Título original: The Blind Side (2009)
Realização: John Lee Hancock
Argumento: John Lee Hancock e Michael Lewis
Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron e Jae Head
Há filmes que fazem mais sentido no ambiente social em que são produzidos. Daí se poderá explicar a recepção e o impacto que The Blind Side teve do outro lado do Atlântico, nomeadamente em terras do Tio Sam. O filme que em Portugal recebeu o título sofrível Um Sonho Possível é um filme tipicamente feito por americanos e para americanos e daí, ao analisá-lo, é importante levar em conta esse factor.
Um Sonho Possível não é o filme tipicamente académico, mas não foi por isso que deixou de surgir entre os nomeados a Melhor Filme pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A excelente receita de bilheteira alcançada pelo filme e a interpretação de Sandra Bullock, a namorada dos EUA, ajudou a criar tal impacto. Mas acima de tudo, porque é um filme sobre a moral e os bons costumes, essencialmente os republicanos, o que faz de Um Sonho Possível uma espécie de conto moralista. De certa forma é o apanágio de um estilo civilizacional que julgávamos já ultrapassado, num período que - achávamos nós - era altamente democrata.
Este é um típico filme de matiné de Domingo, recheado de clichés e extremamente idealista. John Lee Hancock, nas rédeas da realização, assume um tom panfletário, uma espécie de vídeo institucional, onde conflitos de grande escala não acontecem e onde, mesmo com altos e baixos, nada desvirtua o conceito original dos valores morais. Baseado na obra The Blind Side – Evolution of a Game, o filme retrata a história de vida do conhecido jogador norte-americano Michael Oher. Uma história de suor, lágrimas e boa vontade tipicamente americana e que faz recordar clássicos dos anos 90, como Duelo de Titãs (2000).
A história é moral o suficiente para valorizar a crença no altruísmo cristão e republicano, bem como no estereótipo racial que induz à valorização da raça branca. É flagrantemente propaganda religiosa até, mas num filme classicamente americano, entende-se o retrato da classe média do interior dos Estados Unidos. E o filme acaba por irritar por esse mesmo moralismo, mas se não for visto com pretensões superiores, acaba por resultar no seu objectivo. A puxar à lágrima fácil, a ser emotivo e moralista. É este o filme americano, é este o género que move multidões e embora John Lee Hancock não traga nada de extraordinário à sua visão, está de parabéns pelo oportunismo de trazer o filme certo no momento certo. Inclusive no retrato irónico e crítico de uma sociedade underground maltratada pelo governo norte-americano, note-se a ironia de uma cena particular numa sala de espera de uma repartição pública, onde surge uma foto de George W. Bush.
Os actores são de facto interessantes. Não elevam o filme a algo maior, mas são suficientemente competentes para cumprir o objectivo do filme. Começando por Quinton Aaron, realista o suficiente no seu papel de negro vítima de exclusão familiar e social, mas que vive agora o american dream. E passando pelos papéis secundários de Tim McGraw e o divertido Jae Head. Mas a surpresa é Sandra Bullock, vencedora do Óscar de Melhor Actriz e inúmeros outros prémios esta temporada, habitualmente conhecida por uma carreira de altos e baixos e no género de comédia, que agora surge num género dramático, despoletado essencialmente em Crash (2004). Provavelmente teve o desempenho mais fraco de todas as suas adversárias, mas era devida a gratidão à Miss Hollywood, que sabe-se que dificilmente voltaria a ter uma oportunidade como esta. É uma das actrizes mais queridas entre os seus e daí se explica a enorme ovação que recebeu naquela noite. E foi a actriz que melhor percebeu o motivo daquele prémio. E a humildade é apreciada. O seu desempenho em The Blind Side não é maravilhoso, mas não deve ser criticado. A sua personagem é empenhada, activa e ajuda, em alguns momentos, a sair da pieguice a que filme tende a cair.
Um Sonho Possível é acessório, não traz nada de novo – o que vemos é um desfile de clichés banais e tipicamente americanos – mas também não é necessariamente descartável.
Um Sonho Possível não é o filme tipicamente académico, mas não foi por isso que deixou de surgir entre os nomeados a Melhor Filme pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A excelente receita de bilheteira alcançada pelo filme e a interpretação de Sandra Bullock, a namorada dos EUA, ajudou a criar tal impacto. Mas acima de tudo, porque é um filme sobre a moral e os bons costumes, essencialmente os republicanos, o que faz de Um Sonho Possível uma espécie de conto moralista. De certa forma é o apanágio de um estilo civilizacional que julgávamos já ultrapassado, num período que - achávamos nós - era altamente democrata.
Este é um típico filme de matiné de Domingo, recheado de clichés e extremamente idealista. John Lee Hancock, nas rédeas da realização, assume um tom panfletário, uma espécie de vídeo institucional, onde conflitos de grande escala não acontecem e onde, mesmo com altos e baixos, nada desvirtua o conceito original dos valores morais. Baseado na obra The Blind Side – Evolution of a Game, o filme retrata a história de vida do conhecido jogador norte-americano Michael Oher. Uma história de suor, lágrimas e boa vontade tipicamente americana e que faz recordar clássicos dos anos 90, como Duelo de Titãs (2000).
A história é moral o suficiente para valorizar a crença no altruísmo cristão e republicano, bem como no estereótipo racial que induz à valorização da raça branca. É flagrantemente propaganda religiosa até, mas num filme classicamente americano, entende-se o retrato da classe média do interior dos Estados Unidos. E o filme acaba por irritar por esse mesmo moralismo, mas se não for visto com pretensões superiores, acaba por resultar no seu objectivo. A puxar à lágrima fácil, a ser emotivo e moralista. É este o filme americano, é este o género que move multidões e embora John Lee Hancock não traga nada de extraordinário à sua visão, está de parabéns pelo oportunismo de trazer o filme certo no momento certo. Inclusive no retrato irónico e crítico de uma sociedade underground maltratada pelo governo norte-americano, note-se a ironia de uma cena particular numa sala de espera de uma repartição pública, onde surge uma foto de George W. Bush.
Os actores são de facto interessantes. Não elevam o filme a algo maior, mas são suficientemente competentes para cumprir o objectivo do filme. Começando por Quinton Aaron, realista o suficiente no seu papel de negro vítima de exclusão familiar e social, mas que vive agora o american dream. E passando pelos papéis secundários de Tim McGraw e o divertido Jae Head. Mas a surpresa é Sandra Bullock, vencedora do Óscar de Melhor Actriz e inúmeros outros prémios esta temporada, habitualmente conhecida por uma carreira de altos e baixos e no género de comédia, que agora surge num género dramático, despoletado essencialmente em Crash (2004). Provavelmente teve o desempenho mais fraco de todas as suas adversárias, mas era devida a gratidão à Miss Hollywood, que sabe-se que dificilmente voltaria a ter uma oportunidade como esta. É uma das actrizes mais queridas entre os seus e daí se explica a enorme ovação que recebeu naquela noite. E foi a actriz que melhor percebeu o motivo daquele prémio. E a humildade é apreciada. O seu desempenho em The Blind Side não é maravilhoso, mas não deve ser criticado. A sua personagem é empenhada, activa e ajuda, em alguns momentos, a sair da pieguice a que filme tende a cair.
Um Sonho Possível é acessório, não traz nada de novo – o que vemos é um desfile de clichés banais e tipicamente americanos – mas também não é necessariamente descartável.
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