domingo, 22 de maio de 2011

Essential Killing, por Carlos Antunes


Título original: Essential Killing
Realização:
Jerzy Skolimowski
Argumento: Jerzy Skolimowski e Ewa Piaskowska
Elenco: Vincent Gallo, Emmanuelle Seigner e Zach Cohen

Este filme não é uma revelação imediata. Precisa de maturar dentro do público para revelar a sua verdadeira intenção.
A sua evidência é a de ser um filme de perseguição, resistência de longo fôlego de um prisioneiro afegão em fuga de uma prisão americana de localização desconhecida.
Vincent Gallo cumpre essa perspectiva com enorme competência, como um animal, todo ele representando através da fisicalidade (até porque está impedido de dizer uma única palavra ao longo de todo o filme).
A sua queda no abismo existencial acelera a cada momento até chegar ao ponto em que ele é capaz de roubar leite directamente dos seios de uma recém-mãe.
O grau de resiliência da personagem de Gallo é assombrosa, tão assombrosa quanto a decadência a que qualquer ser humano está sujeito quando é subjugado e roubado dos seus direitos e humanidade.
Falta, então, falar daquilo que não é imediatamente evidente e que fortalece o filme, mostrando a sua verdadeira identidade política quando estávamos prestes a desconsiderá-lo.
Isso é a interrupção do percurso em queda por uma boa samaritana que o acolhe e o trata antes de o enviar de novo no seu caminho.
Um caminho que termina com a sua morte, é verdade, mas que traz uma nova dignidade àquele homem.
A mensagem global diz que há um povo abusado pela política americana, que é defendido pelos mais ou menos anónimos humanistas, apenas para ser enviado para a sua vida de meios insuficientes e esquecido mal o seu tempo de antena termina.
Esse povo para o qual se continua a dar apenas a atenção que pacifique as boas consciências, tem uma dignidade muito superior à que conseguimos perceber.
Por isso é que este personagem vai morrer montado num imaculado cavalo branco, como um rei!


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