Título original: Lola (2009)
Realização: Brillante Mendoza
Argumento: Linda Casimiro
Realização: Brillante Mendoza
Argumento: Linda Casimiro
Elenco: Anita Linda, Rustica Carpio, Tanya Gomez, Jhong Hilario e Ketchup Eusebio
O realismo social revelado aos espectadores pela lente do cinema trouxe nos últimos anos grandes e gratas surpresas. O cinema europeu já o aborda há alguns anos, mas poucos atingem a naturalidade e despretensão de alguns interessantes objectos do cinema sul-americano e asiático.
O realismo social revelado aos espectadores pela lente do cinema trouxe nos últimos anos grandes e gratas surpresas. O cinema europeu já o aborda há alguns anos, mas poucos atingem a naturalidade e despretensão de alguns interessantes objectos do cinema sul-americano e asiático.
Brillante Mendoza foi revelado ao mundo em 2009, no Festival de Veneza, onde foi apresentado como o candidato surpresa e de imediato se tornou um sucesso de crítica e alvo de continuados debates acerca da vitalidade deste cinema. Sabem bem surpresas destas, inesperadas na forma como nos são mostradas, inesperadas na sua execução. Um cineasta sui generis, rico na sensibilidade com que filma, de câmara na mão, de câmara ao ombro. Num movimento de câmara tão instável como a própria vida, Brillante Mendonza olha para a cidade de Manila, como quem vive nela, como quem deambula pela rua, como quem é filipino. E o seu cinema é tão rico quanto sensível precisamente devido a essa naturalidade de quem filma uma cidade e um povo do qual ele próprio faz parte.
Lola começa por ser incomodativo. Há a chuva que teima em cair, a potes, fria e gélida como a própria cidade de Manila. Há a chuva que molha até os ossos, mas que não ensopa tanto como a dor de duas lolas, há a dor das ruas de Manila, de quem por lá vive, há os rostos humanos que vivem e sobrevivem e que nos passam pelo olhar num misto de fascínio e tristeza. Brillante Mendonza devolve-nos esse olhar, filmado propositadamente na estação das chuvas, de uma forma destemida e sentida, com um subtileza única e singular, rara no cinema.
O filme é um melodrama sobre duas mulheres que de uma forma absolutamente cruel, mas também realista, se vêem aprisionadas pelo sistema judicial filipino absolutamente moroso, burocrata e ineficiente, pela exploração financeira, pela pobreza extrema, pelas condições meterológicas, sociais e físicas completamente agrestes. Mas mais que um sentimento voyeurista de Brillante Mendonza ou exploitation como em Serbis (2008), Lola é um filme sobre o amor, o amor de duas lolas perante os seus netos, um misto de realismo documental e melodrama, que culmina num gesto único de altruísmo. Tudo gira em torno de dinheiro, o que acaba por ser uma crítica ao sistema filipino: até mesmo um homicídio acaba por ser uma questão económica, a justiça é uma questão económica, o ritual funerário é uma questão económica, a paz interior é uma questão económica.
No fim de contas, as duas lolas apenas desejam encontrar a paz. Uma deseja enterrar o seu neto, a outra deseja uma segunda oportunidade para o seu. Mas em nenhuma altura Lola se assume como uma obra panfletária ou manifesto político. Aquilo que realmente interessa está no rosto gasto e cansado de duas mulheres que percorrem as ruas de Manila. Está nas rugas daquelas velhas mulheres que nunca desistem, que se reinventam diariamente para resistir à fragilidade do meio em que se inserem, que perseveram sem se cansarem. Duas actrizes filipinas soberbas que nos fazem duvidar se não são elas mesmo as lolas que interpretam.
De Brillante Mendonza não há menos a fazer senão vigiá-lo. Permanecer atento ao seu cinema, que se apraz único e sensível como ainda existem poucos. Não é apenas vítima de um súbito hype, é sim um cineasta completo que vê agora a oportunidade de se afirmar no culto cinéfilo. É um homem cuja câmara filma com quem vive o acontecimento. Cuja câmara funciona não como uma interpretação do sucedido, mas como aquilo que realmente aconteceu. O seu cinema é implacável, duro, sensível, singelo. Cada cena é uma dor no estômago, um murro seco e profundo que dói. Dói de verdade, tal como o seu cinema.
Classificação:
Tenho mesmo de ver então :)!
ResponderEliminarhttp://www.curtasmetragens.net/
http://cinemaschallenge.blogspot.com/
Não é para todos, mas é um grande filme.
ResponderEliminarVais-me obrigar a comprar. Se não valer a pena vais-me ouvir!
ResponderEliminarÉ um filme duro, cruel. Eu gostei, mas já gosto habitualmente do género. Quando comprei o "Lola", comprei-o no pack com o "Kinatay". E depois na saída aproveitei e comprei também o "Serbis", à parte.
ResponderEliminarÉ isso Tiago, grande Mendoza.
ResponderEliminarE ainda não vi o Serbis, Kinatay, nem o Masahista, que também tenho.
ResponderEliminarO Kinatay é tão bom quanto este. Se queres que te diga nem sei qual deles gosto mais. Vê o quanto antes. O Serbis já não é tão bom mas não é mau filme. Mais exploitation como disseste, mais sátira e menos melodrama como este Lola. Mas o intuito de Mendoza está lá, a crítica social mordaz, o realismo. O Masahista ainda não o arranjei.
ResponderEliminarAinda hei-de ver então! O Masahista pesquisei na Internet e encontrei facilmente com legendas em PT.
ResponderEliminarNão vou ler a crítica porque quero ver o filme primeiro. A ver se depois volto a passar por este artigo x)
ResponderEliminarFazes bem. Acredito que não te vais desiludir.
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