domingo, 19 de junho de 2011

Banksy - Pinta a Parede!, por Carlos Antunes


Título original: Exit Through The Gift Shop
Realização: Banksy
Elenco: Banksy, Thierry Guetta e Space Invader

Documentário ou falso-documentário. A resposta - que, ao que parece, até já existe para ser encontrada - é menos relevante do que o tratado de intenções do filme.
Intenções que são múltiplas e que nem sempre joguem bem umas com as outras.
De início o filme olha para diversos actos de intervenção de street art numa espécie de mostra comandada pelo gosto de Bansky e pelo acesso que a eles tinha Thierry Guetta.
Depois, o filme acaba por fazer, com certo humor e bastante ironia, a exposição do estado actual de uma arte que se queria subversiva mas que se vende como qualquer outra.
Esta segunda parte do filme é a mais interessante seguindo o percurso do sujeito obsessivo que seguia qualquer artista de rua até ser uma estrela ainda antes de ter uma única exposição.
Temos direito a presenciar a evidência de que o mundo da arte é fácil, bastando uma acção de marketing ousada para se ser um artista de muitos milhares de dólares, sendo as ideias originais secundárias nesse processo.
Mas Bansky, talvez por estar demasiado próximo do assunto, não se arrisca a filmar a própria perda de significado da street art, que conseguiu saltar da intervenção de rua para a exposição em galeria, ao mesmo tempo trocando a ilegalidade pela fama e o significado pelo pagamento.
O trabalho de Bansky tem sido do mais arriscado nesse campo, sobretudo pelo que fez na Faixa de Gaza, mas o seu novo ataque aponta-se mais à instituição da Arte e não há outra metade do problema, os (supostos) artistas que querem fazer parte dessa instituição.
A questão mais importante sobre a própria construção do filme é que, para chegar à segunda metade do filme e aquela que é verdadeiramente irónica, é preciso que o arco da personagem (real) de Thierry Guetta se conclua.
Embora ele seja uma personagem interessante, todo o período em que ele regista obsessivamente a sua vida e a execução da arte de rua de uma série de indivíduos serve quase em exclusivo para mostrar a street art e apenas introduzir o homem que se tornará Mr. Brainwash.
Era muito mais interessante tentar montar a própria vida (igualmente filmada) de Guetta para tentar explorar a razão pela qual alguém que filma tudo e depois o monta (no filme Life Remote Control) como algo que Bansky classifica de uma sucessão horrífica de trailers de imagens de televisão em zapping violento. Como também dirá Bansky, talvez Guetta seja apenas "alguém com problemas mentais e uma câmara" e valia a pena tentar descobrir se isso é assim ou não.
Se a sociedade - e, em boa parte, a alta sociedade - torna um sujeito assim num artista de topo, não estará a loucura muito mais espalhada? A resposta não está aqui.
O filme quis mostrar um pouco demais de uma vez só, acabando por mostrar um pouco menos do que se esperava, senão mesmo do que devia.
Fica a intenção e algum divertimento na observação deste pedaço de arte que é uma intervenção crítica mas incompleta.


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