Após o passado Domingo existe um novo nome a reter quando falamos em cinema português, mais especificamente quando nos referimos ao praticamente inexistente género de terror em Portugal. Será o jovem João Alves, agora que o descobrimos no MOTELx 2010, como o realizador da curta vencedora do Prémio MOTELx - Melhor Curta de Terror Portuguesa 2010, um dos mais promissores da sua geração?
Estivemos à conversa com João Alves e descobrimos como um formado em Biologia Marinha e Pescas que cria grafismos para aplicações e jogos para o iPhone, chega ao São Jorge e convence o júri de um festival de cinema onde terror é o mote, que ele é uma aposta segura. Bats in the Belfry trouxe-o para as bocas do mundo, mas antes disso acontecer a aventura começou com um caderno A4, uma lapiseira e uma borracha.
Antes de mais e sem demoras, qual foi a sensação de ouvires o nome da tua curta como vencedora do prémio MOTELX?
Foi de total surpresa. Quando o senhor Alan Jones disse o meu nome, o meu queixo caiu! De tal forma que tive de perguntar depois o que tinha sido dito antes de anunciarem o meu nome, porque eu não estava a ouvir com atenção, achava que não era comigo. Só queria saber se era um dos candidatos que eu conheci durante o festival ou se pelo menos tinha visto essa curta. Quando cheguei ao palco e passei pelos convidados deste ano, todos realizadores, escritores, produtores consagrados, senti uma felicidade incrível, por ver uma ideia minha ser premiada. Foi um dos momentos altos da minha vida!
Como surgiu a ideia para a realização desta curta?
A ideia para o “Bats in the Belfry” veio de tentar fazer algo diferente, mas que ao mesmo tempo juntasse elementos de que gosto, em particular os Spaghetti Westerns e os filmes de Terror. Hoje em dia não há heróis sujos no cinema como havia nos 80’s. Não há Snake Plissken, não há Dirty Harry, não há o “Homem Sem Nome”. Os bons são sempre muito bonzinhos, muito dramáticos e às vezes até os maus são simpáticos. É tudo muito politicamente correcto.
Por sentir falta de algo assim e adorar “The Good, the Bad and the Ugly” tentei criar algo de terror que tivesse um herói que misturasse o “Bom” com o “Vilão”. É isso que é Deadeye Jack, um cowboy que mesmo na situação mais bizarra se mantém calmo e com os seus objectivos claros. Ele até pode ajudar alguém, mas esse não é o seu propósito, ele só quer o dinheiro, o resto não interessa. Os vampiros são o meu “monstro” favorito, por isso foi juntar os dois e fazer um storyboard.
Quais as influências para a realização deste trabalho?
As principais são "Dexter's Lab", os desenhos animados de Genndy Tartakovsky, 30 Days of Night, a banda desenhada com a arte de Ben Templesmith e “The Good, the Bad and the Ugly” de Sergio Leone. Na parte do grafismo também há ali muita influência do Samurai Jack (Genndy Tartakovsky) e uns toques de Gris Grimly, um ilustrador fantástico de coisas macabras, mas infantis ao mesmo tempo. A nível do som, sempre adorei o "Tomb Raider" original, o jogo, não o filme. Tem uma atmosfera assombrada, tensão constante e faz isso com sons e grunhidos estranhos, e a música apenas se ouve em partes épicas ou de acção extrema. Foi o que tentei fazer. Na realização não sei bem dizer o que vem de onde, mas eu cresci com os filmes brutos estilo "Robocop", "Escape from New York", "Alien", que quando têm que mostrar sangue mostram, mas não é gratuito, faz parte da realidade. Ao mesmo tempo filmes fixes como o "xXx" ou o "Blade 2" também são um espectáculo, com códigos de cores e cenas de acção espectaculares. Adoro uma boa cena de acção.
