domingo, 29 de maio de 2011

Matou a família e foi ao cinema, por Carlos Antunes



Título original: Matou a Família e foi ao Cinema
Realização: Júlio Bressane
Argumento: Júlio Bressane
Elenco: Márcia Rodrigues, Renata Sorrah e Antero de Oliveira

De Bressane apenas conhecia dois dos seus filmes mais recentes e, possivelmente, dos mais visíveis e evidentes, Dias de Nietzsche em Turim e Cleópatra.
Fui ver este, um dos seus primeiros, exactamente a propósito do seu título, um dos mais sugestivos e intrigantes para qualquer cinéfilo.
O que se vê é a efusividade da violência em pequenos casos de crimes passionais embora cada um com uma vertente diferente.
Os segmentos não se cruzam, não se ligam, a não ser por culpa de um segundo plano narrativo que se intromete e vem confundir as contas do que o espectador julga esta a seguir.
Um filme dentro do filme, intitulado Perdidas de Amor, que acaba por ser citado por outras personagens que se revêm no filme mas que parecem ser as do próprio filme.
É a metalinguagem da metalinguagem e o desafio maior à expectativa da narrativa fácil. A aceitação de quais os planos que formam a parte central de Perdidas de Amor e quais os que nos encaminham para esse outro filme não é fácil.
Mas Bressane vai mais longe, pois com o filme dentro do filme está a filmar cenas que abordam o espectador, que são interpretadas apontando ao plano que está de fora da tela.
Só há uma comparação possível para Bressane neste filme, mesmo que o seu método de "filmagem em caos" seja de uma estética inigualável por qualquer outro cineasta que me recorde. Essa comparação é com Michael Haneke e o seu Funny Games, um exercício tão radical como este.
Uns chamavam-lhe confuso, outros chamavam-lhe desafiante. Todos se lembrariam dele muito depois da saída da sala.




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