domingo, 12 de setembro de 2010

"O Sexo e a Cidade": a série vs. os filmes


A primeira diferença que se nota entre a série e os filmes é que a série fez a diferença e marcou uma nova era na tv, os filmes vieram apenas para ser "mais dois filmes" de uma colecção de muitos filmes semelhantes.

Em 1998 surgiu uma série que quebrou todos os pudores sobre sexo: afinal as mulheres também falavam de sexo e faziam-no numa série de tv para quem quisesse ver, fosse enquanto tomavam o pequeno-almoço num qualquer café de Nova Iorque ou pelo telefone. Talvez hoje em dia isto não pareça muito, afinal de contas hoje em dia referências destas aparecem em todos os canais a qualquer hora do dia, mas se o fazem é porque a HBO mais uma vez decidiu quebrar os limites.


Podia dedicar-me a falar sobre todo o lado fútil da série, onde um par de Manolos alimentava mais a protagonista do que um mês de refeições garantidas, ou onde um roupeiro cheio de roupa de estilistas que não eram usadas mais do que uma vez era algo considerado normal. Mas isso toda a gente sabe e não seria preciso um artigo num blogue de cinema para alguém se aperceber. Falemos então do que fez da série um sucesso e dos filmes... bem, aquilo que eles são (não se poderia chamar fracasso de bilheteira, porque toda uma legião de fãs consumiu os bilhetes como se fossem roupa de marca com 80% de desconto, mas um fracasso cinematográfico é decerto, bem como um fracasso argumentista quando comparado com a série).

"O Sexo e a Cidade" que surgiu há mais de 10 anos atrás foi uma lufada de ar fresco para as mulheres e os homens que não se deixaram convencer pelo lado claramente feminista da série. As quatro personagens principais eram tão diferentes entre si que qualquer mulher conseguia encontrar algum aspecto em comum com pelo menos uma delas, fossem elas a mulher de carreira, a que procurava a família, a que desesperava por encontrar o verdadeiro amor ou a que simplesmente gostava de si própria. Estas quatro personagens, embora em Nova Iorque e longe de uma vida semelhante à da comum espectadora, conseguia aproximar-se dela pelas vivências do dia a dia, que independentemente do local onde se viva tendem a repetir-se e ser semelhantes entre si.


Algo de muito importante na série foi desmistificar o papel feminino nas relações e satirizar as próprias mulheres (afinal de contas, as manias e paranóias femininas não podiam ser elevadas a comportamento correcto, embora fossem elevadas a comportamento habitual). A nível de qualidade, no início notava-se que a série era de baixo orçamento, mas pelo menos a nível de argumento ela manteve sempre a mesma qualidade: uma temática por episódio, boas sátiras, bom equilíbrio entre drama e comédia e uma caracterização fiel, embora por vezes ligeiramente exagerada de vários estereótipos de mulheres. Pessoalmente desafiaria qualquer pessoa, homem ou mulher, a rever as seis temporadas da série e não se identificar com nenhum momento ou mesmo episódio. Era nisto que a série ganhava: ter personagens tão próximas da realidade do espectador comum.

Há também que ressalvar a importância da série em vários aspectos do quotidiano. Na aceitação da comunidade LGBT com os amigos gay de Carrie e Charlotte, a relação de Samantha com outra mulher, a festa gay onde as quatro personagens principais foram e as transsexuais de quem Samantha se tornou amiga. Ou por exemplo o papel de Carrie como exemplo para milhares de pessoas que deixaram de fumar graças ao encorajamento da série, ou o de Samantha na luta contra o cancro da mama. E acima de tudo, afirmou que não havia nada de mal em ter 30 ou 40 anos e ser uma mulher solteira.


Já nos filmes (ambos com mais de 2h de duração, ao contrário dos cerca de 25 minutos por episódio da série), não houve qualquer espécie de inovação. Aliás, houve inovação: a série deixou de ter a vertente satírica dos relacionamentos actuais e compensou essa falta com mais roupas de estilistas. Os filmes de "O Sexo a Cidade" não trazem nada de novo aos fãs, o argumento dá as mesmas voltas que deu durante os seis anos da série, a comédia já não é inteligente e filmes sobre grupos de mulheres que vão de férias juntos há às toneladas ao longo destes anos. O caminho aberto pela série fez-se notar nos dez anos que passaram entre a estreia e o filme, e algo deste género já não é novidade para ninguém, especialmente quando perde as suas melhores qualidades.

Os filmes foram um sucesso de bilheteira por mérito da série, e embora para qualquer pessoa que é fã seja sempre bom ver um pouquinho mais das suas personagens favoritas, é também desapontante ver que hoje em dia já não conseguem ser o que eram (embora aparentemente tenham ganho a capacidade absolutamente fantástica de caminhar sobre a areia com saltos de 12cm, pelo menos de acordo com o poster do segundo filme).


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