Foi de total surpresa. Quando o senhor Alan Jones disse o meu nome, o meu queixo caiu! De tal forma que tive de perguntar depois o que tinha sido dito antes de anunciarem o meu nome, porque eu não estava a ouvir com atenção, achava que não era comigo. Só queria saber se era um dos candidatos que eu conheci durante o festival ou se pelo menos tinha visto essa curta. Quando cheguei ao palco e passei pelos convidados deste ano, todos realizadores, escritores, produtores consagrados, senti uma felicidade incrível, por ver uma ideia minha ser premiada. Foi um dos momentos altos da minha vida!
Como surgiu a ideia para a realização desta curta?
A ideia para o “Bats in the Belfry” veio de tentar fazer algo diferente, mas que ao mesmo tempo juntasse elementos de que gosto, em particular os Spaghetti Westerns e os filmes de Terror. Hoje em dia não há heróis sujos no cinema como havia nos 80’s. Não há Snake Plissken, não há Dirty Harry, não há o “Homem Sem Nome”. Os bons são sempre muito bonzinhos, muito dramáticos e às vezes até os maus são simpáticos. É tudo muito politicamente correcto.
Por sentir falta de algo assim e adorar “The Good, the Bad and the Ugly” tentei criar algo de terror que tivesse um herói que misturasse o “Bom” com o “Vilão”. É isso que é Deadeye Jack, um cowboy que mesmo na situação mais bizarra se mantém calmo e com os seus objectivos claros. Ele até pode ajudar alguém, mas esse não é o seu propósito, ele só quer o dinheiro, o resto não interessa. Os vampiros são o meu “monstro” favorito, por isso foi juntar os dois e fazer um storyboard.
Quais as influências para a realização deste trabalho?
As principais são "Dexter's Lab", os desenhos animados de Genndy Tartakovsky, 30 Days of Night, a banda desenhada com a arte de Ben Templesmith e “The Good, the Bad and the Ugly” de Sergio Leone. Na parte do grafismo também há ali muita influência do Samurai Jack (Genndy Tartakovsky) e uns toques de Gris Grimly, um ilustrador fantástico de coisas macabras, mas infantis ao mesmo tempo. A nível do som, sempre adorei o "Tomb Raider" original, o jogo, não o filme. Tem uma atmosfera assombrada, tensão constante e faz isso com sons e grunhidos estranhos, e a música apenas se ouve em partes épicas ou de acção extrema. Foi o que tentei fazer. Na realização não sei bem dizer o que vem de onde, mas eu cresci com os filmes brutos estilo "Robocop", "Escape from New York", "Alien", que quando têm que mostrar sangue mostram, mas não é gratuito, faz parte da realidade. Ao mesmo tempo filmes fixes como o "xXx" ou o "Blade 2" também são um espectáculo, com códigos de cores e cenas de acção espectaculares. Adoro uma boa cena de acção.
Queres falar-nos um pouco do processo que envolve a criação de uma curta-metragem?
