sábado, 23 de março de 2013

América, por Carlos Antunes


Título original: América
Realização: João Nuno Pinto
Argumento:
Luísa Costa Gomes, Melanie Dimantas e João Nuno Pinto
Elenco: Chulpan Khamatova, Fernando Luís e María Barranco

A conjugação do drama da alma russa e da comédia do desenrascanço português é o que torna América num filme diferente do que o cinema português nos tem trazido. Mesmo se é pela dificuldade da tarefa que o filme não é mais bem sucedido.
Essa inusitada combinação traz amores e traições, traz tristeza e risos, traz o realismo (e desesperança) da busca da legalização por qualquer meio e o absurdo da mão de Deus que faz tombar um barco sobre o telhado de uma casa.
Trata-se de uma história de crime e família - que costumam andar juntas - em que o desespero dos emigrantes que Portugal vai acolhendo (recolhendo?) encontra o chico-espertismo do pequeno criminoso que se julga preparado para ser um mafioso.
A família que se cria, quer através do crime quer através do casamento, não tem mais fronteiras, a não ser a da eterna dificuldade de relação entre duas pessoas.
Não tendo a ligação perfeita entre os risos e a angústia, tem momentos muito conseguidos de alheamento do pequeno criminoso perante a nova felicidade da sua mulher, porque se julga que se concedeu a vida suficiente a quem se acolhe quando anseiam por mais.
E do cruzamento entre Rússia e Portugal vale ainda a pena assinalar o talento de Chulpan Khamatova e Fernando Luís. Ela poderá fazer dizer tudo o que queira com a sua expressão e ele volta ao cinema para nos recordar a qualidade do que a televisão tem banalizado.
Com João Nuno Pinto eles ficam bem servidos de belos planos, igualmente funcionais. Nuno Pinto tem olho para o enquadramento, mas não deixa de utilizar a imagem para reforçar os sentimentos das suas personagens.
Um início prometedor deste realizador, sobretudo com a saudosa presença final de Raúl Solnado.


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