Título original: The Social Network (2010)
Realização: David Fincher
Argumento: Aaron Sorkin e Ben Mezrich
Realização: David Fincher
Argumento: Aaron Sorkin e Ben Mezrich
Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield e Justin Timberlake
O que realmente interessa no filme são as personagens e a sua construção. A sociedade desorientada, o anti-herói, a deslocação social e o desejo de ser cool, de ser melhor, mas acima de tudo o desejo de integração. É assim como define e muito bem a música Creep, dos Radiohead, utilizada para o trailer do filme: «I wish I was special, But I'm a creep, I'm a weirdo, What the hell am I doing here?, I don't belong here». Aaron Sorkin foi muito inteligente na escrita do argumento e revelou-se com o mais competente e arrojado argumento adaptado do ano. Não obstante a competência do realizador, de toda a equipa técnica e do elenco, a verdade é que A Rede Social é o argumento. O seu encadeamento inteligente, repleto de jargão técnico e contemporâneo, é um rico retrato de uma sociedade por demais envolta na competição individual, colectiva, pessoal e profissional. É o ter que ser antes de todos os outros, ser o primeiro, o único, o oportunista, o atento, o calculista. É remar para chegar à frente de todos os outros (nem que seja por um milésimo de segundo), é o ritmo frenético e imparável do crescimento do conceito de social – nem que para isso se percam alguns valores.
A história da rede social mais famosa em todo o mundo contada pelas mãos de Aaron Sorkin e adaptada da obra “The Accidental Billionaires: The Founding of Facebook, A Tale of Sex, Money, Genius and Betrayal”, de Ben Mezrich, não passa na verdade de uma teoria. E por mais interessante e rica que possa ser a sua história e teoria da conspiração, não passa de especulação sobre a fundação do Facebook. Daí que a manipulação dos factos para fazer transparecer uma imagem adequada à da intenção crítica do argumento tenha junto dos não apreciadores do filme um efeito contrário ao idealizado. Tanto que o argumentista, a propósito da história, afirma que o argumento não pretende ser fiel à verdade, mas sim à narrativa, resultando numa grande verosimilhança com a realidade. É um argumento que desafia o espectador perante a cadência vertiginosa dos diálogos – repare-se na sequência inicial – assustador retrato da complexidade da sociedade actual. É um argumento que sem “acção” estimula o espectador como um thriller de acção.
A curiosa notícia que David Fincher – autor de obras icónicas como Fight Club (1999) ou Se7en (1995) – iria realizar um filme sobre o Facebook, nunca poderia deixar antever o soberbo filme que acabaria por criar. Não é o filme mais pragmático do realizador no que diz respeito aos gostos pessoais, não é o mais profundo, nem o mais icónico, não é o mais doce, nem o mais mind blowing, mas é sem dúvida um dos mais oportunos e competentes filmes da sua filmografia. De um tema aparentemente desinteressante, David Fincher fez um thriller como só ele sabe fazer, de uma coerência e brilhantismo únicas, de uma técnica indiscutível. E mesmo que se aponte o dedo a um dos trabalhos menos pessoais do realizador, a verdade é que o ritmo frenético do filme - intensificado pela brilhante e intensa montagem de Kirk Baxter e Angus Wall (The Curious Case of Benjamin Button) e a fotografia de Jeff Cronenweth (Se7en) – faz recordar as origens de David Fincher, com os seus trabalhos para videoclips. Tanto que a muito amada/odiada sequência de remo no filme – vulgo Henley Sequence – é a mais determinante dessas origens. Voltando ainda a essa sequência que tanta crítica recebeu dada a sua aparente desconexão com o restante filme, a verdade é que a mesma metaforiza a evidente temática do filme: a da competência intensiva e o estar sempre um passo à frente, que já referimos uns parágrafos acima. E falar de técnica, não estaria completo se não falássemos de uma das mais arrojadas bandas sonoras do cinema contemporâneo da autoria de Trent Reznor e Atticus Ross, que tanto merece crédito pelo brilhantismo do filme. Electrónica, irreverente, intensa e genial.
As personagens. Senhores, as personagens. Temos em A Rede Social um dos mais surpreendentes elencos do ano 2010 e que nos trazem das melhores composições do ano. São inadaptados – Mark Zuckerberg é o maior – mas que no fim de contas só querem se integrar nos restantes, passar despercebidos fazendo a diferença, mas também sendo os melhores. O jovem Jesse Eisenberg agarra na personagem, no pico da sua energia e inteligência e tem o seu melhor trabalho de sempre, até ao momento. De uma merecida nomeação para os Óscares não se livra – e talvez o vencesse se não fosse um peso pesado da interpretação competir na mesma categoria, Colin Firth. Mas na verdade, a grande revelação é Andrew Garfield que, não raras vezes, ofusca o trabalho do protagonista, na cadência calma e ponderada da personagem. Mais um inadaptado, neste caso alguém que não acompanhou o progresso e a tecnologia, na busca por uma amizade não equivalente.
