quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Solidão dos Números Primos, por Carlos Antunes


Título original: La solitudine dei numeri primi
Realização: Saverio Costanzo
Argumento: Paolo Giordano e Saverio Costanzo
Elenco: Alba Rohrwacher, Luca Marinelli e Isabella Rossellini

Soube desta adaptação em Outubro passado, ao passar por Veneza. Um poster com o título e um fundo a preto onde se viam alguma folhas fora o suficiente para me intrigar.
Mas também para me confundir, pois este não é um material evidente para ser adaptado ao cinema.


O livro lido já há algum tempo ficou comigo pelos silêncios, pelas ausências que diziam tanto sem nomear nada.
De facto é da solidão e dos desencontros que o livro fala. De um vazio ocasional irreparável senão pela beleza de si próprio.
O filme vagueia entre esses momentos delicados e uma opressão sonora, um trabalho exagerado de manipulação emocional que não se ajusta.


Há algumas belas imagens, compostas com grande cuidado, mas são visões de um cinema à procura de afirmação, de identidade e, sobretudo, de maturidade.
Um cinema que não precisasse de abusar de tecnicismos e pudesse, por ser confiante em si mesmo, dar-se ao luxo de olhar o vazio e extrair dele uma visão.
Tal só é feito já mesmo no final, numa ousadia que não o chega a ser, porque já só vem dar uma nota de belo decaimento à história que termina.


A compensação disto está em Alba Rohrwacher, uma cara (primeiro) e uma presença (depois) cada vez mais essencial entre o cinema italiano que surge entre nós. O seu esforço é preciso e nada aparente. O peso que perdeu para o papel não diminui por um segundo a sua presença.
Já Luca Marinelli está lá como se não estivesse. O seu papel é, em parte, isso mesmo. Mas o actor estreante não tem com que preencher a sua ausência. A escolha foi desacertada para contraponto de Alba Rohrwacher.


Já as suas versões jovens primam pelo inverso. Vittorio Lomartire é um Mattia intenso de olhar e alma ausente enquanto Arianna Nastro é apenas um corpo abandonado.
O filme esvazia-se onde não deve e não preenche os espaços correctos. E, ainda assim, tem os seus méritos e é muitas vezes mais do que agradável de seguir.



1 comentário:

  1. Denise Silva Arantes17 de abril de 2014 às 02:58

    Gostei muito da trilha sonora. Músicas bem colocadas em cada cena; se alguma me angustiou foi porque era feia mesmo, como a música na festa de viola, rsrsrsrsr! Quanto às outras, me angustiaram apenas em complemento pelo que sugeria a cena, incômodo, pois o filme trata muito de questões incômodas, como o estrago que pais podem fazer em seus filhos. E também, o incômodo sempre dentro de Alice e Mattio; por isso gostei da trilha.

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