segunda-feira, 30 de maio de 2011

Les Amours Imaginaires, por Carlos Antunes



Título original: Les Amours Imaginaires
Realização: Xavier Dolan
Argumento: Xavier Dolan
Elenco: Xavier Dolan, Monia Chokri e Niels Schneider

Les Amours Imaginaires esteve, durante bastantes dias, perto de ganhar o prémio do público no festival e eu consigo dizer exactamente porquê.
Por ser um filme de uma juventude cool e de tendências (sexuais mais evidentes, mas não exclusivas) soltas e envolventes. Por ser um agradável filme à conta de escolhas musicais inteligentes, filtros de cor aplicados a contento e câmara lenta a aproximar-se do abuso. Por ser um filme belo, ao fim e ao cabo, mesmo que a espaços.
Dito isto, Les Amours Imaginaires não tem nada de tão singular como isso. Trata-se de um triângulo amoroso de um casal de amigos atraídos pelo mesmo rapaz. Casal que se afasta à medida que a inveja toma conta do tratamento que empregam um com o outro. E casal que se transforma, sem critério, na imagem dos ídolos datados da sua nova paixão, sem que isso contribua para que ele os olhe mais de forma acesa.
Quando a história se torna interessante, já Nicolas recusou tanto Francis como Marie, acaba tudo. Com Nicolas a tentar recuperar as amizades (que o preenchiam ou que eram o seu verdadeiro amor, ficamos sem saber) e com a promessa do mesmo círculo de vício para Francis e Marie que olham um novo Nicolas ao longe.
As verdadeiras dores dos três personagens tão vagos começariam a ver-se aí. As suas transformações, acidental a de Nicolas e intencionais dos restantes, em objectos de desejo ao gosto do outro são mera introdução mas acabam a ocupar o filme todo.
Ou quase, já que de permeio com o seu triângulo amoroso inconcretizável, o filme lança uma série de testemunhos filmados ao jeito de confissão a um psicólogo.
Alguns dos testemunhos - ou daquilo que conseguimos retirar dos seus fragmentos - são mais interessantes do que a história central. Outros são banais. Mas todos eles são estranhos à narrativa e a sua presença é uma forma fácil de acumular experiências que comprovem a epígrafe, "A única verdade é o amor para lá da razão.".
Só que nenhuma personagem no filme, apesar do seu comportamento tonto, está para lá de um comportamento razoável que passasse despercebido em sociedade.
Xavier Dolan tem talento para realizador mas ainda não tem um critério para o que fazer com esse talento - a citação da Nouvelle Vague chega a ser exagerada. Já como argumentista beneficiaria de uma ajuda externa.
Será um nome a seguir, mas a semi-apoteose precoce que vai recebendo parece exagerada e contraproducente.



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