Mad Men não é uma daquelas séries de que é fácil de gostar ao primeiro episódio. Na verdade, foi preciso chegar ao fim da terceira temporada para decidir que afinal até gostava da série. Aquilo que me levou a ver 3 temporadas inteiras sem saber se gostava ou não foi apenas uma coisa: curiosidade. O mundo explorado pela série é certamente um dos mais interessantes alguma vez abordado, um mundo de alcoólicos, fumadores e machistas, que até bêbedos no trabalho conseguem compreender a lógica de pensamento de multidões e sabem exactamente como convencê-las a mudar a sua opinião através de um único anúncio.
Quanto às personagens, bem, elas são exactamente aquilo que me fez ter dúvidas durante tanto tempo sobre o facto de gostar ou não da série. Não existem boas pessoas no mundo de Mad Men, existem várias pessoas cujas boas intenções assentam em valores e moral distorcidos, pessoas egoístas e arrogantes, que vivem no seu mundo e não querem saber do bem-estar de ninguém além delas próprias. Personagens bem mais próximas da realidade do que na maioria das séries, portanto. Dizem alguns elementos do sexo masculino que se identificam com o ideal de Don Draper (Jon Hamm), pelo facto de ser um homem no topo da carreira, homem de família... Roger Sterling (John Slattery) é outra figura proeminente na série, o homem que conseguiu a maioria do que tem por herança e que é o elemento cómico da série. Já as mulheres, bem, não têm muito por onde se identificar, já que a série é composta essencialmente por personagens masculinas.
Claro que é evidente que a força motora de tudo o que se passava na década de 60 eram as mulheres, fossem elas as secretárias ou as esposas, mas não existe nenhum papel feminino que seja uma representação de força sem ter o seu revés. Temos Joanie (Christina Hendricks), que comanda as secretárias como se dum exército se tratasse, mas com um pouco mais de sarcasmo (e imagino que coodenar 20 ou 30 mulheres naquela época fosse tarefa impossível se se fosse boa pessoa). Peggy (Elisabeth Moss) sobe a pulso nos seus cargos, mas ao mesmo tempo não há mais nada nela de que se possa gostar a não ser a força de vontade. Betty (January Jones) consegue ser a personagem que mais ódios reúne. Para mim, a melhor personagem feminina e a mais subaproveitada é sem dúvida Trudy (Alison Brie), que iniciou a série como uma rapariga irritante e impotente perante o que lhe acontecia, tornando-se ao longo das temporadas na personagem feminina mais forte, mudando a personalidade do marido e mostrando-se inteligente na forma de agir.
O que há para gostar, então, em Mad Men? A época e sobretudo o trabalho desenvolvido nas agências publicitárias daquela época. A série estuda os anos 60 como nunca se tinha visto, mostrando como os vários acontecimentos históricos da época moldaram toda uma sociedade, incluindo 4 guerras diferentes (II Guerra Mundial, Coreia, Vietname e Guerra Fria), a eleição e assassinato de Kennedy, a acção do KKK, a morte de Marilyn Monroe, a ameaça nuclear, entre outros. Há que destacar também os excelentes episódios que finalizam cada uma das temporadas, lançando sempre um mote interessante para a temporada seguinte da melhor forma possível, sendo normalmente os melhores episódios de cada temporada.
Mad Men não é uma série para todos, é verdade, mas é sem dúvida uma série com um dos melhores elencos dos últimos tempos e que merece os vários prémios que lhe foram atribuídos, incluindo os de melhor série dramática. Ainda bem que Boardwalk Empire, a verdadeira competição da série em termos de prémios, só chegou este ano permitindo assim que a terceira temporada, que considero a melhor, fosse devidamente premiada.
Eu fiquei rendido a MAD MEN assim que vi o primeiro episódio... :)
ResponderEliminarPessoalmente, considero-a como a série mais icónica e influente desde OS SOPRANOS, repleta de momentos, diálogos e personagens inesquecíveis.
De facto, concordo contigo quando afirmas que é difícil identificarmo-nos com as personagens. Talvez pela mentalidade dos anos 50 e 60 dos EUA ser tão distante do que se considera "correcto" nos dias de hoje. Todavia, Don Draper é, inevitavelmente, a principal âncora para os espectadores — goste-se ou não das suas acções e atitudes, não se consegue largar MAD MEN e ver o que lhe acontece mais tarde...
Excelente texto!
Muito bom o artigo, pois se há problema em Mad Men é precisamente de como falar sobre a série. Não é realmente simples e constitui-se por uma série puramente dramática e em evolução. tem por fundo o mundo do marketing e publicidade (chama-se Mad men por serem as pessoas do Marketing+Ad), numa época em que o poder desta profissão tinha muito valor para fazer render mais dinheiro nos josgos de poder.
ResponderEliminarA nível de diálogos e até mesmo dos conceitos desviantes que todas as personagens
A primeira temporada deixa-nos com o segredo de Don Draper, que vai marcar tudo daí para a frente. Reestruturações, chefias e muito mais sucedem-se com uma lógica sempre cativante de ver devido a tudo ser colocado (como se fosse xadrez) com um brilhante bom gosto em toda a encenação e detalhes.
