terça-feira, 15 de março de 2011

Cherry Tree Lane, por Carlos Antunes


Título original: Cherry Tree Lane
Realização: Paul Andrew Williams
Argumento: Paul Andrew Williams
Elenco: Rachael Blake, Tom Butcher e Jumayn Hunter

Apesar de não ultrapassar a hora e um quarto de duração, Cherry Tree Lane consegue definir o essencial do quem e do porquê de um casal se ver sujeito à violência exercida por um trio de jovens violentos.
Um casal que está preocupado com os companheiros que o filho ltem igados ao mundo da droga, mas que prefere silenciar a discussão essencial que devia ter acerca disso mesmo.
Desse grupo social temido mas colocado num canto silencioso da consciência nasce o terror que lhes entra em casa.
O que o autor do filme depois se decide a mostrar é o comportamento direccionado à violência dos três jovens e não a violência em si.
O acto de agressão é simples de executar, mecânica corporal pura. A sustentação dessa acção no período de espera é que parece difícil.


Mas no seio do grupo executante há quem tenha consciência, há quem reaja apenas a ordens e há quem tome o gosto pela violência e a comece a executar variantes daquela que está planeada apenas para passar o tempo.
Seja como for, acabam por se revelar miúdos a cederem rapidamente a um grau de violência pouco comum mas igualmente mal pensado.
A sua inépcia fica patente em pequenos apontamentos, seja a falta de conhecimento para lidar com um comando ou um telefonema para a mãe feito às escondidas.
As personalidades dentro do grupo são funcionais para mostrar que não há forma de alguém tomar posição e travar o erro a partir do momento em que está dominado pelos seus pares.
A facilidade de influência e a inconsciência facilitam a captação de elementos para a violência mas perpetuam a dependência de um modelo dominante que serve, depois, como mau exemplo.


Se não parece haver um grau-limite para a violência que essa geração irresponsabilizada é capaz de cometer, há por outro lado um limite para a violência que a restante sociedade, personificada pelo casal, é capaz de admitir antes de reagir.
O embate de consciências dentro de uma mesma sociedade acaba por ser um dos temas do filme.
Ainda que o filme, através do seu fim em suspenso, sugira a facilidade da inversão da dinâmica de violência de forma que atravesse estratos sociais, não se sente que ele tome isso como sugestão global do que está a relatar.
Por aí o filme não atinge um patamar mais elevado, porque a sua afirmação ideológica é casual, urdida pelo espectador entre os pormenores do argumento sem que este seja (discretamente) trabalhado como indicador da situação-limite que se vive na sociedade britância.


Com ou sem tese, aquilo que se reconhece é a capacidade do autor extrair um realismo tenso do filme.
A espera decorrendo em tempo real e limitada a uma sala onde decorre um convívio pouco ortodoxo entre agredidos e agressores, sublinha a angústia e a incerteza do desfecho que aguarda estas pessoas.
Pessoas pois quase não nos parecem personagens tal é o grau de envolvimento dos actores que acabam por dar uma vida invisível e mais complexa aos seus actos limitados no tempo e no espaço.
Se a isto se adiccionasse um traço mais determinado do argumento Cherry Tree Lane seria essencial como retrato extremo da sociedade actual



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