Quanto ao processo de criação de uma curta-metragem no geral, não vos posso adiantar muito, porque eu não tenho formação na área, mas posso dizer como fiz a minha. O início foi o Deadeye Jack. A personagem foi criada ainda a ideia era fazer um episódio piloto de uma série, que retrataria as aventuras de um assaltante no velho oeste americano, que em cada episódio encontraria algo sobrenatural que lhe atrapalhava os planos. Isto foi em 2006. Quando o ano passado fui ao MOTELx saí de lá com a decisão de não voltar a um festival sem ter algo a concurso. Mas não comecei logo; só quando em Junho escreveram no Facebook do MOTELx que o prazo terminava a 15 de Agosto é que eu pensei “é agora”. Comecei por alterar o Jack, não estava contente com o aspecto da personagem, e se a personagem principal não funciona, nada ia funcionar. Depois de lhe cortar o cabelo e de lhe por o chapéu, mesmo assim algo ainda não estava bom, mas com o tempo a passar tive de passar ao storyboard, sem ter a personagem finalizada. Peguei no storyboard de 2006 (nunca houve um guião, só um storyboard com anotações das falas) e ver o que se aproveitava e o que tinha de sair, ou porque o prazo assim o exigia (animação demora tempo), ou porque olhando agora para aquela cena em particular já não parecia assim tão boa como à quatro anos atrás. Ao mesmo tempo fui modelando a missão católica, o desfiladeiro e os cactos. O próximo passo foi preparar as personagens para animar. Todo o storyboard foi “scannado” e usado como referência para desenhar em vector as personagens e depois de perceber bem quantos é que podia reutilizar ao longo do filme. Depois foi a parte divertida, animar! Pouco a pouco, os planos sem diálogos foram ficando animados, e ver os bonecos a ganharem vida dá ânimo para animar mais, para ver mais a acontecer. Gravei diálogos temporários (alguns acabaram por ser os finais) para ter como referência para a animação e, enquanto animava, alterei o final da história 2 vezes. À medida que ia tendo planos animados fui montando logo o filme para poder ir gravando DVDs de teste (o computador não consegue renderar o filme todo de seguida, por isso tive de exportar e gravar um DVD de cada vez que queria ver como estava a ficar). Numa tarde, depois do trabalho, eu e a minha namorada, Rita Soares, gravámos o grito e tudo o que era de diálogos, para serem os finais. Fui mexendo nos timings, encolhendo umas cenas e esticando outras e fiz as texturas para os cenários. A duas semanas do prazo terminar o filme estava quase pronto em termos de imagem, mas não tinha nada de som nem música. Nessas últimas duas semanas eu parti cenouras, espanquei edredons e almofadas, pus os sapatos da minha namorada nas mãos e bati com eles no chão, rugi, grunhi , agitei os meus calções perto do microfone e gravei os diálogos para fazer o som final do filme. A banda sonora foi a parte que teve direito a menos tempo, e como comecei a ver que isso ia acontecer com algumas semanas de avanço fui reunindo sons de instrumentos tradicionais de vários pontos do globo, flautas do Perú, tambores do Japão, a Rita ofereceu-me uma mbira do Zimbabué, sempre a pensar na banda sonora do jogo Tomb Raider original, onde só há melodias em momentos muito específicos, de resto são sons ambientes que criam tensão, mas que não são bem música. Com tudo finalizado entreguei a cópia no dia 15 de Agosto, a hora e meia do final do prazo e fui de férias logo de seguida. Quando voltei de férias mostrei o filme na LisbonLabs e havia lá uma parte que o pessoal não percebeu, tinha de acrescentar uns planos a uma cena para que se percebesse. Quando ligaram do MOTELx a dizer que eu tinha sido seleccionado perguntei se podia fazer a alteração e deram-me luz verde. No fim-de-semana seguinte fiz o storyboard desse acrescento, animei, gravei os sons, juntei ao resto do filme, o que obrigou a uns ajustes no áudio e nos timings e o filme ficou como passou no São Jorge. O último passo foi levar o disco rígido a uma loja para converter um ficheiro com 26 gigas num filme em Betacam Digital para exibição.
Quais os recursos envolvidos em todo esse trabalho?
Os recursos envolvidos foram um caderno A4, uma lapiseira e uma borracha, um Pentium 4 cuja memória RAM fritou com os renders dos cenários e tive de comprar uma placa nova para substituir (o que me custou 1 dia), uma ventoinha para arrefecer o processador (com a onda de calor de Julho o computador desligava-se sozinho, o que me custou 2 dias), a conversão para Betacam Digital e a própria cassete. O microfone mais usado foi o meu, usei o do trabalho para o grito e pouco mais. Ajudas, tive a Rita, sem ela não teria sido possível fazer o filme. Não só pela voz da personagem feminina, mas porque durante 9 semanas ela teve de fazer as tarefas domésticas todas lá em casa, porque eu estava sempre enfiado no escritório de auscultadores na cabeça. Além disso foi vendo as várias versões que gravei em DVD e ia opinando nos timings e noutros detalhes. O Rui Almeida contribuiu dizendo que o final precisava de mais força, o que me fez pôr a cabeça a pensar no que é que eu poderia fazer para deixar o público a querer ver mais. Na LisbonLabs deixaram-me faltar 3 dias, e preparar o poster do filme em horário de trabalho. E foi graças ao facto de eles não perceberem uma passagem no filme, que eu acrescentei planos a uma cena, o que melhorou bastante o filme.