Destaque ainda para o grande trabalho de Armie Hammer num esforço a dobrar, um surpreendente desempenho de Justin Timberlake como fundador do Napster e impulsionador do Facebook ou ainda a promissora interpretação de Rooney Mara que voltará a trabalhar com o realizador em The Girl with the Dragon Tattoo.
E é esta fluência de várias áreas (argumento, realização, elenco e técnica) que faz de A Rede Social maior do que prometia. É um oportuno retrato da geração contemporânea, um clássico instantâneo que permitirá a gerações vindouras um estudo sociológico da geração contemporânea. O seu estatuto ganhou-o de imediato e não será efémero, é um marco – não pela supérflua temática – mas pela construção da história. É uma previsão do que os jovens de hoje poderão ser amanhã, uma previsão mais pessimista que o oposto, mas ao mesmo tempo um alerta. A sociedade cresce a uma velocidade vertiginosa, à distância de um clique, à diferença de um gosto, à medida de uma actualização de mural. Um meio de globalização – onde podem não existir estradas, mas existe Facebook – onde se privilegia a interactividade instantânea, mas se descontinua o contacto humano. Um aviso sobre a importância das relações humanas e da nossa geração. Um trabalho brilhante.
Curiosamente o Facebook, por si só, é o menos importante no filme que se baseou na sua criação. O que de facto pode fazer os seus detractores, que desde o inicio criticaram a (in)utilidade deste filme, respirarem de alívio. No fim de contas, A Rede Social revela-se um importantíssimo estudo sociológico da geração contemporânea que acaba por ir bem mais além da Internet e da rede social que realmente modificou e condicionou os hábitos de milhões de pessoas por todo o mundo.
O que realmente interessa no filme são as personagens e a sua construção. A sociedade desorientada, o anti-herói, a deslocação social e o desejo de ser cool, de ser melhor, mas acima de tudo o desejo de integração. É assim como define e muito bem a música Creep, dos Radiohead, utilizada para o trailer do filme: «I wish I was special, But I'm a creep, I'm a weirdo, What the hell am I doing here?, I don't belong here». Aaron Sorkin foi muito inteligente na escrita do argumento e revelou-se com o mais competente e arrojado argumento adaptado do ano. Não obstante a competência do realizador, de toda a equipa técnica e do elenco, a verdade é que A Rede Social é o argumento. O seu encadeamento inteligente, repleto de jargão técnico e contemporâneo, é um rico retrato de uma sociedade por demais envolta na competição individual, colectiva, pessoal e profissional. É o ter que ser antes de todos os outros, ser o primeiro, o único, o oportunista, o atento, o calculista. É remar para chegar à frente de todos os outros (nem que seja por um milésimo de segundo), é o ritmo frenético e imparável do crescimento do conceito de social – nem que para isso se percam alguns valores.
A história da rede social mais famosa em todo o mundo contada pelas mãos de Aaron Sorkin e adaptada da obra “The Accidental Billionaires: The Founding of Facebook, A Tale of Sex, Money, Genius and Betrayal”, de Ben Mezrich, não passa na verdade de uma teoria. E por mais interessante e rica que possa ser a sua história e teoria da conspiração, não passa de especulação sobre a fundação do Facebook. Daí que a manipulação dos factos para fazer transparecer uma imagem adequada à da intenção crítica do argumento tenha junto dos não apreciadores do filme um efeito contrário ao idealizado. Tanto que o argumentista, a propósito da história, afirma que o argumento não pretende ser fiel à verdade, mas sim à narrativa, resultando numa grande verosimilhança com a realidade. É um argumento que desafia o espectador perante a cadência vertiginosa dos diálogos – repare-se na sequência inicial – assustador retrato da complexidade da sociedade actual. É um argumento que sem “acção” estimula o espectador como um thriller de acção.
