domingo, 25 de abril de 2010

Kick-Ass - O Novo Super-Herói, por Carlos Antunes


Título original: Kick-Ass
Realização: Matthew Vaughn
Argumento:
Matthew Vaughn e Jane Goldman
Elenco: Aaron Johnson, Christopher Mintz-Plasse, Chloe Moretz e Nicolas Cage

Kick-Ass começa por trazer os super-heróis ao nível realístico da ilusão inocente ou da meticulosa obsessão.
A sua reflexão parece pretender desconstruir as normas que durante décadas regem os super-heróis, banalizando as principais ideias de como estes surgem e da razão porque actuam.


Fá-lo, no entanto, sem deixar de se querer inscrever no universo reconhecível desses mesmo super-heróis, querendo radicalizar o discurso sobre os limites da conjugação , mas levando a forma a ultrapassar esses mesmo limites.
Não é uma desonestidade, é apenas uma limitação de quem não pode fugir - nem ofender - àqueles que seguem e pagam este tipo de produções.
Kick-Ass sofre a quebra de quem até pode ter algumas ideias sobre como o universo dos comics tem de ser enfrentado para se actualizar e superar como forma de arte, mas não tem coragem ou capacidade para o fazer ele próprio, arriscando assim tornar-se um objecto incompreendido.
Kick-Ass não parte do interior do universo de super-heróis para expandir os seus limites, antes tenta tocar essa quebra das normas não se deslocando um milímetro de uma zona segura de concretização.
O mesmo problema que já tinha Wanted, não por acaso do mesmo criador de Kick-Ass, Mark Millar.


O humor inicial de Kick-Ass, capaz de tornar um tiro à queima-roupa de um pai à própria filha num momento de ternura, tem a capacidade de nos colocar na disposição de seguir estes personagens desfasados da realidade por vontade própria.
O herói tosco que leu BD a vida toda e que acha que com o uniforme se transforma no que nunca foi e o pai que treinou a filha de 11 anos como (provavelmente) a melhor lutadora existente.
O grau de violência tem um traço de realismo burlesco, mais exagerado por ser cometido por uma miúda de peruca roxa contra criminosos da pior espécie.
Só lá mais para a frente é que o exagero da resolução da luta a tiro de bazuca deita abaixo muito do esforço inicial e põe em evidência que estes heróis são tão típicos como os outros, com a mesma história de vingança e a mesma predisposição para a sequela.


A viagem é, sem dúvida, repleta de adrenalina, mas insuficiente para quem queria o filme adulto que, dentro do mesmo género, The Dark Knight é, de um pessimismo e desprezo evidente pela realidade e pelo escapismo que deveria proporcionar, sem por isso garantir a atração do público.
Kick-Ass não tem a bitola ao nível primário de muitos filmes adolescentes - como acaba por se ver também através da classificação restritiva com que ficou - mas acaba em termos de estilo no mesmo ponto que no início atirou de cabeça contra um táxi.
Nada de mal em ser auto-crítico enquanto se trabalha de dentro do "sistema", mas é preciso ser subversivo de forma inteligente e assumi-lo, não fingir que se vai quebrar as regras para voltar ao ponto em que se estava.


São os actores que melhor saiem daqui, Mark Strong cada vez mais o vilão perfeito, Nicolas Cage extravagante até ao fim, Aaron Johnson numa revelação convincente e Chloe Moretz a roubar o filme sem esforço (veremos até que ponto pode ir nas mãos de Martin Scorsese).
De Matthew Vaughn continuar a ser mais memorável Stardust, mas se este filme lhe garantir a possibilidade de continuar a fazer filmes mainstream com alguma irreverência, não é mau resultado.
Só fica alguma dose de pena por Kick-Ass não ir mais longe.



2 comentários:

  1. Eu ainda não assisti o filme, mas li a hq e gostei muito, talvez o filme não tenha tanto da blz da hq, o dave é um garoto que tenta combater o crime e leva uma baita surra pelo que vi parece que isso não vai aparecer no filme oque é muito triste. Acho que kick-ass é uma quebra de paradgima chega de herois super poderosos e cheios de si, o universo dos super herois está mudando deem uma olhada em Irredimable, Super Deus, The boys e outras series sobre estes herois de capa.

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  2. tsc tsc... tem tanta gente amadora que se acha profissional.

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