Há pouco disseste que não tinhas formação na área. Como chegaste então aqui?
O currículo é em TV, mas a minha formação académica é em Biologia Marinha e Pescas, na Universidade do Algarve. Tirei o curso antes de Bolonha, licenciatura de 5 anos, mas a meio do 3º ano percebi que não era aquilo que queria fazer. Não vou matar animais para obter gráficos.
Qual a tua opinião sobre o cinema fantástico/terror português?
Devia haver mais. Assim de memória só me lembro da curta do Filipe Melo, “I’ll See You In My Dreams”, do “Coisa Ruim” e do “Aparelho Voador de Baixa Altitude”. O “I’ll See You In My Dreams” é um espectáculo, mas o problema foi que ninguém olhou para aquilo e disse “Gostei, tomem lá esta pipa de massa e façam uma longa.”, nos EUA ou em Espanha quase de certeza que isso iria acontecer, mas aqui o pessoal ouve “zombies” e já não liga mais. Os investidores em Portugal não estão habituados a investir em cinema, acham que não tem retorno. Eu gastei menos de 40€ para fazer o meu, recebi um prémio de 2000 mais extras, a mim parece-me bom negócio. Sim, é um facto que fiz tudo sozinho, em pós laboral e que investi ali 9 semanas, mas o filme já está feito para o pôr à venda no iTunes ou para me candidatar a outros festivais, e a despesa é mínima, tudo o que venha é lucro. Se se fizer uma longa em Portugal, o mercado não será só os cinemas nacionais, são também os cinemas do Brasil, o mercado de DVDs, os alugueres e vendas on-line.
E do cinema português, no geral? Tens alguma opinião formada sobre o assunto?
Acho que se fazem muitos dramas. Quase não há filmes de outros géneros, temos algumas comédias e um par de filmes de acção e pronto, o resto é de fazer chorar as pedras da calçada. Tudo bem que se façam dramas, eu adorei o “Jaime”, mas eu quando vou ao cinema não quero sair de lá deprimido, quero escapar para mundos fantásticos de acção e aventura. Criaturas e locais fantásticos, maldições e naves espaciais. Mas por alguma razão não se fazem. E depois queixam-se que ninguém vê os filmes nacionais. E se ninguém vê, os investidores não investem e voltamos ao mesmo. Têm de se fazer filmes que chamem o público, e para isso não é preciso ter mamas e asneirada de 5 em 5 minutos. Podem ser boas estórias, imaginativas e com bons actores. É preciso é o pessoal pôr-se a mexer.
Das curtas portuguesas a concurso no MOTELx 2010, qual a tua preferida?
Sem sombra de dúvidas “S.C.U.M.” do Pedro Rodrigues. Eu achava que ia ganhar ou o “S.C.U.M.” ou o “Deserto de Dante”, das que vi foram as que gostei mais. O S.C.U.M. tem ali muito trabalho de efeitos práticos que não é normal ver-se em Portugal. Focinhos, orelhas, mãos, tudo em borracha e com um óptimo aspecto. A estória apanhou-me completamente de surpresa, em especial a reviravolta final. Muito Bom!
Tens projectos futuros?
Ainda é cedo para falar de projectos futuros. Para já é levar o “Bats in the Belfry” a mais festivais, nacionais e internacionais, e depois fazer um DVD da curta com extras e tudo a que o pessoal tem direito. Depois disso, já há umas ideias para projectos, um sozinho, um em colaboração e outro onde só vou dar uma ajudinha no que for preciso, mas ainda é cedo para falar de qualquer um deles, dois ainda nem têm guião, são só ideias. Há medida que for havendo novidades eu vou pondo no Facebook e no blogue, como de costume.
