segunda-feira, 31 de maio de 2010

Aquário, por Carlos Antunes


Título original: Fish Tank
Realização: Andrea Arnold
Argumento: Andrea Arnold
Elenco: Katie Jarvis, Charlotte Collins, Kierston Wareing, Michael Fassbender

Fish Tank inscreve-se numa tradição de realismo dramático a que, sinceramente, não pertence.
Ao seu conteúdo que coloca em evidência a decadência suburbana inglesa, a forma procura uma poesia dessa mesma decadência que não se justapõe com coerência ao que o filme quer relatar.
Imageticamente o filme está, claramente, à procura de conquistar um público - de festivais sobretudo, diria - desligando-se da necessidade de relatar a decadência também através de um olhar impassível e até mesmo voyeurista sobre tal ambiente.


Há que reconhecer, no entanto, o mérito do filme ao trabalhar um complexo conjunto de relações sem cair no melodrama simplista.
Num núcleo muito restrito de filha-mãe-namorado ensaiam-se tanto as dinâmicas violentas das famílias encerradas num ambiente de confronto do qual não sabem escapar - por não saberem exprimir outras emoções -, como as complexidades das relações sexuais de duvidosa moral, seja pela traição ou pelo envolvimento de uma menor.


Mas os dois talentos maiores envolvidos no filme, um revelado pertencendo a Katie Jarvis e outro confirmado pertencendo a Michael Fassbender, mereciam que o filme fosse para lá de um mero reconhecimento de que evita o melodrama ao cingir este conjunto de relações.
Tais talentos mereciam que o filme arrancasse dessas relações um sentido muito maior de tragédia, de irreversível mudança do paradigma de cada uma destas vidas.
As vidas continuam como sempre, amedontradas por um momento, mas logo depois esquecidas do que acabou de ocorrer.


Os dois talentos mereciam, acima de tudo, que não houvesse tantas sugestões dentro da narrativa que enveredam para o esquecimento e que não houvesse esse sentido metafórico mal utilizado para o Aquário como o local onde a protagonista se fecha voluntariamente para daí tentar a sua fuga.
Fish Tank parece demasiado composto para uma audiência sequiosa de dar apreço público a um "pequeno" filme a elevar-se para lá da sua (humilde) origem.
O seu realismo está repleto de acessórios que o negam e, assim, lhe retiram a força do drama que é a sua essência.



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