sexta-feira, 8 de abril de 2011

Perigo à Espreita, por Tiago Ramos


Título original: The Resident (2011)
Realização: Antti Jokinen
Argumento: Antti Jokinen e Robert Orr
Elenco: Hilary Swank, Jeffrey Dean Morgan e Christopher Lee

Quando apresentou o seu filme na sessão de abertura do Fantasporto 2011, o realizador finlandês Antti Jokinen, além de um visível orgulho de sonho cumprido, mencionou que The Resident (ou Perigo à Espreita como passou a ser chamado em Portugal) que embora tenha conceito de filme europeu, é um filme de Hollywood, quase como quem pede desculpa por aquilo que os espectadores iam ver. Vendido nos Estados Unidos à custa da imagem da sua protagonista, Hilary Swank, o filme acabou por sair directamente em DVD, com algumas poucas salas de cinemas norte-americanas, consequência de críticas arrasadoras ao filme.


Muitos destes factos, contribuíram para que o filme fosse visto com expectativas bastante reduzidas, o que talvez tenha contribuído para que a reacção pessoal ao filme não fosse tão negativa quanto esperava. Antti Jokinen tem um historial como realizador de videoclips, evidente através de vários aspectos técnicos ao longo do filme, como os enquadramentos, os planos e a edição, dando a Perigo à Espreita imediatamente uma estrutura comercial. Mas é evidente que – facto que o realizador também deu a entender numa conferência de imprensa – a pressão dos produtores norte-americanos da Hammer influenciou também a sua concepção final. Tudo isto para tentar justificar algo que talvez não seja justificável, mas na verdade o conceito global do filme funciona bem como fonte de entretenimento.

A começar pela sequência de créditos iniciais bem construída e capaz de criar uma ambiência interessante. E de facto, o realizador evidencia algumas referências no campo do thriller e do terror, como o caso de Alfred Hitchcock e em algumas das cenas esse ambiente é bem recriado, à conta de uns competentes jogos de luz e sombra e uma tensão bem construída. A fotografia do mexicano Guillermo Navarro (O Labirinto de Fauno) é de longe o que de melhor poderemos ver no filme. Pena que isso não passe de momentâneo, acomodando-se maioritariamente no medíocre, com recurso a contextos e cenas clichés e habituais neste tipo de cinema comercial, numa história que poucas vezes nos soa a genuína, acabando por criar um ritmo fraco à história.


Se o argumento também não permita à história chegar a um nível mais original, alguma parte da culpa para estes clichés sucessivos que o filme sofre pende também para o elenco ou para o seu fraco aproveitamento. Hilary Swank, embora dando nome comercial a esta produção que de outra forma seria mais esquecida, nunca foi uma grande actriz (não obstante os dois Óscares que tem em casa). Em Perigo à Espreita não passa de uma prestação mediana, sem grande fulgor e força. Jeffrey Dean Morgan, que já tinha contracenado com a actriz em P.S. I Love You (2007), foi por sua vez um tremendo erro de casting. Sem revelar muito da história, a verdade é que o actor não é convincente na personagem em nenhuma das situações, deitando por terra o espírito genuíno que o filme pretendia trespassar para os seus espectadores. O seu fraco desempenho e postura inadequados para a história em questão põe em causa a verosimilhança da história. Já com Christopher Lee – um dos maiores actores da actualidade – ocorreu o inverso, mas o argumento de Antti Jokinen e Robert Orr (Underworld: Rise of the Lycans) desaproveita o seu carisma e talento, de uma forma absolutamente inacreditável.

Esse é o maior problema do argumento: o facto de não saber aproveitar o seu elenco e alguns bons valores de produção. E se em dada altura consegue atingir um nível de qualidade e interesse desejáveis, rapidamente os perde, culminando com uma sequência final que estraga tudo o que conseguiu criar de bom, por alguns exageros de vários tipos. Contudo, diríamos que muito por culpa das fracas expectativas geradas para este filme, Perigo à Espreita nunca chega a ser a verdadeira desgraça que todos estaríamos à espera.


Classificação:

2 comentários:

  1. Como já tinha referido, os créditos iniciais dão 10-0 ao resto do filme... Vá, alguns aspectos técnicos escapam mas de resto é mesmo pobrezinho e pouco credível...

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  2. Assino por baixo Filipe, o que à primeira vista tinha tudo para dar certo (selo "Hammer", Hilary Swank, Christopher Lee) culminou num filme do mais básico com um argumento completamente cliché e sem interesse. Alias, "as revelações" foram feitas muito antes do tempo a meu ver.

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