Que mensagem deixas aos leitores do Split Screen?
Tentem sempre alcançar os vossos sonhos, mas vão um passo de cada vez. Não se satisfaçam com pouco, mas também não tentem chegar ao topo logo de uma assentada. Se têm uma boa ideia, mostrem-na. Pode ser a melhor ideia do mundo, mas se não a mostrarem a ninguém, outras ideias piores, mas que foram feitas vão-vos passar à frente. Têm que se promover e mostrar trabalho. Ninguém vos vai bater à porta a perguntar se têm alguma coisa para mostrar, vocês é que têm de a fazer e ir bater à porta de quem acham que pode gostar. O “não” está sempre garantido, por isso se o ouvirem, piores não ficam. Têm de ir à procura do “sim”. Boa sorte!
Quais os recursos envolvidos em todo esse trabalho?
Os recursos envolvidos foram um caderno A4, uma lapiseira e uma borracha, um Pentium 4 cuja memória RAM fritou com os renders dos cenários e tive de comprar uma placa nova para substituir (o que me custou 1 dia), uma ventoinha para arrefecer o processador (com a onda de calor de Julho o computador desligava-se sozinho, o que me custou 2 dias), a conversão para Betacam Digital e a própria cassete. O microfone mais usado foi o meu, usei o do trabalho para o grito e pouco mais. Ajudas, tive a Rita, sem ela não teria sido possível fazer o filme. Não só pela voz da personagem feminina, mas porque durante 9 semanas ela teve de fazer as tarefas domésticas todas lá em casa, porque eu estava sempre enfiado no escritório de auscultadores na cabeça. Além disso foi vendo as várias versões que gravei em DVD e ia opinando nos timings e noutros detalhes. O Rui Almeida contribuiu dizendo que o final precisava de mais força, o que me fez pôr a cabeça a pensar no que é que eu poderia fazer para deixar o público a querer ver mais. Na LisbonLabs deixaram-me faltar 3 dias, e preparar o poster do filme em horário de trabalho. E foi graças ao facto de eles não perceberem uma passagem no filme, que eu acrescentei planos a uma cena, o que melhorou bastante o filme.
Há pouco disseste que não tinhas formação na área. Como chegaste então aqui?
O currículo é em TV, mas a minha formação académica é em Biologia Marinha e Pescas, na Universidade do Algarve. Tirei o curso antes de Bolonha, licenciatura de 5 anos, mas a meio do 3º ano percebi que não era aquilo que queria fazer. Não vou matar animais para obter gráficos.
Quando saí do curso fui à Antena 3 falar com o Nuno Markl e com o Rui Almeida (Bubú), na altura os animadores das manhãs da 3. O sr. Markl achou engraçada a ideia que lhe propus, mas tinha já muita coisa na calha e o tempo não chega para tudo. Ajudou-me a divulgar o meu blogue, o que já não foi mau. O Rui adorou o que mostrei e fomos dali logo para um estúdio de gravações (a primeira vez que entrei num) onde falámos em apresentar a ideia à Videomedia, para o programa “Revolta dos Pastéis de Nata”. Eles gostaram da ideia e comecei a animar os argumentos do Rui semanalmente para o programa, durante as últimas duas temporadas da Revolta, a primeira sozinho e a segunda com o Bruno Rafael como cenarista. Depois fiquei cinco meses desempregado, experiência que desaconselho seriamente a todos. Em 2008 comecei a animar sketches para o ZigZag da RTP 2, primeiro na JustBlue.Biz e depois na Bang!Bang! Animation. Entre as duas desenhei e animei as personagens da série TUGUEX para o programa “Sempre em Pé”, também da Videomedia. Os textos eram do Rui Almeida e os cenários e a outra metade da animação era da Mónica Loureiro.
