate segue o James e leva consigo o Jin, cuja motivação é encontrar a sua mulher na Ilha. No entanto, acaba por deixar o Jin para trás na companhia de dois Others e foge na direcção do James. O seu encontro é um dos momentos mais emotivos da série, em que descobrimos que James planeava casar-se com a Juliet. Ambos culpam-se pela morte dela, ambos sentem que o seu destino é ficarem sozinhos. Cada um segue o seu caminho.

No Templo, os Others estão preocupados com a aparente ressurreição de Sayid. Suspeitam que ele tenha sofrido uma infecção e torturam-no para testar as reacções do seu organismo. Diagnóstico: infectado. Esta cena estabelece um paralelismo irónico com o episódio "Solitary" (1.09), em que Rousseau tortura Sayid e fala da doença que afectou os seus companheiros. Dogen convence Jack a dar "medicina" ao Sayid, mas a confiança que este lhe atribui faz com que Jack recue. De facto, a "medicina" em questão era um veneno letal que mataria Sayid.

A infecção faz com que as trevas se apoderem do coração da pessoa cujo corpo seja "reclamado". Aos poucos, Sayid deixará de ser a mesma pessoa. Dogen revela ao Jack que sabe que isto aconteceu ao Sayid, pois foi exactamente o mesmo que aconteceu à Claire. Naturalmente, a cena seguinte mostra-nos o seu paradeiro, quando Claire encontra o Jin após alvejar os dois Others que o acompanham. Ao longo dos últimos 3 anos, tornou-se numa sucessora espiritual da Rousseau, espalhando armadilhas pela Ilha, vivendo muito possivelmente isolada do mundo. Ainda assim, a última imagem do episódio indica-nos que ela terá reconhecido o Jin...

A Infecção

Este parecia ser o mistério mais esquecido da série. "Matou-os a todos", dizia Rousseau na sua transmissão de rádio, ouvida no primeiro episódio da série.

Após um encontro com o Black Smoke, os companheiros da Rousseau foram levados para o interior da muralha que rodeia o Templo. Na realidade, foi Danielle quem os matou: desde o seu regresso que foram gradualmente deixando de ser os mesmos, tornaram-se estranhos e perigosos. A impressão com que havíamos ficado era a de que não existe infecção alguma, que isto seria manipulação do Black Smoke. Esta semana, o mistério volta a ser relevante: afinal, o que é a infecção?

Quando a equipa do Keamy lança um rocket contra a casa onde a Claire estava a viver, não se avizinhava um futuro risonho para a australiana. James resgata-a e leva-a para casa do Ben, onde fica em repouso. Claire afirma estar bem, dizendo que está um pouco tonta mas sobrevive. Miles observa-a com curiosidade e responde-lhe que não teria tanta certeza disso. Depois de evacuarem para a floresta, no entanto, Miles continua obcecado: algo em Claire está errado.

Nessa noite, Claire acorda e encontra Christian (o seu falecido pai) com Aaron ao colo. Segue-o pela floresta e deixa o filho para trás. Quando a voltamos a ver, está na cabana com o Christian. Este diz ao Locke que representa o Jacob e Claire está com ele. Será verdade? Afinal, não temos a certeza de quem seria o dono da cabana, nem porque motivo estava rodeada por cinzas. O perturbador, é o ar completamente diferente que vemos na expressão da Claire.

Desta vez foi Sayid, alvejado por Roger Linus, que sucumbiu à infecção após a tentativa falhada de o curar na fonte. Terão todos estes personagens chegando a morrer, ou foram "reclamados" pela infecção durante o limbo? Seja como for, algo neles muda drasticamente. O exemplo de John Locke mostra-nos que o Black Smoke não necessita de um corpo para se apoderar da alma: o cadáver do Locke continua inanimado, na areia.

No entanto, no caso dos "infectados", é o próprio corpo que se deixa apoderar por estas "trevas". Será então por este motivo que os Others são tão obcecados pelos corpos dos seus mortos? O ritual dos seus funerais consiste em queimar o corpo e enviá-lo para o mar. Claramente, os Others querem evitar ao máximo que a infecção se espalhe, pelo que poderá dizer-se que não é uma responsabilidade do Jacob. Ao mesmo tempo, é um comportamento diferente das aparições feitas pelo Black Smoke. A questão que se levanta é, então, qual a verdadeira origem da infecção. E será que esta infecção também se aplica o caso do Christian?