Para mim, a série são duas personagens: Don Draper e a Peggy pois ambas cativaram-me desde o inicio. Há também a beleza da esposa de Don e da Joan (ai Hendricks... que volumes enfeitiçantes!).
Recordo-me daquele episódio onde todos se embebedaram na agência e passaram lá a noite em grande e louca festa... memorável.
A série é daquelas que se vai vendo e sem se saber quando passa-se a adorar... e também não sei bem porquê.
Pois, como sabes andei ali a remoer a série uma data de tempo porque simplesmente achava aquela gente toda absolutamente detestável, mas ao mesmo tempo não conseguia largar a série.
ResponderEliminarE agora olho para a publicidade com outros olhos, a pensar como é que eles chegaram ali e o que pretendiam com aquilo.
E enfim, acho que não estava por ali nada que não soubesses já, mas ficou em versão compilada... :)
Armindo, se me permites, uma pequena correcção: chamavam-se 'Mad Men' porque trabalhavam em publicidade (Ad) e os escritórios das agências situavam-se, normalmente, na Madison (Mad) Avenue, em Nova Iorque.
ResponderEliminarQuanto a episódios memoráveis (e a Ana sabe disto), destaco o sexto da terceira temporada, 'Guy Walks Into an Advertising Agency'. Ou o fabuloso 'The Suitcase', durante a quarta temporada. Embora não façam "andar" a narrativa principal, são dois episódios carregados de ironia, humor e autêntico 'espírito de época'. Enfim, já estou a suspirar pela quinta temporada... :)
Curiosamente e talvez por discutir tanto a série com o Samuel e o Jorge (que eram as duas pessoas que eu conhecia que viam a série), esta foi das críticas que menos me custou a escrever.
ResponderEliminarSegundo o primeiro episódio, o nome Mad Men era-lhes atribuído por serem os homens da Madison Avenue, não necessariamente por estarem no ramo do marketing e publicidade.
O episódio das eleições é bastante bom, mas se vamos falar de bebedeiras no escritório continuo a preferir a do corta-relva :)
Estava a escrever o meu comentário sem ter visto o teu :P mas acabámos por dizer o mesmo
ResponderEliminarGostei muito deste artigo e é mais uma força para seguir em frente a ver esta série. Vi o primeiro e gostei bastante. Agora, depois de ler isso das influências dos eventos mais importantes da segunda metade do século e de perceber que se vai seguir um bom desenvolvimento das personagens, só fiquei mais motivado.
ResponderEliminarÉ definitivamente uma boa série, e se gostaste do que viste na primeira, vais adorar quando chegar à terceira. A qualidade sobe na segunda e ainda mais na terceira, na quarta acho que estagnou ligeiramente mas por motivos de umas alterações que não revelo pois seriam spoilers.
ResponderEliminarObrigada :)
Ainda não terminei a 3ª temporada (I know... shame on me!) e a 4ª ainda está apenas no inicio no FOX Next.
ResponderEliminarRealemnte meti os pés pelas mãos na explicação do termo "Mad" na série, pois nem foi pela série que o descobri/relacionei... mas sim recordo-me que já havia lido (penso que no TVD) essa explicação de vir do local MADison Avenue.
É uma série que não sei evitar de dar atenção mas não a sigo exactamente pelo momento da exibição. Vou vendo conforme posso... e ainda ando a terminar outras (mas já vi a FlashForward toda... yes!).
Obs: o ep. do corta-relva lá dentro e o desfecho que implicou, foi mesmo... wtf?
Também apreciei bastante o factor do racismo e o quão acertado estavam aqueles dois na apresentação de "ideias inovadoras". Há muita situação cheia de sumo na série... e que faz por cativar com qualidade assinalável.
Desculpem, ambos, as minhas "calinadas" sobre Mad Men... enfim... sorry!
ResponderEliminarobrigada pela explicação de mad men... eu tentei ver o 1º episódio com esforço e não o terminei mas estava quase quase... deviam faltar 10 minutos ou assim mas parecia que nunca mais acabava. Ouvi falar tanto do filme mas para mim não me entretém.
ResponderEliminarEu se tivesse visto Mad Men na altura em que começou se calhar não tinha chegado tão longe. Mas o hype é tão grande actualmente que também me incitava a ver.
ResponderEliminarQueria dar os parabéns à Ana Alexandre por este artigo. Também estive para desistir de vez ao fim de uns 10 (!!!) episódios da season 1. Ficava perdido de todo quando enrolavam e enrolavam com os episódios centrados na família do Don Draper em vez de se focalizarem no que acontecia no escritório.
ResponderEliminarE não há dúvida que saiu a lotaria ao Pete Campbell quando casou com a Trudy. Ela é simplesmente adorável e também a minha personagem feminina preferida da série. (amo aquele tríptico de girafas estilizadas na casa deles!)