Depois da Bang!Bang! vim para a LisbonLabs, onde comecei como freelancer a fazer postais animados para o site FACEinHOLE.com e passei a efectivo ao fim de uns meses, fazendo agora além dos postais o grafismo para aplicações e jogos para iPhone.Qual a tua opinião sobre o cinema fantástico/terror português?
Devia haver mais. Assim de memória só me lembro da curta do Filipe Melo, “I’ll See You In My Dreams”, do “Coisa Ruim” e do “Aparelho Voador de Baixa Altitude”. O “I’ll See You In My Dreams” é um espectáculo, mas o problema foi que ninguém olhou para aquilo e disse “Gostei, tomem lá esta pipa de massa e façam uma longa.”, nos EUA ou em Espanha quase de certeza que isso iria acontecer, mas aqui o pessoal ouve “zombies” e já não liga mais. Os investidores em Portugal não estão habituados a investir em cinema, acham que não tem retorno. Eu gastei menos de 40€ para fazer o meu, recebi um prémio de 2000 mais extras, a mim parece-me bom negócio. Sim, é um facto que fiz tudo sozinho, em pós laboral e que investi ali 9 semanas, mas o filme já está feito para o pôr à venda no iTunes ou para me candidatar a outros festivais, e a despesa é mínima, tudo o que venha é lucro. Se se fizer uma longa em Portugal, o mercado não será só os cinemas nacionais, são também os cinemas do Brasil, o mercado de DVDs, os alugueres e vendas on-line.
E do cinema português, no geral? Tens alguma opinião formada sobre o assunto?
Acho que se fazem muitos dramas. Quase não há filmes de outros géneros, temos algumas comédias e um par de filmes de acção e pronto, o resto é de fazer chorar as pedras da calçada. Tudo bem que se façam dramas, eu adorei o “Jaime”, mas eu quando vou ao cinema não quero sair de lá deprimido, quero escapar para mundos fantásticos de acção e aventura. Criaturas e locais fantásticos, maldições e naves espaciais. Mas por alguma razão não se fazem. E depois queixam-se que ninguém vê os filmes nacionais. E se ninguém vê, os investidores não investem e voltamos ao mesmo. Têm de se fazer filmes que chamem o público, e para isso não é preciso ter mamas e asneirada de 5 em 5 minutos. Podem ser boas estórias, imaginativas e com bons actores. É preciso é o pessoal pôr-se a mexer.
Das curtas portuguesas a concurso no MOTELx 2010, qual a tua preferida?
Sem sombra de dúvidas “S.C.U.M.” do Pedro Rodrigues. Eu achava que ia ganhar ou o “S.C.U.M.” ou o “Deserto de Dante”, das que vi foram as que gostei mais. O S.C.U.M. tem ali muito trabalho de efeitos práticos que não é normal ver-se em Portugal. Focinhos, orelhas, mãos, tudo em borracha e com um óptimo aspecto. A estória apanhou-me completamente de surpresa, em especial a reviravolta final. Muito Bom!
Tiveste oportunidade de assistir a algum dos outros filmes do MOTELx? Qual a tua opinião acerca do cartaz deste ano?
Vi muitos, vi um total de 17 filmes. O meu favorito foi de longe o “The Loved Ones”, mesmo muito bom. Tem drama, comédia, acção e terror. Muito completo e muito bem feito. É daqueles que já estou à espera do DVD para ver aqueles extras e ouvir os comentários dos australianos por detrás daquela maravilha. Gostei bastante do cartaz deste ano, é claro que mais de uns que de outros, por exemplo o AMER não é nada o meu estilo, mas percebo que haja quem goste. O “Life and Death of a Porno Gang” foi mais um retracto da Sérvia pós guerra do que propriamente o que eu associo ao terror, mas se alguma daquelas situações fosse comigo acho que iria ficar aterrorizado, por isso está perfeitamente enquadrado. “Tony”, “Slice”, “Creepshow”, “The Wild Hunt”, “The Revenant”, “F”,…, foram muitos e muito bons. Adorei o leque de novidades e recordações, só tenho pena de não ter conseguido ver mais.Tens projectos futuros?
