terça-feira, 22 de junho de 2010

Um Funeral à Chuva, por Tiago Ramos



Título original: Um Funeral à Chuva (2010)
Realização: Telmo Martins
Argumento: Telmo Martins e Luís Campos
Elenco:
Sílvia Almeida, Alexandre da Silva, Luís Dias, Pedro Diogo, Pedro Gorgia, Adelaide João, Sandra Santos, Hugo Tavares e João Ventura

Se há factores que não podemos deixar de falar quando nos referimos a Um Funeral à Chuva são estes, a coragem e determinação. Num país como Portugal em que praticamente não existem apoios ao cinema português, onde o ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual) não gere da melhor forma a distribuição dos seus subsídios, onde o FICA (Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual) está monopolizado pelos canais de televisão e as distribuidoras constroem verdadeiros monopólios, realizar um filme sem qualquer apoio financeiro é um grande feito.



Telmo Martins, um jovem realizador e antigo estudante da Universidade da Beira Interior, com algumas curtas-metragens já no seu currículo e que decidiu investir numa longa-metragem, sem quaisquer apoios financeiros, através do apoio de actores amigos que concordaram em dividir os custos e ganhos com a distribuição do filme. E esta atitude arrojada e abnegada, que revela um enorme Amor ao Cinema, faz com que Um Funeral à Chuva seja um filme a não perder.

Simplicidade é a palavra de ordem. É a mesma paixão e amor que Telmo Martins deu ao projecto que se reflecte no seu argumento com Luís Campos. Na forma realista como retrata o espírito e vivências académicas, as amizades criadas e a espontaneidade com a qual olhamos para o mundo, sem olhar às responsabilidades. Interessante também é o paralelismo efectuado entre a vida de jovem estudante e trabalhador adulto. Uma fase de transição que certamente fará com que muitos dos espectadores se identifiquem com o filme. Mas o que realmente se torna tocante ao longo de todo o filme é o mote que desencadeou todo o evento principal da trama: a morte de um antigo amigo de curso e a reunião de todos os outros na Covilhã. Daí parte-se para um drama convincente, com algum tom melancólico, mas sempre pontuado com alguma comédia subtil e outra mais física e explícita. Um equilíbrio interessante, nem sempre eficaz, mas que de forma geral ajuda a encarar o filme com outros olhos.



Contudo, o que de mais negativo se nota em Um Funeral à Chuva é o ritmo lento do argumento aliado a uma excessiva duração do mesmo e que em nada adianta à história. Ou ainda a pouca profundidade na construção das personagens, o que mesmo para um argumento que tem como finalidade a exploração da temática do companheirismo e amizade, acaba por se revelar um deficit grave. As cenas forçadas (especialmente o final) assemelham-se demasiado em determinadas alturas a um mega-anúncio publicitário da Super Bock (product placement curiosamente). Os actores também, salvo raras excepções, revelam o seu amadorismo e por vezes apenas João Ventura, em todo o silêncio que o permeia, é convincente.

Tecnicamente, a realização de Telmo Martins é exímia, juntamente com a belíssima fotografia e banda sonora de todo o filme, o que se traduz em belos momentos de cinema, especialmente aqueles que contemplam a cidade da Covilhã. Mas a flagrante deficiência na captação e tratamento do som (demasiado alto ou baixo, consoante o momento) tornam este um erro imperdoável, mas para um filme sem financiamento.



Contudo, a um filme como Um Funeral à Chuva estas falhas (demasiado gritantes para outros filmes) perdoam-se. A paixão com que o filme é realizado faz deste um grande exemplo a seguir e faz de Telmo Martins um realizador a levar em conta no futuro. E nem mesmo as grandes semelhanças com o argumento de The Big Chill (1983) impedem que Um Funeral à Chuva seja um dos mais refrescantes filmes que teremos a oportunidade de ver este ano, especialmente numa produção nacional.

Classificação:

1 comentário:

  1. O cinema português ainda tem muito que evoluir mas e através de tentativas como esta que evolui.

    Abraço
    Cinema as my World

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