quinta-feira, 13 de maio de 2010

Robin Hood, por Tiago Ramos



Título original: Robin Hood (2010)
Realização: Ridley Scott
Argumento: Brian Helgeland

Não deixa de ser um sintoma do Cinema contemporâneo, mas a par dos últimos anos, também este ano, a abertura do mais importante festival de cinema do mundo - falamos do Festival de Cannes - sucumbe ao poder comercial, dos grandes estúdios. Não deixa de ser ainda mais irónico quando é escolhido um filme que coloca os franceses do lado dos vilões, mas adiante. Ridley Scott é um nome sonante do cinema contemporâneo e a parada de estrelas que potencialmente levaria a Cannes foram mais suficientes para que Robin Hood fosse o escolhido para abrir a competição.



Na verdade aquilo que Ridley Scott nos traz, apesar da ideia interessante, não é mais que um épico frouxo e morno, vítima de uma certa falta de ambição em tornar o projecto potencialmente mais aliciante. Robin Hood poderia ser a prequela bem sucedida de um dos mitos mais conhecidos de sempre. Este Robin dos Bosques, este guerreiro encapuçado que conhecemos, não é ainda o herói dos mais desfavorecidos, que rouba aos ricos para dar aos pobres. Não é ainda o mito que o tornou popular. É apenas um guerreiro, regressado das Cruzadas, ansioso por descobrir as suas origens e com alguns dos tiques de justiceiro.

E é precisamente aí que o filme peca. Ridley Scott abandona as ideias em focar o filme em Nottingham e no domínio do seu xerife e volta as suas atenções para o óbvio: a origem de Robin Hood. Por consequência temos um argumento desinteressante em grande parte do tempo e descurando as personagens secundárias, como Ricardo Coração de Leão e outras. Russel Crowe não tem o carisma necessário para interpretar tal personagem, actua em piloto automático grande parte do tempo e nem a forma física abona a seu favor. Por outro lado, temos uma Cate Blanchett a interpretar uma das personagens mais interessantes e melhor compostas do filme: Lady Marion. A que conhecemos aqui é uma mulher corajosa, feminista, autónoma e independente. É ela que segura grande parte do filme e é precisamente quando se foca nesta personagem que o épico atinge novos contornos. Max von Sydow e Mark Strong complementam o elenco com os seus desempenhos competentes.



Porém, a nível técnico, Robin Hood cumpre a sua função. A reconstituição histórica, desde o guarda-roupa, aos cenários, ao som e à fotografia, atinge um grande nível de competência que lhe poderá garantir algumas nomeações (quem sabe prémios), na próxima temporada. Porém, como ponto negativo existem algumas soluções questionáveis como a contextualização história inicial, altamente cliché, evocando a época medieval, bem como o uso dos close-ups e slow-motions.

Robin Hood apenas não é a desgraça que poderíamos pensar, porque cumpre a sua função de blockbuster de entretenimento e que certamente irá agradar às massas. Mas da ideia e de Ridley Scott esperava-se mais. Muito mais.



Classificação:

4 comentários:

  1. Ui. A tua crítica veio a provar o que se mostrou em alguns trailers - um blockbuster desprovido de alma.
    Ao menos Cate Blanchett safa-se, pensava que Crowe seria, no mínimo, competente no seu papel.
    Espero que Cannes não recaia no pensamento financeiro e comece a excluir a qualidade como já tem acontecido com grande parte dos festivais.

    Abraço
    Cinema as my World

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  2. Já nos últimos anos a sessão de abertura do Festival de Cannes tem sido com blockubsters. É o comercial que garante mais vedetas. Porém, espero que tal não passe a acontecer é dentro da competição.

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  3. O filme é bom e a Cate e o Sydow são a alma dele.

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  4. Para mim é fraco, mas concordo quanto ao que falas dos dois actores.

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