Ainda é cedo para falar de projectos futuros. Para já é levar o “Bats in the Belfry” a mais festivais, nacionais e internacionais, e depois fazer um DVD da curta com extras e tudo a que o pessoal tem direito. Depois disso, já há umas ideias para projectos, um sozinho, um em colaboração e outro onde só vou dar uma ajudinha no que for preciso, mas ainda é cedo para falar de qualquer um deles, dois ainda nem têm guião, são só ideias. Há medida que for havendo novidades eu vou pondo no Facebook e no blogue, como de costume.
Tens conselhos para dar a quem se queira aventurar na produção de uma curta-metragem?
Até ao domingo passado isso era a pergunta que eu fazia a toda gente. O ano passado no MOTELx disse ao John Landis que estava a pensar fazer uma curta de terror animada, se ele tinha algum conselho para mim, algo que ele gostasse que lhe tivessem dito quando começou. A resposta foi “Just make it scary.”. Continuo sem saber se era uma opinião mesmo muito honesta, na onda de “não há fórmulas, faz a coisa ser assustadora, tem é de funcionar”, ou se foi para me despachar porque queria ir comer o arroz de pato que estava a arrefecer. Seja como for, o meu conselho é: estabeleçam um prazo e organizem-se antes de se jogarem de cabeça. O prazo ajuda a manter a pressão de “isto tem de estar pronto dia tal” para não perderem o ânimo e sem organização às tantas já ninguém encontra nada, nem sabe o que fazer a seguir. É melhor perder uma semana ou um mês a planear tudo como deve ser, storyboard ou guião, animatic, o que for, do que tentar improvisar pelo caminho, perdendo muito mais tempo e arriscar-se a passar o prazo.Que mensagem deixas aos leitores do Split Screen?
Tentem sempre alcançar os vossos sonhos, mas vão um passo de cada vez. Não se satisfaçam com pouco, mas também não tentem chegar ao topo logo de uma assentada. Se têm uma boa ideia, mostrem-na. Pode ser a melhor ideia do mundo, mas se não a mostrarem a ninguém, outras ideias piores, mas que foram feitas vão-vos passar à frente. Têm que se promover e mostrar trabalho. Ninguém vos vai bater à porta a perguntar se têm alguma coisa para mostrar, vocês é que têm de a fazer e ir bater à porta de quem acham que pode gostar. O “não” está sempre garantido, por isso se o ouvirem, piores não ficam. Têm de ir à procura do “sim”. Boa sorte!
Entrevista: Tiago Ramos
Revisão: Ana Alexandre
Revisão: Ana Alexandre
Excelente entrevista! Gostei do pormenor de partir cenouras, espancar edredons e almofadas e usar os sapatos da namorada :)
ResponderEliminarO que sofre um rapaz para criar uma curta! Obrigado. :)
ResponderEliminarGostei muito da escrita da entrevista e de serem relatados pormenores tão simples e "estranhos" como espancar almofadas e usar os meus sapatos, quando na realidade esses pequenos gestos permitiram alcançar um resultado brilhante!
ResponderEliminarA tua ajuda foi de facto essencial em muitos aspectos! Parabéns também! :)
ResponderEliminarConfesso que raramente leio na íntegra artigos grandes, tão grandes como este, em tempo de aulas. É que há sempre muito para fazer, e fica-se sempre pela leitura na diagonal. Neste, por acaso, comecei pelo princípio e foi andando, nem dei pelo tempo passar. Gostei muito da entrevista, gostei muito da ideia e é sempre inspirador ler sobre uma dedicação e paixão como esta. Ainda não vi a curta, mas certamente que a verei. Os meus parabéns ao João e, pelos vistos, também à Rita.
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