Realização: Vicente Alves do Ó
Argumento: Vicente Alves do Ó
Um dos maiores problemas quando estamos perante Quinze Pontos na Alma é a sua análise. Especialmente porque não é fácil olhar para o filme como objecto singular sem, contudo, ter consciência do seu contexto no panorama do cinema português. Não que se deva ser mais condescendente perante uma obra em português, dados os (normalmente) baixos padrões e expectativas perante um filme nacional, mas especialmente porque esse mercado é usualmente pontuado com o chamado cinema de autor ou no espectro oposto, uma obra de tal forma inqualificável, dado o verdadeiro lixo que apresenta ser. É óbvio que nesses dois campos opostos existe um meio termo que por vezes faz de algumas obras um objecto razoável. Quinze Pontos na Alma não está, porém, enquadrado em nenhum desses campos. E aí figura a verdadeira arma da primeira longa-metragem do argumentista Vicente Alves do Ó: a sua singularidade no espaço em que se insere.
De notar de imediato o seu amor pelo Cinema clássico norte-americano, fruto de inspirações de obras clássicas de Joseph L. Mankiewicz, Douglas Sirk ou até Alfred Hitchcock. Se nem sempre essas referências resultam bem ao longo do filme há que destacar a sua inclusão num objecto de glamour raro em Portugal. Não que esse sentido estético ou esse gosto pelo cinema sejam suficientes para fazer o filme aquilo que poderia realmente ser, porque infelizmente alguma inexperiência e essa ânsia de mostrar as suas influências toldam o objectivo final de Quinze Pontos na Alma. Pelo menos o objectivo que é mostrado ao público, porque nota-se uma agenda pessoal no argumento que nos é entregue, íntima do realizador/argumentista e que nunca tem forças suficientes para ser claramente revelada ao espectador, porque é a sua história e não a nossa.
A inocuidade do argumento, potencial e conceptualmente interessante, é o calcanhar de Aquiles do filme. Embora facilmente entremos na espiral descendente e obsessiva da protagonista, com semelhanças a Vertigo (1958), faltam alguns pontos do título para fazer do argumento uma obra mais fluída e consistente e não uma peça incompleta e com bastantes remendos. Um argumento que se perde na falta de personalidade e de objectivo, preso na ideia surrealista do seu conceito, raras vezes ganhando um sentido consistente.
Porém esta obra de Vicente Alves do Ó é um interessante exercício de estilo, raro no nosso país e por isso deslumbrante. Nos seus planos limpos e inteligentes, na sua fotografia brilhante (Luís Branquinho), nos cenários sumptuosos e guarda-roupa glamouroso (Paulo Gomes) ou até na banda sonora de Pedro Janela, Quinze Pontos na Alma assume outra dimensão. Rapidamente entramos numa obra que facilmente se situaria nos anos 40 do cinema americano rodeada de subtileza e bom gosto. Pena que por vezes a banda sonora não corresponda exactamente à tensão vivida no momento ou que todo o excesso técnico resulte numa sensação de artificialismo. Pequenos pormenores que rapidamente são desculpados - e aqui sim, assumimos um tom condescendente - perante a originalidade e arrojo que Vicente Alves do Ó introduziu no cinema português da actualidade. Pela paixão do cinema que se acende a cada frame do filme, mesmo que por vezes ande na barreira ténue entre o pretensiosismo e a sensibilidade. Sentimentos ambíguos despertados entre a intenção, a sua condução e o produto final. Especialmente porque por vezes em Quinze Pontos na Alma eles soam desfasados.
O trabalho de actores é também um dos pontos altos do filme. Rita Loureiro tem provavelmente aqui uma das suas melhores interpretações de sempre. Obsessiva, com tanto de apatia como de condição frenética, tanto movida a uma frieza gélida como por uma paixão acalorada. Um trabalho de actor soberbo e que garante alguns pontos ao filme, mesmo quando o argumento não consegue acompanhar a protagonista. O mesmo se passa com Dalila Carmo, competente na sua prestação, mas perdida no vazio da sua personagem que teria bastante para dar ao filme.
Quinze Pontos na Alma é uma obra difícil de classificar e definir, meio indecisa entre intenções, meio desequilibrada entre a exímia ambiência, competência técnica e sensibilidade e o argumento a espaços negligenciado e anulado por esse sentido estético. Mas como primeira obra não é descartável e deixa antever um potencial interesse em Vicente Alves do Ó como cineasta.