Para quem nunca viu Mad Men acreditem que andam a perder uma daquelas séries com tal qualidade que só aparecem "quando o rei faz anos", como se costuma dizer.
Muito obrigada :)
ResponderEliminarTambém acho que a série ganha quando se foca mais na empresa, tanto que na última temporada reduziram bastante as cenas passadas nas casas.
Quanto a Trudy espero que lhe dêem algum destaque, acho que é uma personagem que merece e tem sido mesmo muito subaproveitada (e sim, eu também adoro o raio das girafas, acho que toda a gente reparou nelas).
Ah, MAD MEN, MAD MEN... Pura e simplesmente a minha série de eleição. Não há nada igual em televisão e, tal como qualquer GRANDE série, nunca mais vai haver nada semelhante.
ResponderEliminarDesde o ambiente, desde à composição das personagens, desde ao diálogo riquíssimo e variado e especialmente interessante para cinéfilos que gostam da Golden Age de Hollywood (anos 40-60), desde a forma perfeita como captura o que é viver naquele tempo, com inúmeros shout-outs a eventos que mudaram a face do mundo de então... É uma série brilhante.
E adoro particularmente o facto das personagens serem tão complexas e tão amorais que tudo se lhes é permitido e nada que eles façam já me surpreende.
Se tivesse que avaliar por temporada, diria:
1ª temporada - B+
2ª temporada - A-
3ª temporada - A+
(principalmente graças a "Guy Walks Into Advertising Agency" (corta-relvas, anyone?), "The Gypsy and The Hobo" (cena icónica do vaso, anyone?), "The Grown-Ups" (JFK, anyone?) e o sublime (!) final da 3ª temporada, "Shut the Door, Have a Seat".
4ª temporada - A- (muito boa à mesma, mas um pouco aquém da 3ª, com muito mais foco em termos empresariais que caseiros)
Tal como outros aqui (como o Sam), eu fiquei vidrado na série desde o primeiro episódio e sim está lá no panteão com clássicos como The Sopranos, Six Feet Under e The Wire, as melhores séries deste virar do século/primeira década do século XXI.
Cumprimentos,
Jorge Rodrigues
Dial P For Popcorn
Eu gostava de ser como vocês e apanhar as boas séries logo à primeira, normalmente tenho de me habituar a elas.
ResponderEliminarQuanto às classificações de temporadas, concordo plenamente :) E acho que a cena do corta-relvas é simplesmente a melhor cena de sempre em Mad Men. O episódio da ameaça nuclear, o da morte do JFK e o da morte da MM acho que são uma óptima maneira de vermos o funcionamento da mentalidade da época, são dos mais interessantes a nível "histórico"
Excelente crítica, Ana. Há muito para dizer de Mad Men e muito já foi dito nos outros comentários e, por ter apenas visto as primeiras 2 temporadas, vou focar o meu comentário nas secretárias, porque foi isso que me prendeu a atenção à série.
ResponderEliminarÉ muito comum ver séries de advogados, médicos e afins. Mas quando uma secretária é retratada no cinema ou na TV normalmente é um estereotipo ou uma ideia de como acham que uma secretária é, o que me deixa sempre algo furiosa ou triste. Mad Men, apesar de se passar nos anos 60, retrata a profissão como ela realmente é, com o lado bom e também os seus podres. Sim o equipamento pode ter mudado (o que eu me ri com a excitação delas quando colocaram a Xerox no escritório) mas tudo o resto, na sua maioria, não mudou. A maioria das chefias continuam a ser masculinas, pouca ou nenhuma atenção é dada à opinião de uma secretária, a profissão ainda é maioritariamente feminina e percebe-se bem na série porquê. Acho que a Joanie, quando está a falar com a Peggie logo nos primeiros episódios diz que eles (chefes) procuram algo entre uma mãe e uma empregada e isso é também, infelizmente, ainda verdade. Mas acima de tudo, e é isto que eu adoro no retrato que é feito por Mad Men, não é uma profissão que é apresentada como algo detestável da qual se quer sair depressa, à excepção de Peggie, à qual lhe é dada uma oportunidade e ela aproveita.
Mais ainda, mostra um pouco de todas as facetas da profissão: ser desenrascada, pensar depressa, ter a quem recorrer para as mais variadas situações, ter um stock de coisas importantes na gaveta e saber mentir.
Tens toda a razão, normalmente as secretárias são representadas quase como um autómato, enquanto que em Mad Men nota-se bem a importância delas para que tudo corresse bem.
ResponderEliminarE claro, muito obrigada :)
Eu acho que tem muitas coisas subjetivas em Mad Men que se você não estiver muito atento, você perde. E é isso que faz a série tão inteligente e bem produzida. Hoje em dia os programas estão tão claros, entregando tudo mastigado para o espectador, Mad Men é um alívio aos que gostam de analisar a dramaturgia e entender personagens, contextos históricos e por aí vai...
ResponderEliminarSim, é verdade. Muitas séries caem no facilitismo com medo que as pessoas larguem por não quererem perder tempo a perceber e Mad Men não cedeu a isso, felizmente.
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