terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Coraline, por Andreia Ferreira



O filme "Coraline" estreou e não me trouxe muitas expectativas. Na verdade só o vi mais tarde em formato DVD numa noite em que o tédio me pedia um filme. A capa foi logo apelativa mas o facto de ser desenho animado desanimava-me, não me incentivava à sua visualização, receosa de que o enredo fosse demasiado infantil e se tornasse aborrecido. Não poderia estar mais enganada!
A partir do momento em que as personagens surgem no ecrã ao estilo mórbido de Neil Gaiman apercebi-me de que não eram desenhos animados dedicados, exclusivamente, a crianças.
Os planos são escolhidos meticulosamente talvez com o objectivo de instigar o medo. Refiro-me essencialmente ao acto contínuo que visualizamos logo no início (e depois ao longo do filme) dos botões a serem cosidos nas marionetas, no lugar dos olhos.
Para além da maldade presente "no outro lado da porta", os cenários em si são escuros, as florestas a oscilarem com o vento e a casa da Coraline situada no meio de nenhures.
Nas cenas em que as luzes se invertem, é de facto uma viragem de 90 graus, pois desta vez, em vez de levar o espectador para um ambiente terrorífico, leva-o a outro que lhe apresenta a loucura do "outro lado". Essa loucura é solidificada, para além das cores quentes a alternarem-se, pela música entusiástica.
Quanto ao propósito, à moralidade da narrativa fílmica em si, é interessante entrar na mente da jovem que se sente posta de parte pelos progenitores. O engano persistente do nome acentua o sentimento de indiferença que a leva a desejar encontrar quem os substitua. No "outro lado" ninguém a trata por CArOline e sim por COrAline, a forma correcta de proferir o seu nome.
O gato é também uma personagem importante. A sabedoria e a malvadez subjacente num animal que à partida é consciente dos erros de Coraline, a ajuda, a ampara com palavras sábias mas que ao mesmo tempo se deixa levar pelo instinto felino, matando os animais que estão abaixo dele na cadeia alimentar. O gato do "outro lado" é digno de menção no sentido de ser uma das personagens mais assustadoras do filme.
Confesso que não consigo ver esta história dirigida ao público infantil porque, à semelhança de Tim Burton, Neil Gaiman cria personagens extremamente inteligentes, histórias com temas vincadamente adultos mas com corpos animados.
Já eu, fã incondicional de Tim Burton, encontrei no autor, Neil Gaiman, outro ídolo, outra entidade que trabalha com um toque profundo.

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