De notar de imediato o seu amor pelo Cinema clássico norte-americano, fruto de inspirações de obras clássicas de Joseph L. Mankiewicz, Douglas Sirk ou até Alfred Hitchcock. Se nem sempre essas referências resultam bem ao longo do filme há que destacar a sua inclusão num objecto de glamour raro em Portugal. Não que esse sentido estético ou esse gosto pelo cinema sejam suficientes para fazer o filme aquilo que poderia realmente ser, porque infelizmente alguma inexperiência e essa ânsia de mostrar as suas influências toldam o objectivo final de Quinze Pontos na Alma. Pelo menos o objectivo que é mostrado ao público, porque nota-se uma agenda pessoal no argumento que nos é entregue, íntima do realizador/argumentista e que nunca tem forças suficientes para ser claramente revelada ao espectador, porque é a sua história e não a nossa.
A inocuidade do argumento, potencial e conceptualmente interessante, é o calcanhar de Aquiles do filme. Embora facilmente entremos na espiral descendente e obsessiva da protagonista, com semelhanças a Vertigo (1958), faltam alguns pontos do título para fazer do argumento uma obra mais fluída e consistente e não uma peça incompleta e com bastantes remendos. Um argumento que se perde na falta de personalidade e de objectivo, preso na ideia surrealista do seu conceito, raras vezes ganhando um sentido consistente.
Porém esta obra de Vicente Alves do Ó é um interessante exercício de estilo, raro no nosso país e por isso deslumbrante. Nos seus planos limpos e inteligentes, na sua fotografia brilhante (Luís Branquinho), nos cenários sumptuosos e guarda-roupa glamouroso (Paulo Gomes) ou até na banda sonora de Pedro Janela, Quinze Pontos na Alma assume outra dimensão. Rapidamente entramos numa obra que facilmente se situaria nos anos 40 do cinema americano rodeada de subtileza e bom gosto. Pena que por vezes a banda sonora não corresponda exactamente à tensão vivida no momento ou que todo o excesso técnico resulte numa sensação de artificialismo. Pequenos pormenores que rapidamente são desculpados - e aqui sim, assumimos um tom condescendente - perante a originalidade e arrojo que Vicente Alves do Ó introduziu no cinema português da actualidade. Pela paixão do cinema que se acende a cada frame do filme, mesmo que por vezes ande na barreira ténue entre o pretensiosismo e a sensibilidade. Sentimentos ambíguos despertados entre a intenção, a sua condução e o produto final. Especialmente porque por vezes em Quinze Pontos na Alma eles soam desfasados.
O trabalho de actores é também um dos pontos altos do filme. Rita Loureiro tem provavelmente aqui uma das suas melhores interpretações de sempre. Obsessiva, com tanto de apatia como de condição frenética, tanto movida a uma frieza gélida como por uma paixão acalorada. Um trabalho de actor soberbo e que garante alguns pontos ao filme, mesmo quando o argumento não consegue acompanhar a protagonista. O mesmo se passa com Dalila Carmo, competente na sua prestação, mas perdida no vazio da sua personagem que teria bastante para dar ao filme.
Quinze Pontos na Alma é uma obra difícil de classificar e definir, meio indecisa entre intenções, meio desequilibrada entre a exímia ambiência, competência técnica e sensibilidade e o argumento a espaços negligenciado e anulado por esse sentido estético. Mas como primeira obra não é descartável e deixa antever um potencial interesse em Vicente Alves do Ó como cineasta.
Classificação:
Parece que a tua opinião não difere muito da minha, assim no geral. É interessante mas incerta e duvidosa quanto à concretização dos seus intentos. Penso que só discordamos por completo no que é relativo ao elenco, nomeadamente Rita Loureiro, que para mim está péssima. Gostei da crítica, muito coerente, e da referência a "Vertigo".
ResponderEliminarObrigado. De facto, discordamos aí. Embora eu não goste particularmente da actriz, achei que de facto ela carregou o filme aos ombros.
ResponderEliminarEspero ter a oportunidade de assistir Quinze pontos aqui no Brasil.
ResponderEliminarBem, pelo que o Vicente disse no FB, talvez seja possível.
ResponderEliminarVicente ,sigo-te á distancia e em silêncio,com miuta alegria por ver que seguiste intensivamente o teu sonho e que sem deixares de ser quem és,és o que querias ser. PARABENS.
ResponderEliminarA tia distante.