O terceiro dia do Festival de Veneza trouxe algumas surpresas ao panorama cinematográfico, mas sobretudo deixou surpreso todos os convidados e jornalistas quando uma tempestade se abateu sobre os canais de Veneza. Mas nem isso impediu o festival de continuar a toda a força.
Um dos filmes que criava mais expectativa da competição desse dia era com certeza Somewhere, de Sofia Coppola. A crítica com certeza se dividiu, mas todos foram unânimes em concluir que é neste género em que realmente se sente melhor. Este território é familiar para Sofia Coppola: as estrelas de cinema e o tédio e desconforto que se abate sobre as mesmas, não obstante aquilo que aparentam. Entre as inevitáveis comparações com Lost in Translation (2003), surgiu uma diferente: Marie Antoinette (2006). O que terão em comum? Aparentemente a personagem rica perdida num mundo que não domina. Mas além das similaridades - ninguém filma o vazio como Sofia Coppola (talvez ela se sinta num?), encontramos algo novo. Um vínculo maior à noção de família, de conforto e afecto familiar e a crítica argumenta que isso resultou bastante bem. Quanto às interpretações de Stephen Dorff e Elle Fanning? Diz-se por aí que é o empurrão que necessitavam para a sua carreira.
O filme francês Happy Few também se destacou ao terceiro dia de festival. Dizia o realizador Antony Cordier, a dada altura, que se gostaram do filme é porque este era banal. Mas isto é porque não tem medo de ser honesto e encarar que a temática se encontra no nosso quotidiano, já que em Veneza não deixaram de se surpreender com as evidentes cenas de sexo e troca de casais, o vulgo swing. «É um filme moderno» diz o realizador. No final é de contas é um romance, com nuances cómicas e que não passou despercebido. Especialmente o actor Nicolas Duvauchelle, que vimos recentemente em Les Herbes Folles.
Mas o terceiro dia não estaria finalizado sem a homenagem a John Woo, que se torna assim o primeiro cineasta chinês a receber um Leão de Ouro pela sua carreira. Em Veneza apresentou Reign of Assassins, do qual é realizador e produtor e onde se cruza uma história de amor com uma lenda do kung fu.
Ao quarto dia, foram dois grandes nomes franceses que deram cartas entre os italianos. François Ozon volta a surpreender com Potiche, uma comédia social dos anos 70 e como tal carregado de estereótipos e que agradou a crítica. Não se pararam de ouvir comparações entre este e o seu 8 Femmes, o que neste caso é positivo e saudável. Mas a maior surpresa é Catherine Deneuve, que poderá novamente ter reencontrado o seu lugar entre o grande público, naquela que é apelidada como uma grande interpretação no papel de uma mulher cansada de ser um mero bibelô.
Da Rússia surgiu Silent Souls, uma agradável surpresa em competição. De Aleksei Fedorchenko, chega um filme melancólico sobre os rituais do povo Merjan, mas que também gerou controvérsia acerca dos actos sexuais gráficos durante o mesmo. Mas sobretudo aquilo que a crítica destaca é a visão poética do russo e a sua técnica com a câmara, num filme adaptado de um romance contemporâneo sobre as lembranças de um escritor sobre o seu pai poeta e a mãe, que morreu durante o parto.
Mas a grande esperança para o Leão de Ouro surgiu entre o italiano - ou não estivéssemos nós em Veneza - La Passione. O filme encontra-se entre os melhores classificados pela crítica internacional - especialmente a italiana. Mas há quem o acuse de ser uma repetição narrativa e comercial do cinema italiano nos últimos anos. Sinteticamente o filme é uma comédia sobre um realizador fracassado que se vê em mãos com uma peça de teatro sobre a Paixão de Cristo.
Bela seleção neste Festival, como sempre. Muito ansioso por "Somewhere".
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