A curiosa notícia que David Fincher – autor de obras icónicas como Fight Club (1999) ou Se7en (1995) – iria realizar um filme sobre o Facebook, nunca poderia deixar antever o soberbo filme que acabaria por criar. Não é o filme mais pragmático do realizador no que diz respeito aos gostos pessoais, não é o mais profundo, nem o mais icónico, não é o mais doce, nem o mais mind blowing, mas é sem dúvida um dos mais oportunos e competentes filmes da sua filmografia. De um tema aparentemente desinteressante, David Fincher fez um thriller como só ele sabe fazer, de uma coerência e brilhantismo únicas, de uma técnica indiscutível. E mesmo que se aponte o dedo a um dos trabalhos menos pessoais do realizador, a verdade é que o ritmo frenético do filme - intensificado pela brilhante e intensa montagem de Kirk Baxter e Angus Wall (The Curious Case of Benjamin Button) e a fotografia de Jeff Cronenweth (Se7en) – faz recordar as origens de David Fincher, com os seus trabalhos para videoclips. Tanto que a muito amada/odiada sequência de remo no filme – vulgo Henley Sequence – é a mais determinante dessas origens. Voltando ainda a essa sequência que tanta crítica recebeu dada a sua aparente desconexão com o restante filme, a verdade é que a mesma metaforiza a evidente temática do filme: a da competência intensiva e o estar sempre um passo à frente, que já referimos uns parágrafos acima. E falar de técnica, não estaria completo se não falássemos de uma das mais arrojadas bandas sonoras do cinema contemporâneo da autoria de Trent Reznor e Atticus Ross, que tanto merece crédito pelo brilhantismo do filme. Electrónica, irreverente, intensa e genial.
As personagens. Senhores, as personagens. Temos em A Rede Social um dos mais surpreendentes elencos do ano 2010 e que nos trazem das melhores composições do ano. São inadaptados – Mark Zuckerberg é o maior – mas que no fim de contas só querem se integrar nos restantes, passar despercebidos fazendo a diferença, mas também sendo os melhores. O jovem Jesse Eisenberg agarra na personagem, no pico da sua energia e inteligência e tem o seu melhor trabalho de sempre, até ao momento. De uma merecida nomeação para os Óscares não se livra – e talvez o vencesse se não fosse um peso pesado da interpretação competir na mesma categoria, Colin Firth. Mas na verdade, a grande revelação é Andrew Garfield que, não raras vezes, ofusca o trabalho do protagonista, na cadência calma e ponderada da personagem. Mais um inadaptado, neste caso alguém que não acompanhou o progresso e a tecnologia, na busca por uma amizade não equivalente.
E é esta fluência de várias áreas (argumento, realização, elenco e técnica) que faz de A Rede Social maior do que prometia. É um oportuno retrato da geração contemporânea, um clássico instantâneo que permitirá a gerações vindouras um estudo sociológico da geração contemporânea. O seu estatuto ganhou-o de imediato e não será efémero, é um marco – não pela supérflua temática – mas pela construção da história. É uma previsão do que os jovens de hoje poderão ser amanhã, uma previsão mais pessimista que o oposto, mas ao mesmo tempo um alerta. A sociedade cresce a uma velocidade vertiginosa, à distância de um clique, à diferença de um gosto, à medida de uma actualização de mural. Um meio de globalização – onde podem não existir estradas, mas existe Facebook – onde se privilegia a interactividade instantânea, mas se descontinua o contacto humano. Um aviso sobre a importância das relações humanas e da nossa geração. Um trabalho brilhante.
Hmmmm. Tenho que o ver, um dia destes. Classificação generosa. Parabéns pela crítica, gostei de ler.
ResponderEliminarCumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Obrigado, já estava nos rascunhos desde a antestreia do filme. LOL.
ResponderEliminarParece-me que não vais ser um acérrimo fã, pelo contrário. Mas espero pela tua opinião, quando chegar o DVD. :p
Faço as tuas palavras minhas. Espanto foi o que senti quando vi que o melhor filme da década de 2010-2019 poderia estar pela nossa frente, dez meses dentro da nova década.
ResponderEliminarTem aquele ar de grande clássico moderno - além de toda a perfeição inerente. Uma pessoa saliva até ao fim de antecipação e quando o fim chega, quer mais. É assim com os grandes filmes.
Exacto é um dos grande filmes de sempre, um clássico instantâneo.
ResponderEliminarGostei muito da crítica, apesar de discordar com uma parte fundamental. Excelente trabalho do Fincher, sem dúvida, que é complementado por uma montagem fulcral. Óptimas interpretações, que muito bem utilizam as excelentes linhas de diálogo. No entanto, acho mesmo que o principal problema do filme é o argumento. Cheguei ao fim a sentir que pouco se tinha passado - o encadeamento e a escolha dos eventos retratados
ResponderEliminarprometia seguir uma direcção em que não seguiu. Em vez de ir crescendo, o filme foi decrescendo; senti muito a falta de um climáx.
ResponderEliminarCurioso, sou totalmente da opinião contrária. Embora possa preferir outras histórias, acho que é o argumento mais bem escrito do ano...
ResponderEliminar